Exclusivo: PM paulista mata em média dois adolescentes por mês desde 2010

Um levantamento feito pela Ouvidoria das Polícias revelou que 184 jovens, com menos de 16 anos foram mortos nos últimos 6 anos.

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Italo não é um caso isolado. Um levantamento feito com exclusividade à Fórum pela Ouvidoria das Polícias revela que 184 jovens com menos de 16 anos foram mortos nos últimos 6 anos Por Beatriz Sanz Italo tinha 10 anos. Havia desistido dos estudos, aumentando os números de evasão escolar. Ele morava em uma comunidade sem infraestrutura e sem aparato do estado. Às vezes, ele ia até o aeroporto com sua caixa de engraxate para ganhar uns trocados. Italo morreu no dia 02 de junho de 2016, quando um policial atirou em sua cabeça. A história de Italo é única, mas ele não foi a única criança vítima da ação violenta daqueles que deveriam servir à população. Desde 2010, a Polícia Militar de São Paulo matou 184 jovens com menos de 16 anos após intervenção policial, o que dá em média 2 adolescentes mortos por mês. Esse número está em um relatório feito pela Ouvidoria das Polícias do Estado e divulgado com exclusividade pela  Fórum. O relatório aponta que 130 vítimas tinham menos de 16 anos, 45 dos jovens tinham menos de 15 anos, 8 tinham menos de 14 e 1 ainda não possuía 13 anos. O último era Italo. Para o Ouvidor das Polícias, Júlio Neves, esse relatório mostra que ao longo do tempo, as crianças se afastam espontaneamente da criminalidade. Mas ele alerta que não é o bastante. Para ele, o governo estadual deve investir em políticas educacionais de qualidade que garanta a vida e integridade dessas crianças. [caption id="attachment_85627" align="alignleft" width="563"]O Governador de São Paulo, participou da formatura de 2.811 novos policiais militares em formatura realizada no sambódromo do anhembi em São Paulo. 11/05/2016 - São Paulo - Foto: Eduardo Saraiva/A2IMG Foto: Eduardo Saraiva/A2IMG[/caption] O Ouvidor também se manifestou sobre a atuação da Polícia. “A pessoa [policial] tem que estar apta a estar na rua, por isso nós sugerimos que todos os policiais, especialmente esses que estão na rua, passem anualmente por pelo menos um exame psicológico para ver se ele está apto a exercer essa função”. Segundo Julio Neves, a solicitação já foi feita ao Comandante-Geral da Polícia, Coronel Gambaroni, que afirmou não haver verba para realização da avaliação. A maioria das mortes, 22 no total, desde 2013, aconteceram através da ação de policiais da 5a Delegacia Seccional Leste. A Zona Leste da capital é conhecida por reunir diversos distritos periféricos como Itaquera e Guaianases. “Confronto” O levantamento ainda mostra que em 98% dos casos a ocorrência foi notificada como “confronto”. Como a ouvidoria também recebe denúncias de familiares, para alguns casos existe outra versão além da oficial. No caso de um jovem vitimado em outubro de 2014, a mãe do adolescente denunciou que os “policiais tiraram a vítima e o levaram para um lugar ermo, onde o executaram”. Os policiais envolvidos, por suas vez, afirmaram que o jovem desceu do veículo após colisão efetuando disparos. A afirmação é semelhante a que os policiais envolvidos no caso de Italo fizeram. O crime ainda está sendo investigado. Críticas A Ouvidoria tem sido alvo de críticas de parlamentares ligados à PM. O Major Olímpio, deputado federal e pré-candidato à prefeitura da cidade pelo Solidariedade, afirmou à Ponte Jornalismo, durante uma manifestação em favor dos policiais que assassinaram Italo: “Nós temos um idiota de um ouvidor da polícia de São Paulo, preconceituoso, e ele tenta encaixar uma versão de barbárie policial dentro dos fatos. Ele tenta o tempo todo desmoralizar a polícia dizendo ‘não confie nos PMs, que eles são bárbaros’, e esse maldito tem escolta de policiais para a proteção da vida dele”. Em resposta, o ouvidor afirmou que aceita críticas quando elas tem fundamento e que o trabalho da Ouvidoria desde a sua criação é investigar o que está acontecendo na Polícia. Foto de Capa: Jornalistas Livres