Política de preços de combustíveis traz prejuízos ao setor produtivo, alerta senador Jean-Paul Prates

Para parlamentar, decisões sobre o tema no Brasil têm sido equivocadas e os problemas aparecem em várias áreas, mas sobretudo para quem produz

Foto: Assembleia Legislativa do Espírito Santo
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Por Débora Rolando - via Alter Conteúdo

Com mais de 25 anos de atuação nas áreas de petróleo, gás natural, biocombustíveis, energia renovável e recursos naturais, o senador Jean-Paul Prates (PT-RN) avalia que atual política de preços de combustíveis da Petrobrás está trazendo prejuízos para o setor produtivo nacional. “Essa política de alta de preços prejudica o setor produtivo como um todo, da indústria ao agronegócio brasileiro”, alertou o senador.

Depois de aumentar em R$ 0,15 o preço médio do litro da gasolina vendida nas refinarias no último dia 18, agora, a atual gestão da Petrobrás decidiu subir os preços da gasolina e do diesel entregue às distribuidoras a partir desta ontem (27). A medida atende à pressão de importadores de combustíveis, representados pela Abicom. Ao ceder diante das investidas dos importadores, a Petrobrás estimula a volatilidade de preços no mercado interno e reforça sua estratégia de privatização.

Na visão do senador, que é advogado e economista, a estratégia adotada pela atual diretoria da Petrobrás desde 2018 vai na contramão da implementada por governos anteriores, inclusive militares, que atuaram para buscar uma autossuficiência possível na produção e refino no país, visando justamente a oferecer algum conforto relativo para o setor produtivo nacional. “A gente foi para o extremo oposto, com o preço do combustível oscilando na bomba em tempo real de acordo com o preço internacional e a paridade internacional. Em muitos casos, o preço do combustível brasileiro é mais alto do que em outros países. Quem se criou nesse ambiente foram os importadores. O mercado brasileiro virou o paraíso para os importadores”, disse Prates.

Embora o Brasil seja considerado autossuficiente em petróleo, ainda depende da importação do recurso porque a Petrobrás não tem capacidade de refinar o petróleo brasileiro sozinha e também porque essas refinarias estão sendo subutilizadas desde 2018, quando a capacidade começou a ficar ociosa, em torno em 25%. “Um dos erros do atual governo é deixar as refinarias à meia-bomba, hoje com cerca de 60% da capacidade, visando a estimular a concorrência. Por que trazer para o ambiente interno as instabilidades do mercado externo? Não se trata de isolar o Brasil do resto do mundo, mas não precisamos praticar preços a tempo real sem nenhum colchão de amortecimento”, observou o senador.

O atual projeto de privatização das refinarias da Petrobras vai eliminar esse colchão utilizado em outras ocasiões para amortecer a diferença de preços internos e internacionais. “A ideia de vender as refinarias é um erro crasso. As refinarias foram criadas para serem complementares. Funciona bem como empresa estatal”, explicou.

O resultado deste processo, completou o senador, é que o brasileiro paga hoje um preço igual ao do Japão, que não tem uma gota de petróleo, mas tem refinaria. “Estamos virando uma Tuvalu energético, refém dos importadores”, completou, em referência a um Estado da Polinésia formado por um grupo de nove ilhas e atóis, na Oceania. Estudo realizado pelo Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (INEEP) aponta que o preço do óleo diesel no Brasil é o segundo mais caro do mundo, só perdendo para a Alemanha.

Paralisação no dia 01/02 – Para o senador, a paralisação dos caminhoneiros, marcada para a próxima segunda-feira (01/02) e que ganha o apoio de diferentes categorias de trabalhadores (petroleiros, metalúrgicos, entregadores e outros), é reflexo da crise econômica e política. “Acho que não aconteceu antes porque a própria crise sanitária impedia. Bolsonaro foi beneficiado pelo isolamento social, que impactou em uma ação articulada e organizada. O problema é que as crises econômica e política ganharam peso ao longo do tempo”, disse Prates.

No entendimento dele, os trabalhadores estão se posicionando porque todos são afetados, em diferentes níveis, pela gestão desastrosa do atual governo em diferentes questões: vacina, desindustrialização, desemprego, fim do auxílio emergencial, venda de ativos, aumento no preço dos combustíveis e outros. “Essas questões afetam a todos nós. Não só a classe trabalhadora, mas o setor produtivo como um todo”, reforçou. “Quando tirarmos a pandemia da sala, vamos ter que discutir o que o país fez neste período para sair dessa situação”, concluiu o senador.