Para além do impedimento

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Ao contrário do que se ouviu e viu por parte da mídia brasileira, alguns ditos analistas esquecem-se de afirmar que a crise pela qual passamos deriva basicamente da crise internacional e da retirada do mercado pelo Estado brasileiro de praticamente R$ 100 bilhões em isenções, incentivos e subsídios. Confira o novo artigo na coluna do professor Paulo Daniel

Por Paulo Daniel*

Na última semana nos foi apresentado a movimentação da economia brasileira através do cálculo do PIB (Produto Interno Bruto). De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) o PIB apresentou variação negativa de 0,3% na comparação entre o primeiro trimestre de 2016 e o quatro trimestre de 2015, levando-se em consideração a série com ajuste sazonal.

É o quinto resultado negativo consecutivo nesta base de comparação. Na comparação com igual período de 2015, houve contração do PIB de 5,4% no primeiro trimestre do ano, oitava queda seguida nesse tipo de comparação. No acumulado dos quatro trimestres terminados no primeiro trimestre de 2016, o PIB registrou queda de 4,7% em relação aos quatro trimestres imediatamente anteriores, a maior da série histórica, iniciada em 1996.

Evidentemente, ao contrário do que se ouviu e viu por parte da mídia brasileira, alguns ditos analistas esquecem-se de afirmar que a crise pela qual passamos deriva basicamente da crise internacional e da retirada do mercado pelo Estado brasileiro de praticamente R$ 100 bilhões em isenções, incentivos e subsídios.

Segundo, ao avaliar brevemente os dados do IBGE um ponto nos chama a atenção. O Investimento na economia brasileira segue sua curva descendente. Por que o Investimento é importante na economia capitalista? É ele que impulsiona o crescimento econômico, elevação da renda agregada e, a depender do momento, geração de emprego.

Quem decide pelo Investimento? O capitalista. O Investimento só se realiza a partir da expectativa de aumento da renda, da riqueza real ou monetária e valorização do capital. Com impedimento ou não da presidenta Dilma Rousseff (PT), e mesmo com o “time econômico dos sonhos” deste governo golpista, segundo o mercado financeiro, dificilmente, ainda, os investimentos realizar-se-ão.

Neste sentido, quando se poderia realizar os ditos cujos Investimentos? O atual e os anteriores ministros da fazenda diriam ou dizem o seguinte: Quando as expectativas melhorarem. E qual seria o verdadeiro significado da melhora das expectativas?

Na visão do capital nativo e forâneo seria o seguinte: Flexibilização das leis trabalhistas e redução do Estado na indução do processo econômico, leia-se privatização. Sobre as questões do trabalho basta aprovação pelo Congresso Nacional e sanção presidencial para, por exemplo; afrouxamento do conceito de trabalho escravo, proibição do direito a greve dos servidores públicos, redução da jornada de trabalho com redução de salários, diminuição da idade mínima de trabalho, reforma da Previdência, terceirização dos trabalhadores para todas as atividades das empresas entre outras.

Se não bastasse isso, há ainda as privatizações diretas ou brancas a serem realizadas, como por exemplo, as leis que disciplinam a camada de exploração de petróleo do pré-sal, Correios, Caixa, BNDES, Banco do Brasil e, por aí vai...

O argumento principal do golpismo é o seguinte: Essas reformas são para o Brasil crescer e gerar empregos. Esta agenda negativa àqueles(as) que vivem do trabalho é o que ainda está em disputa na sociedade brasileira e, justamente por ter disputa de uma agenda mínima, o capital recolhe os seus investimentos, além é claro, de outras questões econômicas de ordem interna e externa, mas é importante destacar, esta é a agenda principal. A sociedade brasileira não vive somente nesta monomania, há variadas dinâmicas acontecendo e ainda sem uma hegemonia ou maioria de pensamento e de agenda.

Portanto, cabe a classe trabalhadora formar e informar a sociedade da verdadeira disputa societal cujo significado não é somente um impedimento de uma presidenta, mas sim, que tipo de capitalismo teremos no presente e no futuro imediato e, por sua vez, assim como foi a ditadura civil militar brasileira, interferirá na reprodução e formação das gerações futuras. Este é o verdadeiro golpe que está sendo conduzido.

paulod *Paulo Daniel – Editor do blog Além de Economia, é economista, mestre em economia política pela PUC-SP, Doutorando em Economia pela Unicamp (Universidade de Campinas-SP), corinthiano, professor, consultor com mais de 10 anos de experiência tanto na iniciativa privada como em instituições públicas.