Para a sociedade, a mulher merece ser violentada

Pesquisa do Ipea revela que as vítimas são culpabilizadas pelo tamanho da roupa que usam e por seu comportamento. Levantamento também mostra que a sociedade patrulha o papel da mulher. 54% dos entrevistados aprovam a frase: “Tem mulher que é pra casar, tem mulher que é pra cama”.

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Pesquisa do Ipea revela que as vítimas são culpabilizadas pelo tamanho da roupa que usam e por seu comportamento. Levantamento também mostra que a sociedade patrulha o papel da mulher. 54% dos entrevistados aprovam a frase: “Tem mulher que é pra casar, tem mulher que é pra cama Por Isadora Otoni Apesar do avanço nas discussões sobre violência contra mulher, uma pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) revelou que a culpabilização da vítima ainda está presente no discurso dos brasileiros. Prova disso é que 65,1% dos 3.810 entrevistados para o estudo Tolerância social à violência contra as mulheres concordaram que “Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”. Outros 57,5% afirmam que “Se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros”. Por outro lado, 91,4% concordaram que “Homem que bate na esposa tem que ir para a cadeia”. Luka Franca, colaboradora do Blogueiras Feministas, explicou o motivo da contradição. “Mesmo que tenhamos ganhado o debate socialmente de que a violência contra mulher, trans ou cis, é repudiável, a noção de que relacionamentos fazem parte da vida privada e não da pública é muito enraizada na sociedade. Isso porque a sociedade ainda tem um tabu muito grande para debater relacionamentos e suas formas de constituição.” A pesquisa revelou que a sociedade ainda patrulha o papel da mulher. 54% dos entrevistados aprovam a frase: “Tem mulher que é pra casar, tem mulher que é pra cama”. “Isso reflete misoginia e uma lógica de objetificação das mulheres. É como se fôssemos coisas e cada modelo serve para algo diferente”, analisa Luka. Para Lenina Vernucci, do Coletivo Ana Montenegro, este resultado mostra que a sociedade tem uma visão dualista da função da mulher, como se fossem Maria ou Eva. “A sociedade determina que as mulheres devem se comportar somente como as Marias e santas, definindo seus papeis de donzelas e princesas. Não é admissível ainda - e a pesquisa mostra isso - saber que a mulher também gosta de sexo”, opinou. 78,7% dos participantes da pesquisa afirmam que “Toda mulher sonha em se casar”. “Essa máxima que as pessoas acham que toda mulher sonha em casar é complementar ao fato de para elas o lugar da mulher e cuidando dos espaços privados da vida”, disse Luka. De fato, o casamento é usado como desculpa para manter a mulher dentro do lar. “Somos criadas para gostar do casamento. Mas o ‘felizes para sempre’ continua depois do fim do conto e se transforma em tarefas que não estavam ocorrendo antes: limpar a casa, passar roupa, fazer comida. A mulher percebe que entrou em uma relação onde fará a dupla jornada”, explica Lenina. Tolerância a homossexuais A pesquisa também abrangeu a tolerância a casamentos de homossexuais. Os resultados mostraram que a opinião pública é bem dividida. Mesmo que 50,1% acredite que casais do mesmo sexo devam ter os mesmos direitos que casais heterossexuais, 51,7% concordou com a frase “Casamento de homem com homem ou de mulher com mulher deve ser proibido”. A intolerância fica muito evidente quando os entrevistados são questionados sobre manifestações de carinho de homossexuais em público. 59,2% dos 3.810 entrevistados afirmaram: “Incomoda ver dois homens, ou duas mulheres, se beijando na boca em público”. (Créditos da foto da capa: Wikimedia/Commons)

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