Letalidade policial ameaça legado dos Jogos Olímpicos, diz Anistia Internacional

Anistia Internacional/ Fábio Bittar
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Relatório divulgado nesta quinta-feira (2) mostra que 2,5 mil pessoas foram mortas por policiais desde a escolha do Rio de Janeiro como cidade sede das Olimpíadas. Anistia internacional alerta que violações de direitos humanos que ocorreram antes da Copa do Mundo de 2014 estão se repetindo antes dos Jogos Olímpicos Por Victor Labaki Um relatório divulgado nesta quinta-feira (2) pela Anistia Internacional mostra que a alta letalidade policial que ocorreu antes da Copa do Mundo de 2014 se repete antes do início dos Jogos Olímpicos. A organização diz que a ação das forças de segurança coloca em xeque a promessa de legado de uma cidade segura para todos. Desde 2009, quando a cidade do Rio de Janeiro foi escolhida para ser sede das Olimpíadas, 2,5 mil pessoas foram mortas pela polícia somente na cidade e quase nenhum destes casos foram esclarecidos. Assista o vídeo: PM agride mulher durante ato do MTST em São Paulo "Em 2009, quando o Rio foi escolhido para sediar os Jogos de 2016, as autoridades prometeram melhorar a segurança para toda a população. No entanto, ao longo desse período, 2,5 mil pessoas foram mortas pela polícia somente na cidade e a justiça foi obtida em uma parcela mínima dos casos", disse o diretor executivo da Anistia Internacional, Atila Roque. A publicação "A violência não faz parte desse jogo! Risco de violações de direitos humanos nas Olimpíadas Rio 2016" traça uma comparação entre as mortes causadas por policiais no ano que antecedeu a Copa do Mundo com as mortes ocorridas no ano olímpico. No ano do torneio de futebol, 580 pessoas foram mortas pela policia em todo o Rio de Janeiro. Um aumento de 40% em relação a anos anteriores. Em 2015, uma em cada cinco pessoas assassinadas no estado foi executada pelas forças policiais. A grande maioria das vítimas é de jovens negros moradores das periferias. Acampamento de protesto: Por que na Fiesp pode e na casa do Temer não? "O Brasil parece ter aprendido muito pouco com erros que cometeu quando se trata de segurança”, criticou o diretor, em nota. “A tática de 'atirar primeiro e perguntar depois' acaba por colocar o Rio entre as cidades onde a polícia mais mata no planeta”, destacou. De acordo com o relatório, as autoridades brasileiras anunciaram que cerca de 65 mil policiais e 20 mil soldados das Forças Armadas vão fazer a segurança dos jogos. O que segundo a Anistia, é a maior operação da história do Brasil. A crítica feita por Atila Roque é que as autoridades brasileiras não fiscalizam os agentes de segurança para garantir que normas internacionais sobre o uso de armas de fogo sejam cumpridas corretamente. "As autoridades brasileiras estão falhando ao não garantir que os agentes de segurança pública cumpram leis e normas internacionais sobre o uso da força e armas de fogo." A Anistia ainda diz que desde que o Rio de Janeiro foi eleito sede dos jogos algumas medidas preocupantes foram aprovadas. Como a Lei Antiterrorismo que, segundo a organização, é vaga e abre brechas para a reprimir ativistas no livre direito à manifestação. Outra preocupação é a Lei Geral das Olimpíadas que impõe restrições à liberdade de expressão em zonas específicas da cidade do Rio. O relatório relembra que, nos dias que antecederam as partidas de futebol em 2014, antes dessas leis serem elaboradas, policiais usaram gás lacrimogêneo, bombas de efeito moral e balas de borracha para dispersar, com força desproporcional, protestos pacíficos, quando até jornalistas foram feridos e dezenas de pessoas chegaram a ser “arbitrariamente detidas”. A única pessoa que permanece presa é o jovem Rafael Braga, negro, morador de rua à época. Ele portava duas garrafas de material de limpeza e foi condenado por “porte de artefato explosivo ou incendiário”, apesar de a perícia negar que os produtos eram explosivos.