"Percebi o racismo com porta batendo na minha cara", diz Elza Soares

Uma das homenageadas da edição deste ano do Latinidades – Festival da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha, a cantora e compositora falou, em entrevista, sobre a condição do negro no Brasil, a falta de representatividade da mulher negra nos meios de comunicação e a forma como lida com a discriminação.

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Uma das homenageadas da edição deste ano do Latinidades – Festival da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha, a cantora e compositora falou, em entrevista, sobre a condição do negro no Brasil, a falta de representatividade da mulher negra nos meios de comunicação e a forma como lida com a discriminação Por Redação Em entrevista à Rádio Nacional, da EBC, a cantora e compositora Elza Soares falou sobre a condição do negro no Brasil, a falta de representatividade da mulher negra nos meios de comunicação e a forma como lidou com a discriminação da qual foi vítima ao longo da vida. "Percebi o racismo com porta batendo na minha cara. Não tinha rede social. Aí você se pergunta, mas por que bateram a porta na minha cara? Não fiz nada. Fez, sim. Você nasceu negra", disse. Uma das homenageadas da edição deste ano do Latinidades – Festival da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha, que ocorre em Brasília até domingo (26), a artista criticou a forma como a mulher negra é retratada nos produtos culturais – ou a ausência de representação. "Quase não tem negro no país, né? Na televisão não aparece. Tá faltando mulher negra na televisão, programa de mulheres negras, mais mulheres negras falando. Mulher negra quando entra na novela vai fazer novela de época pra chamar nhá, nhó, sinhozinho. Não vejo mulher negra na televisão. É brabo isso", afirmou. Para Elza, embora conquistas tenham sido alcançadas, a vida do povo negro no Brasil ainda é marcada por inúmeras dificuldades e desigualdades. "Temos avanços muito lentos ainda. O dia-a-dia ainda é nosso maior desafio. É de uma ignorância tão grande, uma estupidez ter que desafiar a cor. Dizem que tem política pública de combate ao racismo e a gente tenta acreditar nisso. Mas na sociedade vejo tudo muito encubado, por trás da cortina, por debaixo da mesa", apontou. A cantora relatou como se posiciona diante do racismo no cenário da música e da indústria cultural. "Hoje eu me articulo bem porque eu me imponho, e quando você se impõe você é bem recebida. Tem que saber onde pisa, a hora que pisa, como fala, com quem fala, e por aí. A vida foi feita nesse sentido. Se impondo, se posicionando, aí você chega bem", explicou. Elza também contou o que a motiva atualmente. "A vida dá motivação pra tudo. O que me motiva é ela, meus filhos, meus amigos e as pessoas que acreditam em mim. São muitas as músicas da minha vida", declarou. "Mas a música do meu 'agora' é A Carne. A carne mais barata do mercado é a carne negra. Que vai de graça pro presídio. E para debaixo do plástico. Que vai de graça pro subemprego. E pros hospitais psiquiátricos. A carne mais barata do mercado é a carne negra. Que fez e faz história. Segurando esse país no braço."

(Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)