Padilha: A maminha que a Lava Jato ignorou

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Nas denúncias da JBS envolvendo Temer e Aécio Neves pouca luz foi dada a um aspecto fundamental: a diferença de métodos investigativos e resultados entre a força tarefa da Lava Jato em Curitiba e o conjunto de promotores e investigadores que conduziram a coleta de provas que embasa a delação dos executivos da JBS. Eles mostram que sim, é necessário combatermos a relação quase sempre promiscua de empresários e o poder público, mas é possível fazê-la substanciadas em provas Por Alexandre Padilha* A gravidade da crise instalada com as revelações da JBS envolvendo Temer e o presidente do PSDB e líder do golpismo, Aécio Neves, foi tão intensa que pouca luz foi dada a um aspecto fundamental: a diferença de métodos investigativos e resultados entre a força tarefa da Lava Jato em Curitiba e o conjunto de promotores e investigadores que conduziram a coleta de provas que embasa a delação dos executivos da JBS. Eles mostram que sim, é necessário combatermos a relação quase sempre promiscua de empresários e o poder público, mas é possível fazê-la substanciadas em provas e com o menor impacto possível na atividade econômica envolvida. Cortar a corrupção sem quebrar a empresa e os empregos associados. Coincidência ou não, é a segunda vez que o instrumento da delação premiada vem amparada de gravações que não deixam dúvidas quanto aos crimes praticados por integrantes do alto comando da aliança PMDB/PSDB. A anterior fora pelo senhor Sérgio Machado registrando conversas com senadores do PMDB. Nesta atual, chama atenção para a riqueza de evidências: diálogos, vídeos, gravações, dinheiro rastreado, que sepulta o governo Temer e apanha Aécio Neves com a boca na botija. A operação foi feita em Brasília, enquanto a força-tarefa de promotores da Lava Jato dedica-se a tentar apresentar uma prova contra Lula ou a produzir mais uma delação. Diferentemente do roteiro alardeado como modelo pela Lava Jato, os delatores não estavam há anos em prisões preventivas que se estendem. Não haviam feito à versão um, dois e três de delações. Não haviam paralisados suas atividades empresariais, nem suas empresas estavam durante anos impedidas de realizar contratação com o serviço público. Não há registro de empresa quebrada nesse caso. Aliada a delação, foi vista como meio provável, primeiro interromper a chantagem milionária dos personagens da aliança PMDB/PSDB sobre os empresários, segundo para permitir que a empresa caminhasse para acordo de leniência nos EUA, onde ocupou o mercado. Em um método, a delação é meio de sair depois de um longo período de prisão preventiva. Por outro lado, é vista com oportunidade de não quebrar a empresa. As diferenças de método revelam o quanto os operadores da Lava Jato não têm como qualquer prioridade a manutenção da atividade econômica. Em parte por mais uma convicção, de que o maior mal do país é a corrupção e não a desigualdade. Em outra pelo lugar de onde agem de carreiras de Estado estabelecidas, muito bem remunerados, em geral muito acima do teto constitucional independente dos abalos do emprego e da economia. Já diziam os filósofos Delleuze e Guattari o "novo pensamento não, se desgarra do território que vivemos" ou a sabedoria popular "a cabeça pensa onde o pé pisa”. É claro que a Lava Jato trouxe impactos/desmontes na economia, principalmente as empresas que correm risco de insolvência. Especialistas dizem que a operação causa mais prejuízos econômicos do que alegam ter sido desviado de corrupção. O não interesse dos operadores de Curitiba pela JBS começou a ficar nítida  em novembro passado, quando o juiz Sérgio Moro vetou 21 das 41 perguntas que a defesa de Eduardo Cunha fez a Temer no processo de ação penal da Lava Jato que Cunha responde em Curitiba, o juiz vetou as perguntas alegando que não faziam parte do objeto daquele processo. Mas para bom entendedor meia palavra basta. Cunha já dava indícios que queria ser comprado e, quem diria, o produtor de mortadela derrubou o governo de coxinhas. E por falar em coxinha, um dos presos na missão foi o procurador da República Ângelo Goulart Vilel, também delatado pelo dono da JBS, o mesmo que defendeu no ano passado, em discurso na Câmara dos Deputados, o pacote do Ministério Público das '10 Medidas Contra a Corrupção' (!!!). alexandre padilha *Alexandre Padilha é médico, foi secretário municipal da saúde na gestão de Fernando Haddad e ministro nas gestões Lula e Dilma.     Leia outros artigos da coluna de Padilha na Fórum.