Por que homens acham normal se masturbar em ônibus?

Em 20 dias, cinco casos chamaram a atenção na mídia

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Em 20 dias, cinco casos chamaram a atenção na mídia. Em São Paulo, foram 470 ocorrências de janeiro a outubro. Por Dri Delorenzo Sabe aquele cochilo no ônibus na volta do trabalho? Se você é mulher, esqueça. É assustador o número de casos de homens que se utilizam de um espaço coletivo, como ônibus, trens, metrô e até avião, para se masturbarem, constrangendo, assediando e violentando mulheres. Sem contar os casos de transportes individuais, como Uber ou Taxi, como o caso denunciado pela colunista da Fórum Clara Averbuck, que se tornou a campanha #MeuMotoristaAbusador. Ajude a Fórum a fazer a cobertura do julgamento do Lula. Clique aqui e saiba mais. Somente neste mês, em 20 dias, cinco casos de homens se masturbando em transportes coletivos foram destaque no noticiário. Em menos de 24 horas, três. Imagine a quantidade não denunciados pelo país. Um deles aconteceu em Cariacica, na Grande Vitória, na última terça-feira (19). O homem de 27 anos simplesmente tirou o seu pênis para fora da roupa e fez sinal chamando a adolescente de 15 anos que estava no ônibus. A vítima, assustada, pediu ajuda para o cobrador e o motorista parou o veículo. Na delegacia, o assediador disse que queria urinar. Outro foi em Salvador, também na terça (19). Não foram divulgados detalhes, apenas que o homem foi preso em flagrante em um coletivo que faz a linha Boca da Mata/Pituba. Em São Bento do Una, Agreste de Pernambuco, um homem de 26 anos foi detido por estar se masturbando dentro de um ônibus escolar, na semana passada. Três adolescentes perceberam e pediram para o motorista parar o veículo e fugiram. Também viralizou nas redes sociais, na terça-feira (12), o vídeo de um homem se masturbando dentro de um ônibus em Campina Grande (PB). E outro homem se masturbou e ejaculou em duas mulheres que viajavam ao seu lado durante um voo que fazia a rota Belém-Brasília, na sexta-feira (8). Cultura do estupro Somente em São Paulo, foram registradas 470 ocorrências contra a dignidade sexual em trens, metrôs e ônibus da capital e grande São Paulo, de janeiro a outubro de 2017, segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. “As naturezas são relacionadas a importunação ofensiva ao pudor, ato obsceno, estupro, assédio sexual, violação sexual mediante fraude e corrupção de menores”, diz a assessoria do órgão em nota enviada à Fórum. Esse número cresceu significativamente em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram registrados 352 casos. Ou seja, houve um crescimento de 33,5%. Para a cineasta Paula Sachetta, diretora do documentário Precisamos Falar do Assédio, “os homens fazem isso porque têm a certeza de que tudo bem. Não porque não será preso, mas porque não vê problema dentro da cultura na qual estamos inseridas”. Na opinião dela, que acaba de lançar a campanha Fecha a perna, homem, a única forma de mudar isso é com educação. “Não adianta falar que temos que prender”, ressalta. Paula chama a atenção sobre como “ensinamos o tempo todo as mulheres a sentarem de perna fechada, a se protegerem, a se defenderem, a se comportarem. E não se ensina os meninos a não serem assediadores. Então ele acha que pode fazer o que quiser com o corpo de qualquer mulher.” Para a doutora Direito pela USP Maíra Zapater, prisões e penas graves não são a solução, embora explique que ejacular numa mulher dentro de um coletivo seja sim uma violência e um crime de estupro. “Como afirmar que a vítima não foi constrangida a receber um jato de esperma em seu pescoço? Como nomear de ‘não violenta’ uma conduta que implicou contato físico do corpo da vítima com uma secreção genital do agressor?”, diz.  “Penso ser urgente a criação de uma descrição legal de uma categoria intermediária que possibilite uma pena reduzida.” Segundo o Código Penal (Art. 213), constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: Pena – reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos”. Para relembrar O assédio dentro do transporte coletivo ganhou repercussão neste ano no final de agosto, quando, em São Paulo, na avenida Paulista, Diego Ferreira de Novais se masturbou e ejaculou na passageira que estava sentada ao seu lado no ônibus. Ele foi preso, acusado de estupro, mas o juiz José Eugênio do Amaral Souza Neto, do Tribunal de Justiça de São Paulo, o liberou. "Entendo que não houve constrangimento tampouco violência ou grave ameaça, pois a vítima estava sentada em um banco de ônibus, quando foi surpreendida pela ejaculação do indiciado", alegou o juiz, cuja decisão causou revolta e foi criticada na época. A economista Rosângela Pereira estava sentada do outro lado do corredor, próxima à vítima, que ela disse se chamar Cinthia, e relatou o que ocorreu dentro do ônibus. “Dentro do ônibus não tinham 20 pessoas. Entrei e sentei do lado direito e a vítima do lado esquerdo. Tanto eu como ela estávamos próximas ao corredor e, de repente, vi uma pessoa em pé. Achei estranho, porque tinha um monte de lugar vazio. Essa pessoa ficou parada do lado da Cinthia. De repente ela deu um grito e começou a falar ‘que nojo, se afasta de mim’. Quando eu olhei, o cara virou para mim e ela fez o movimento de tirar todo o gozo que o cara ejaculou nela. Nisso que ele virou, veio uma parte para cima de mim, mas eu tive reflexo e então o gozo dele não me acertou. Ficou tudo no chão. Ela entrou em choque dentro do ônibus”, contou Rosângela. Solto pela justiça, poucos dias depois, ele foi novamente detido, após atacar uma passageira dentro de um ônibus, também na região da avenida Paulista. Ele esfregou o pênis na vítima, que tentou sair e ele a segurou. A mulher estava a caminho do trabalho e ficou em estado de choque.
Nota da SSP A SSP informa que foram registradas 470 ocorrências contra a dignidade sexual em trens, metrôs e ônibus da capital e grande São Paulo, de janeiro a outubro de 2017. As naturezas são relacionadas a importunação ofensiva ao pudor, ato obsceno, estupro, assédio sexual, violação sexual mediante fraude e corrupção de menores. No mesmo período, no ano passado, foram registradas 352 desse tipo.   Cabe destacar que São Paulo é pioneiro no aprimoramento de políticas de segurança no combate à violência sexual e de gênero. O Estado conta com 133 Delegacias de Defesa da Mulher (DDM) – o que representa 35,8% de todas as DDMs do país, sendo nove delas localizadas na Capital, 16 na Grande SP e 108 nas cidades do Interior, cobrindo todas as regiões do Estado.   Desde 2001, a SSP mantém, em parceria com as secretarias de Saúde e Desenvolvimento Social, o programa Bem-Me-Quer, que proporciona acolhimento especial para vítimas na cidade de São Paulo e na região Metropolitana. O objetivo é oferecer um atendimento humanizado que ajude a vítima a amenizar as dificuldades encontradas e a recuperar a autoestima.   A pasta também tem realizado diversas ações para combater a violência contra a mulher no Estado e na Capital, entre as atividades desenvolvidas estão o Projeto Integrar, o Protocolo Único de Atendimento que estabelece um padrão para o atendimento desse tipo de ocorrência e a parceria com o Grupo de Atuação Especial de Enfrentamento à Violência Doméstica (Gevid), do Ministério Público, visando aperfeiçoar a formação dos policiais para atender mulheres vítimas.
Foto capa: Cesar Ogata