Planos de saúde: o martírio dos aposentados

A crônica de Mouzar Benedito: Uma vez por ano eu fico mais reclamão que o normal. E não sou só eu: há um coro de reclamões, formado por aposentados. Isso acontece quando chega o reajuste das mensalidades do plano de saúde

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A crônica de Mouzar Benedito: Uma vez por ano eu fico mais reclamão que o normal. E não sou só eu: há um coro de reclamões, formado por aposentados. Isso acontece quando chega o reajuste das mensalidades do plano de saúde

Por Mouzar Benedito

Uma vez por ano eu fico mais reclamão que o normal. E não sou só eu: há um coro de reclamões, formado por aposentados.

Isso acontece quando chega o reajuste das mensalidades do plano de saúde.

Teoricamente, o reajuste seria para cobrir a inflação ocorrida no ano que passou. Então, a correção agora deveria ser de 6,41%, que é o que vamos receber de reajuste da aposentadoria. Mas, na semana passada, a Agência Nacional de Saúde autorizou as empresas a reajustar em até 13,55% a mensalidade de planos individuais e familiares.

É aí que a coisa pega.

Quanto mais velho a gente vai ficando, mais vai se tornando dependente de atendimento médico e é muito arriscado não ter plano de saúde, acreditando que o Sistema Único de Saúde, o SUS, vai nos prover devidamente.

Reconheço que muita coisa melhorou, como a distribuição gratuita de certos remédios e o barateamento de muitos outros na chamada “farmácia popular”. E para tratar de certas doenças, o serviço público é muito eficiente. Conheço pessoas que receberam transplante de rim ou que fazem tratamento de câncer, por exemplo, que recebem um tratamento excelente nos serviços públicos de saúde. Mas de vez em quando vejo situações terríveis, de gente esperando anos por uma cirurgia.

Eu mesmo já precisei de alguns atendimentos de emergência que provavelmente me mandariam desta para uma melhor se ficasse na dependência do SUS.

O problema é que o plano de saúde custa cada vez mais caro, principalmente para quem já dobrou o Cabo da Boa Esperança, quer dizer, passou dos sessenta anos de idade.

O rendimento dos aposentados vai minguando ano a ano. É corrigido pela inflação oficial, abaixo da correção do salário mínimo, e assim em alguns anos, quem recebia quatro salários mínimos de aposentadoria já está recebendo três ou menos.

E os planos de saúde sempre têm reajustes bem maiores. Resultado: somando as mensalidades dos planos de saúde da minha mulher e o meu, lá se vai bem mais que a metade dos nossos rendimentos.

O certo é que daria para a gente viver relativamente bem com o valor que recebemos de aposentadoria, se não tivéssemos esses gastos que a cada ano nos sufocam mais.

Já que, pelo menos por enquanto, não dá para velho depender dos serviços públicos de saúde, minha sugestão é que o governo crie um plano de saúde para aposentados. Mas um plano que funcione de verdade, como qualquer outro, com muitos médicos, clínicas, laboratórios e hospitais que atendem os planos privados.

Só que com uma diferença: as mensalidades não poderiam ultrapassar 15 ou 20% dos rendimentos.

Sempre achei isso, e já escrevi sobre o assunto, mas ninguém leva a gente a sério. Acham que é uma coisa inviável.

Mas há alguns anos, encontrei um amigo no Uruguai e ele me disse que lá existe algo semelhante, e que funciona bem.

O pequeno país de José Mujica dá bons exemplos que poderíamos seguir e até aperfeiçoar aqui, não é? Que nossas autoridades pensem nisso.

Foto: Pixabay