Paulo Nogueira Batista critica exagero de idéias econômicas

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O economista Paulo Nogueira Batista Jr, em artigo publicado nesta quinta-feira (24) na Folha de S.Paulo, critica aqueles que produzem inúmeras idéias para resolver os problemas econômicos do Brasil.

Para ele, nenhuma das "soluções" apresentadas para conter a forte valorização do real nos últimos meses se sustenta após uma análise mais apurada. Batista sustenta que as escolhas feitas pelo Brasil até o momento são corretas, e que optar por caminhos mais radicais poderia trazer problemas na esfera do Mercosul e nas negociações na Organização Mundial do Comércio (OMC). Leia abaixo a íntegra do artigo: Idéias econômicas Einstein esteve no Brasil em 1925. Conta-se que ele percorreu a cidade do Rio de Janeiro acompanhado de uma comitiva da qual fazia parte o então jovem jornalista Austregésilo de Athayde, futuro presidente da Academia Brasileira de Letras. Austregésilo anotava furiosamente todas as observações do cientista. A certa altura, não se conteve e perguntou: "Mestre, o senhor não toma nota de suas idéias?" Einstein respondeu: "Mas como, meu filho, se eu só tive uma?" "Se non é vero..." Relembro essa história a propósito do comportamento dos economistas. Uma das nossas características é justamente a tendência a produzir idéias em profusão e – o que é pior – a divulgá-las rapidamente. A queda do dólar já provocou algumas manifestações curiosas dessa nossa falta de autocrítica. Entre os remédios sugeridos, destacou-se a proposta de um "choque tarifário". O Brasil reduziria de forma generalizada ou até zeraria temporariamente as tarifas de importação, estimulando a procura por bens importados e por moeda estrangeira, o que levaria então à desejada revalorização do dólar. Parece que esqueceram de um pequeno detalhe. O Brasil faz parte de uma união aduaneira – o Mercosul. Como união aduaneira, o Mercosul tem, por definição, uma estrutura tarifária comum em relação ao resto do mundo (com as exceções que tiverem sido negociadas pelos países-membros). Estou falando da TEC -a Tarifa Externa Comum. O Brasil dificilmente obteria a concordância dos demais membros do bloco para eliminar ou reduzir de forma generalizada o imposto sobre importações, mesmo que temporariamente. E nem faria sentido tentar. O Brasil está engajado nas negociações multilaterais da Rodada Doha, na Organização Mundial do Comércio, onde tem desempenhado papel de grande destaque. Os países desenvolvidos pressionam o Brasil e os demais integrantes do Mercosul a reduzir as suas tarifas de importação, boa parte das quais proporciona alguma proteção a setores da indústria dos nossos países. O Brasil, por sua vez, condiciona concessões nessa área a progressos em temas de nosso interesse, notadamente na redução dos formidáveis subsídios e barreiras a produtos agrícolas aplicados pelas nações desenvolvidas. Ora, se reduzíssemos unilateralmente as tarifas, que já nem são muito altas, estaríamos dando de graça aquilo que nos pedem na mesa de negociação e reduzindo, portanto, as chances de obter algo de positivo para nossas exportações na Rodada Doha, assim como em outras negociações comerciais. O governo brasileiro tem feito, na verdade, movimento contrário. Recentemente, elevou a tarifa do Imposto de Importação sobre calçados e confecções de cerca de 20% para 35% (o nível consolidado na OMC). Estuda-se a possibilidade de fazer o mesmo para o setor de móveis. Esse movimento de aumento seletivo de tarifas parece compreensível. Diversos setores da indústria brasileira, especialmente os intensivos em mão-de-obra ou com baixo coeficiente de importação na sua estrutura de produção, estão sendo gravemente prejudicados pela valorização persistente do real. O aumento do Imposto de Importação ameniza os problemas decorrentes do real forte. Como a Folha observou em recente editorial, sobrepor à apreciação cambial uma redução rápida e unilateral da proteção tarifária "significaria colocar em risco, desnecessariamente, a sobrevivência de empresas e mesmo de setores da economia". Vermelho