Por pressão, central de catadores pode ser expulsa de bairro nobre em São Paulo

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Os catadores de materiais recicláveis da Cooperativa de Catadores Granja Julieta Nossos Valores denunciam pressão da prefeitura e de comerciantes para retirar a central de coleta da região. A movimentação se acentuou a partir de 12 de dezembro de 2008, quando o local foi destruído por um incêndio que, segundo os integrantes da cooperativa, pode ter sido criminoso.

Criada em 2003, o projeto chegou a ter 80 cooperados trabalhando na Granja Julieta, um dos bairros mais valorizados da cidade de São Paulo. Ao lado de empreendimentos imobiliários de alto padrão, existem planos de construção de avenidas, parques e centros esportivos, incluido a da Ponte Burle Marx (para ligar o parque Burle Marx à avenida Professor Alceu Maynard de Araújo). Grupos imobiliários usam as possíveis intervenções futuras em seus anúncios para indicar que a região “também promete muita valorização” para seu novo investimento. Comerciantes e grupos políticos estariam pressionando a prefeitura a retirar definitivamente a central da região.
A sede, cedida pela subprefeitura de Santo Amaro, fica dentro de um terreno onde também funciona o almoxarifado da subprefeitura, na Avenida Professor Alceu Maynard de Araújo, 292. Mesmo sem ter esteiras e nem sobrepiso, a cooperativa é citada na página eletrônica da subprefeitura como exemplo de bons resultados.

“O trabalho silencioso realizado pelos catadores da Cooperativa da Granja Julieta trazia benefícios para o bairro que vão além da economia causada pelos materiais retirados do lixo e enviados para reciclagem", sustenta Ana Maria Domingues Luz, presidente do Instituto GEA - Ética e Meio Ambiente "A cooperativa retirou muitas pessoas da rua e lhes deu oportunidade de trabalho e de inclusão na sociedade. Oportunidade de poder pagar por sua moradia, de manter seus filhos na escola”.

O subprefeito Geraldo Mantovani Filho (ex-prefeito de Águas de Lindóia) disse ser solidário a causa dos cooperados, mas sustenta ter sua ação limitada diante de grupos políticos que estariam atuando para impedir a reabertura da central, ainda que provisória.

Ana Maria Domingues Luz lamenta “Tudo isso está suspenso e correndo o risco de se perder totalmente, porque o governo municipal não concorda em emprestar um galpão sem uso para que os catadores possam voltar a trabalhar. Essa posição é absurda e cruel.”

Mara Lúcia Sobral Santos, que assumiu a presidência da cooperativa após o incêndio protesta: “Hoje, estamos aqui, mas já viemos de outro lugar, amanhã não sabemos, não temos direitos, principalmente se somos negros e negras. É um sentimento de dor e revolta, sinto-me como um bicho acuado, não um ser humano”.

Incêndio e desencontros Os cooperados da Granja Julieta que já estavam desde setembro sem salário em dia por causa da redução do valor pago pelos materiais recolhidos. Depois do incêndio, que segundo os cooperados, teve origem criminosa, a situação ficou pior. A Secretaria de Assistência Social não teria prestado apoio adequado, e as cestas básicas que deveriam ter sido oferecidas não foram liberadas. Segundo informações de funcionários da subprefeitura de Santo Amaro, a falha foi no sistema de planejamento de compras que levou a secretaria ao desabastecimento.

A cooperativa funciona vinculada à Secretaria de Serviços, o que acarreta alguns problemas. “A Coleta Seletiva é vista pela Secretaria de Serviços/Limpurb como um problema e não como uma solução”, lamenta Nina Orlow, da Agenda 21. Segundo ela, as subprefeituras que se envolvem e tentam ajudar esbarram na “estrutura de competências”, já que a Secretaria de Serviços promove ações de Educação Ambiental, consideradas precárias, desarticuladas e sem investimentos. “E a Educação Ambiental é o ponto fundamental na base para o sucesso dessa atividade”, pondera.

Todas as tentativas feitas pela subprefeitura de Santo Amaro para resolver o problema foram em vão. A transferência destes trabalhadores para outras centrais foram uma a uma abrindo outras feridas e deixando exposto toda a fragilidade e desrespeito com que é tratada educação Ambiental e a Inclusão Social na cidade de São Paulo.

Um dos destinos foi a central Miguel Yunes, que trabalha há cinco anos sem energia elétrica própria. A força vem “emprestada” pela Eco-urbis, pois a Limpurb e a subprefeitura impedem uma definição sobre em nome de quem a concessionária deve instalar a energia no local. Outro problema encontrado pelos cooperados de Miguel Yunes é ao esgoto que chega a se espalhar na área. Alguns cooperados estão trabalhando na central da Capela do Socorro, mas, no local não existe espaço para todos. A transferência de associados para centrais mais distantes mostrou-se inviável também, já que não há dinheiro para o transporte.

Fábio Luiz Cardoso sócio educador ,membro do Instituto GEA Ética e Meio Ambiente e da coordenação do Projeto de Coleta Seletiva Brasil Canadá está acompanhando o caso da cooperativa da Granja Julieta afirma que “Políticas de incentivo por parte do governo, municipal, federal e estadual as cooperativas de reciclagem são mais que necessárias a fim de manter um serviço essencial a população que é a coleta seletiva, a manutenção dos empregos gerados e o reconhecimento desta categoria no país”.