Por não terem cancelado o carnaval, fake news visa eximir Bolsonaro e culpar governadores por pandemia

Grupos bolsonaristas resgataram a portaria nº 188 que decretou o estado de emergência, porém, ela não orientava o cancelamento do carnaval; o ex-ministro da Saúde, Henrique Mandeta, revelou na CPI que “por cinco vezes escutou a palavra ‘nunca’” do presidente sobre cancelar a festa

Foto: Presidência da República
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Voltou a circular pelas páginas bolsonarista cards e "textos" que visam culpar os governadores pelo estado atual da pandemia. A base de argumentação é que o presidente Bolsonaro baixou portaria nº 188, em fevereiro de 2020, que declarava estado de emergência sanitária no Brasil, porém, o mesmo decreto não possuía nenhuma indicação e orientação aos governos estaduais de que o carnaval deveria ser cancelado.

O então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, deu declarações neste sentido e, durante o seu depoimento à CPI da Covid, também afirmou que Bolsonaro nunca deu declarações para que a festividade fosse cancelada, pelo contrário, de acordo com o depoimento do médico "por cinco vezes repetiu a palavra 'não' e 'nunca'".

Além disso, a portaria que decretou o estado emergência e que está sendo usada pelas páginas bolsonaristas para eximir Bolsonaro de culpa pela pandemia não orienta o cancelamento de eventos públicos ou privados em território nacional.

À imprensa, Luiz Mandetta, no comando do Ministério da Saúde, explicou que o estado de emergência foi decretado para trazer os brasileiros que estavam em Wuhan, o epicentro, naquele momento, do coronavírus.

Na seara acadêmica havia a preocupação com os turistas que viriam da China para o Brasil, o próprio Mandetta tocou no assunto em entrevistas e recomendou que as pessoas lavassem sempre as mãos e que a "vida não podia parar".

Mas, mesmo entre os pesquisadores não havia um consenso, pois, ainda não se tinha nenhuma evidência científica do vírus e se acreditava que o clima quente do Brasil seria um impeditivo para o vírus se alastrar. Teses que foram derrubadas entre abril e maio após estudos realizados nos EUA, Itália, Brasil e Inglaterra.

O primeiro estudo sobre a chegada do vírus no Brasil foi publicado em maio de 2020 pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).

O primeiro caso

O primeiro caso oficial de coronavírus foi revelado no último dia do carnaval, 25 de fevereiro de 2020: um homem de 61 anos que tinha acabado de chegar da Itália, país europeu que logo depois entraria em colapso sanitário.

No dia 31 março, o Brasil registrava 5.812 casos de infectados pelo coronavírus e 202 mortos, de acordo com os dados divulgados pelas secretarias estaduais de Saúde na época. Neste mesmo mês vários estados brasileiros iniciaram as políticas de quarentena e o uso de máscara passou a ser obrigatório. É também neste momento que Bolsonaro passa a defender a tese de que se tratava de “uma gripezinha” e tantas outras teses negacionistas passaram a circular nas redes.

Desde então, o governo Federal, por meio do presidente Bolsonaro, nunca decretou portarias de apoio às políticas estaduais, pelo contrário, sempre que pôde entrou em rota de conflito com governadores, estabeleceu a narrativa da “economia x vida” e incentivou parte da população brasileira a “enfrentar o vírus”.

Mandetta, Nelson Teich e Eduardo Pazuello passaram pelo Ministério da Saúde e hoje o governo federal já conta quatro ministros com a chegada de Marcelo Queiroga, em abril, para comandar as ações de enfrentamento a Covid-19, e foi só com Queiroga que o uso da máscara entrou no discurso da pasta ao declarar, em sua posse, que o Brasil agora era a “pátria de máscara”.

Por fim, em depoimento à CPI da Covid, Mandetta afirmou que se tivesse seguido as orientações negacionistas do presidente Bolsonaro “teria levado o país a uma carnificina”.

Dessa maneira, a alegação dos grupos bolsonaristas de que a portaria nº 188, assinada por Bolsonaro, que decretou o estado de emergência, foi ignorada pelos governadores é mentirosa, pois, nem na portaria e nem ao longo da pandemia o governo federal emitiu orientações que fossem ao encontro das políticas de distanciamento social e lockdown, mesmo com inúmeros estudos científicos indicando a efetividade dessas medidas para conter o avanço do coronavírus.