Oscar 2017: Donald Trump foi o “saco-de-pancadas” da noite

“Como mexicano, como latino-americano, como trabalhador imigrante, como ser humano, sou contra qualquer forma de muro que nos separe”, disse Gael Garcia Bernal

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“Como mexicano, como latino-americano, como trabalhador imigrante, como ser humano, sou contra qualquer forma de muro que nos separe”, disse Gael Garcia Bernal Por Vinicius Sartorato* Maior festival de cinema do mundo, o Oscar é organizado pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Em sua 89ª edição, é um dos mais importantes eventos da indústria cinematográfica mundial, ao lado dos festivais de Veneza, Cannes e Berlim. Além da festa cheia de celebridades, gastos milionários e lançar tendências em várias dimensões da economia, o acontecimento tem também uma enorme influência política. Independente da representatividade e das críticas que possamos ter, esta edição foi uma das mais polêmicas do ponto-de-vista político dos últimos anos. Sempre acusado de ser mercantilista, de proteger lobbies, ser parcial desde a perspectiva técnica, bem como ter uma baixa representatividade étnica, o Oscar 2017 aconteceu no auge do conflitivo e impopular governo de Donald Trump. Vale lembrar que Donald Trump vem, desde sua campanha eleitoral, atacando duramente setores da mídia norte-americana e internacional. Nas últimas semanas acusou New York Times, NBC, ABC, CBS e CNN de serem “inimigos do povo americano”. Com 62 filmes indicados, em 14 diferentes categorias, o tema da diversidade étnica tomou o palco nesta edição, ao contrário das duas edições passadas, criticadas pela ausência de atores negros entre os indicados para a premiação. O Oscar 2017 foi “o mais diversificado da história”, com destaque para Viola Davis e Mahershala Ali, como melhores atriz e ator coadjuvantes, tal como Moonlight, melhor filme, superando o favorito La La Land. O longa de Barry Jenkins surpreendeu a todos por seu enredo que retratou a vida de uma família negra, pobre, de Miami, em sua luta contínua contra a ameaça da criminalidade e das drogas. Entretanto, o aspecto de maior destaque desta edição do Oscar foi mesmo o novo presidente norte-americano, o que pode ser visto em declarações de artistas e jornalistas. Uma delas foi a declaração conjunta dos cinco diretores indicados para categoria de melhor filme estrangeiro. Os diretores condenaram duramente o clima de fanatismo e nacionalismo vivido nos EUA e em outras partes do mundo. Em uma clara resposta às políticas de Donald Trump, os diretores repudiaram "o medo gerado que nos divide entre gêneros, cores, religiões e sexualidade como um meio de justificar violência". Dentre os cinco diretores, estava o iraniano Asghar Farhadi, do filme “O Apartamento”, que decidiu não comparecer à cerimônia, após tentativa de Trump de banir a entrada de pessoas de sete países de maioria muçulmana. Farhadi ganhou na categoria de melhor filme estrangeiro. Durante a semana, atores como Michael J. Fox e Jodie Foster criticaram as políticas de Donald Trump. Como esperado, o teor político do Oscar foi altíssimo, as críticas a Donald Trump foram abertas e constantes. A cada premiação, uma provocação. Dentre os destaques: a atuação do apresentador Jimmy Kimmel, que foi extremamente provocativa, falando de Trump várias vezes, chegando a “twittar” ao vivo para o presidente, perguntando se o presidente estava acordado. Outro destaque, talvez o ponto alto do evento, ao lado da mensagem do diretor iraniano, foi a fala do ator de Gael García Bernal: “Como mexicano, como latino-americano, como trabalhador imigrante, como ser humano, sou contra qualquer forma de muro que nos separe”. *Vinícius Sartorato é sociólogo e mestre em Políticas de Trabalho e Globalização.