Oposição aponta crime de responsabilidade no ataque de Bolsonaro a Barroso; juízes federais saem em defesa do ministro

Presidente afrontou ministro do STF, afirmando que ele carece de "coragem moral", por conta da determinação para o Senado instalar a CPI da Covid

Foto: Marcos Corrêa/PR
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Após o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, divulgar nota respondendo às ofensas de Jair Bolsonaro contra seu colega de toga, o ministro Luís Roberto Barroso, a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) também divulgou texto condenando a atitude do presidente.

Pela manhã, Bolsonaro afrontou Barroso dizendo que “que falta coragem moral e sobra ativismo judicial" ao magistrado. A fala foi feita como forma de responder à determinação do ministro para que o Senado instale a CPI da Covid, que visa investigar omissões e ações do governo no combate à pandemia.

"A decisão judicial criticada [de instalação da CPI da Covid] apenas atende, em caráter liminar, ao requerimento em mandado de segurança apresentado por senadores da República ao STF. A Ajufe não admite qualquer tentativa de interferência na atuação do Poder Judiciário, que deve se pautar pela Constituição Federal e pelas leis do país. A postura do Presidente da República é, portanto, absolutamente incompatível com a independência judicial e com o respeito que deve sempre existir entre os representantes dos Poderes de Estado", diz trecho da nota dos juízes federais.

"Assim agindo, o Presidente da República apenas gera transtorno, desgaste e polêmica entre as instituições, agravando a crise que o Brasil e o mundo atravessam e dificultando, com isso, o retorno ao estado de normalidade", completam.

Em nota conjunta, líderes da oposição na Câmara e no Senado também repudiaram a atitude de Bolsonaro, apontando ainda crime de responsabilidade por parte do presidente.

"No Estado Democrático de Direito em que se constitui nossa República (art. 1º CF), ataques e ameaças à independência do Poder Judiciário são inadmissíveis. Tal conduta é, a tal ponto grave, que foi tipificada como crime de responsabilidade pela lei 1.079/1950, em seu artigo 6º, VI: 'usar de violência ou ameaça, para constranger juiz, ou jurado, a proferir ou deixar de proferir despacho, sentença ou voto, ou a fazer ou deixar de fazer ato do seu ofício'", escreveram os líderes.

"Bolsonaro está alimentando uma nova crise institucional com o STF para tentar desviar o foco da CPI da Covid e das investigação pelo Congresso Nacional dos crimes que ele comete na pandemia. O ataque do presidente ao ministro Barroso, que apenas determinou o cumprimento é sinal de desespero e confissão de culpa", disse o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ).

Confira, abaixo, a íntegra das duas notas.

Nota da Ajufe

A Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), entidade nacional representativa de magistrados e magistradas federais do Brasil, vem a público repudiar as recentes declarações do Presidente da República Jair Bolsonaro contra o ministro do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, que determinou ao Senado Federal a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar as ações do Governo Federal na pandemia.

A decisão judicial criticada apenas atende, em caráter liminar, ao requerimento em mandado de segurança apresentado por senadores da República ao STF.

A Ajufe não admite qualquer tentativa de interferência na atuação do Poder Judiciário, que deve se pautar pela Constituição Federal e pelas leis do país. A postura do Presidente da República é, portanto, absolutamente incompatível com a independência judicial e com o respeito que deve sempre existir entre os representantes dos Poderes de Estado.

Eventuais insatisfações devem ser combatidas por meio dos instrumentos previstos nas leis processuais, não com vociferação de impropérios e ilações contra o julgador.

Assim agindo, o Presidente da República apenas gera transtorno, desgaste e polêmica entre as instituições, agravando a crise que o Brasil e o mundo atravessam e dificultando, com isso, o retorno ao estado de normalidade.

Nota da oposição na Câmara e Senado

Nós, líderes de partidos políticos e blocos parlamentares comprometidos com a defesa da Constituição de nossa República, vimos a público para declarar:

  1. No Estado Democrático de Direito em que se constitui nossa República (art. 1º CF), ataques e ameaças à independência do Poder Judiciário são inadmissíveis. Tal conduta é, a tal ponto grave, que foi tipificada como crime de responsabilidade pela lei 1.079/1950, em seu artigo 6º, VI: “usar de violência ou ameaça, para constranger juiz, ou jurado, a proferir ou deixar de proferir despacho, sentença ou voto, ou a fazer ou deixar de fazer ato do seu ofício”.
  2. Eventuais inconformismos com decisões judiciais podem ser manifestados através de críticas, jamais de ameaças ou ações que tenham por objetivo constranger ou intimidar um juiz.
  3. A decisão do Ministro Barroso, do Supremo Tribunal Federal, consistiu na aplicação de uma jurisprudência muito consolidada naquela Corte, como vários precedentes podem atestar. Não houve qualquer inovação ou casuísmo.
  4. Em um momento gravíssimo como esse que nosso país atravessa, com milhares de brasileiros morrendo diariamente vítimas de Covid, é inacreditável que o governo federal se dedique a atacar outro Poder, em vez de investir todo o seu tempo e energia na busca de vacinas, leitos, medicamentos e oxigênio para nosso povo.
  5. Quando tomamos posse de nossos mandatos parlamentares, juramos defender a Constituição. Isso significa, entre outras tarefas, garantir a independência dos Poderes constituídos. Permaneceremos vigilantes e unidos, de modo a cumprir plenamente o juramento que fizemos.

Assinam:
Dep Alessandro Molon (PSB/RJ) – Líder da Oposição na Câmara
Dep. Marcelo Freixo (PSOL/RJ) – Líder da Minoria na Câmara
Dep. Arlindo Chinaglia (PT/SP) – Líder da Minoria no Congresso
Sen. Randolfe Rodrigues (Rede/AP) – Líder da Oposição no Senado
Sen. Jean Paul Prates (PT/RN) – Líder da Minoria no Senado
Dep. Elvino Bohn Gass (PT/RS) – Líder do PT
Dep. Isnaldo Bulhões (MDB/AL) – Líder do MDB
Dep. Danilo Cabral (PSB/PE) – Líder do PSB
Dep. Wolney Queiroz (PDT/PE) – Líder do PDT
Dep. Talíria Petrone (PSOL/RJ) – Líder do PSOL
Dep. Renildo Calheiros (PCdoB) – Líder do PCdoB
Dep. Alex Manente (CID/SP) – Líder do Cidadania
Dep. Joenia Wapichana (Rede/RR) – Líder da Rede