Organizações debatem modelo de desenvolvimento dos BRICS

Em evento na Cúpula dos Povos, promovido pela Abong, participantes destacam que é preciso romper com o modelo desenvolvimentista predominante nos países do Sul rumo à sustentabilidade

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Em evento na Cúpula dos Povos, promovido pela Abong, participantes destacam que é preciso romper com o modelo desenvolvimentista predominante nos países do Sul rumo à sustentabilidade  

Por Mikaele Teodoro 

O modelo de desenvolvimento dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) foi tema de debate na Cúpula dos Povos na Rio+20, promovido pela Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais (Abong). O encontro também debateu a participação da sociedade civil na governança do desenvolvimento desses países.

O debate contou com Adriano Campolina, da ActionAid / Brasil, Adhemar Mineiro, da REBRIP, Vera Masagão, da direção executiva da Abong, Olga Ponizova, da ECO-Accord / Rússia, Sergio Schlesinger, da FASE / Brasil, e Mercia Andrews, da TCOE / África do Sul. Eles ressaltaram as semelhanças e contradições das políticas econômicas dos países do Sul, que, com a Europa em crise, agora ganham evidência.

“Estamos, hoje, numa correlação de forças muito melhor que em outros tempos”, afirmou Adriano Campolina. “Saímos de um mundo praticamente unipolar, para um mundo multipolar”, destacou. Ele também falou sobre a agricultura que vem predominando nesses países, com a força do agronegócio. Segundo Campolina, os grandes latifúndios e a monocultura ainda permanecem, embora a agricultura familiar e seus incentivos tenham aumentado nos governos Lula e Dilma.  Sua principal crítica é que o modelo do agronegócio é copiado e exportado para outros países do Sul. “Não levam o PAA (Programa de aquisição de alimentos), o Fome Zero, o Bolsa Família, eles levam o agronegócio, o etanol. O lado que produz fome, que produz miséria.”

A sulafricana Mercia Andrews ressaltou a importância do envolvimento da sociedade civil na construção de um modelo de sustentabilidade em cada um dos países. Segundo ela, há boas alternativas agroecológicas e de agricultura familiar, que mostram que é possível lutar contra o poder de uma Monsanto, por exemplo. Para ela, a África do Sul foi colocada no grupo dos BRICS por pressão da China, “que vê o país como porta de entrada para a África”. Ela ainda afirmou que, em comum, os países apresentam um modelo de desenvolvimento “nada sustentável”. A russa Olga Ponizova, por sua vez, concordou que seu país tem uma economia baseada na exploração de recursos naturais e exportação de energia, práticas não sustentáveis.

Já Adhemar Mineiro reforçou a necessidade de não se reproduzir o mesmo tipo de desenvolvimento que era almejado no passado. Segundo ele, ainda se busca um modelo desenvolvimentista, baseado no crescimento econômico, com o foco na urbanização, desconstrução do rural e a incorporação de setores sociais na estrutura de consumo. Ele convida os países BRICS a construírem uma “agenda governamental” que discuta modelos alternativos a “esse pacto desenvolvimentista” e que sejam “mais sustentáveis”.

Foto:Roberto Stuckert Filho/Presidência da República