Oposição reage a ameaça de general Heleno: "vão desengavetar o novo AI-5?"

“Na República, nenhuma autoridade está imune a investigações ou acima da Lei. E na democracia não existe tutela militar sobre os Poderes constitucionais", destacou o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB)

General Heleno (Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil)
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Lideranças políticas de todo o país, e dos mais diversos partidos, se manifestaram nesta sexta-feira (22) contra a “nota à nação” divulgada pelo ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno.

Heleno falou em "consequências imprevisíveis", caso o celular do presidente Jair Bolsonaro seja apreendido, em ameaça velada ao Supremo Tribunal Federal (STF) e à ordem democrática. Mais cedo, o ministro Celso de Mello, do STF, solicitou à Procuradoria-Geral da República (PGR) que se manifeste sobre um pedido de apreensão dos celulares do presidente e do filho, o vereador Carlos Bolsonaro, em inquérito que investiga interferência ilegal de Bolsonaro na Polícia Federal.

"A nota do general Heleno constitui inaceitável ameaça ao Supremo Tribunal Federal. Na República, nenhuma autoridade está imune a investigações ou acima da Lei. E na democracia não existe tutela militar sobre os Poderes constitucionais", disse o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB).

"O curioso é que a nota do general Heleno, supostamente em nome da 'segurança nacional', pode ser enquadrada na Lei de Segurança Nacional (Lei 7.170/83), completou.

https://twitter.com/FlavioDino/status/1263900994192265221
https://twitter.com/FlavioDino/status/1263903340179738629

A deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP), que foi aliada e líder do governo e agora está em guerra com a família Bolsonaro, alertou que o presidente tem vários celulares e acusou o filho Carlos de ter jogado no mar um computador para fugir de outra investigação.

"Carluxo jogará no mar seus fones como fez com o laptop ano passado? E qual celular de @jairbolsonaro será apreendido? Só para avisar, ele tem vários, troca de número a cada 4 meses. #ficaadica. FDS da família será apagando mensagens e arquivos. Ahhh, mas dá pra recuperar", ironizou a ex-bolsonarista.

"Uma clara ameaça do comandante do GSI. Quais seriam as consequências imprevisíveis, general Heleno? Vão desengavetar aquele Ato Institucional que dorme há meses na gaveta?", completou Joice, compartilhando cópia da nota do general.

https://twitter.com/joicehasselmann/status/1263906888120442881
https://twitter.com/joicehasselmann/status/1263909849311653888

Guilherme Boulos (PSOL) lembrou do passado golpista do general Augusto Heleno. "Uma vez golpista, sempre golpista. General Heleno foi ajudante de ordens de Sylvio Frota, que tentou dar golpe contra Geisel em 1977. Sempre representou a ala mais antidemocrática das Forças Armadas", disse.

https://twitter.com/GuilhermeBoulos/status/1263910061291851777

"General Heleno está ameaçando colocar a democracia brasileira no pau de arara. A nota divulgada agora há pouco é criminosa e revela a conspiração golpista que está sendo tramada por esse governo", disse o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ).

https://twitter.com/MarceloFreixo/status/1263905267252629505

O vice-líder do PCdoB, o deputado federal Márcio Jerry (MA) chamou de “absurda” a reação de Heleno. “Absurdo ataque, inaceitável. General Heleno faz ameaça ao STF [Supremo Tribunal Federal], ameaça à democracia. Tem que ser chamado a dar explicações urgentes à Justiça e ao Congresso Nacional. Brasil alerta contra golpista!”, disse.

Na sequencia do episódio, a rede bolsonarista no Twitter começou a subir uma hashtag de apoio ao general e reforçando o golpismo. Com a ajuda dos robôs, em poucos minutos #HelenoJaTaNaHora era a mais utilizada no Brasil, presente em mais de 100 mil mensagens até às 17h.

Já o ministro do STF Marco Aurelio Mello minimizou a ameaça velada ao colega e à Corte. "Uma reação politico-institucional. Ao ativismo judicial. Nada além disso", disse.

Mais cedo, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, já tinha se manifestado, dizendo ao general que "saia de 64".