Pastor da Assembleia de Deus admite uso de emendas parlamentares para favorecer filhos políticos

O religioso também afirma que a sua igreja lança candidatos para “manter a doutrina cristã” e defender “interesses legais da igreja”

Foto: reprodução redes sociais/Youtube
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O pastor José Wellington Bezerra da Costa, um dos líderes mais influentes da Assembleia de Deus, admitiu que a igreja faz intermediação de pagamentos de emendas parlamentares para eleger três de seus filhos em São Paulo.

Os três filhos do pastor - o deputado federal Paulo Freire Costa (PL-SP), a deputada estadual Marta Costa (PSD-SP) e a vereadora Marta Costa (PSD-SP) e a vereadora Rute Costa (PSDB-SP) - tiveram acesso a R$ 25 milhões em recursos públicos no ano passado. A Assembleia de Deus apoiou abertamente os três nas eleições que disputaram.

"A emenda só vai para o prefeito por intermédio do pedido do pastor da Assembleia de Deus. O eleitorado que ali está, irmãos, não é do prefeito, mas são irmãos em Cristo que estão nos apoiando para que os nossos candidatos continuem trabalhando", disse José Wellington em reunião de obreiros, na última segunda-feira (7), revela o Estadão.

José Wellington controla a Convenção-Geral das Assembleias de Deus no Brasil e, em São Paulo, é líder do Ministério de Belém, vertente mais tradicional da denominação no Sudeste. Na eleição de 2018, o pastor Wellington apoiou a candidatura de Jair Bolsonaro (PL).

Durante um culto, o pastor afirma que os filhos são livres para escolher os beneficiados, mas revelou como abordam os prefeitos: "Você quer dinheiro? Quer, mas chame então o pastor da Assembleia de Deus".

No ano passado, o deputado Paulo Freire Costa teve acesso a R$ 16 milhões em emendas destinada a cada um dos congressistas. O deputado indicou verbas para 26 beneficiários. R$ 395 mil para Campinas, onde é pastor, e R$ 600 mil para dois municípios (Bilac e Santópolis do Aguapeí) na modalidade transferência especial, que é chamada de "pix orçamentário" por repassar um "cheque em branco" para prefeituras e não ter fiscalização federal.

A Assembleia de Deus do Belém viu o espaço político no Congresso ser ocupado por outras alas no Congresso. Nesta semana a presidência da Bancada Evangélica na Câmara passou das mãos do deputado Cezinha Madureira para as de Sóstenes Cavalcante, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo. As duas são consideradas "irmãs" do Belém, mas disputam poder nas regiões onde estão instaladas.

“Trabalhem para eleger nossos irmãos de fé”

Em encontro com líderes, o pastor José Wellington revelou a sua preocupação com o apoio de pastores a candidatos que não são da Assembleia de Deus e apontou o pagamento de emendas como forma de dar força aos nomes escolhidos para representar os fiéis no Legislativo.

“Meus irmãos, trabalhem para eleger os nossos irmãos na fé, procurem eleger os nossos irmãos na fé. Glória! Seja fiel a este nome: Assembleia de Deus no Brasil!", pediu o religioso.

Ao Estadão, o pastor Wellington confirmou que coloca líderes da igreja em contato com prefeitos beneficiados por emendas de seus filhos parlamentares, mas disse que não há troca de favores.

"Quando o prefeito de uma cidade precisa de uma verba, é evidente que nós mandamos o pastor da nossa igreja para que ele tenha conhecimento com o prefeito. O nosso deputado vai entender, naturalmente, se a verba for lícita, for necessária, mas pelos canais oficiais. A igreja não tem qualquer compromisso político", afirma o líder da Assembleia de Deus.

Sobre o fato de a Assembleia de Deus lançar candidatos, José Wellington diz que isso é feito para manter a doutrina.

"Quem trouxe a política para o ministério da Assembleia de Deus fui eu porque entendi que existem interesses da igreja, especialmente legais. Alguns deputados estão coisas meio marotas contra nossa doutrina pública, que precisamos manter", explica.

Com informações do Estadão