Posse de Pazuello: Bolsonaro faz autoelogios, chama ministro de "vencedor" e ignora 133 mil mortes

O presidente tentou posar de profeta e tratou a pandemia como um problema já superado; dados de secretarias de saúde apontam que ainda estão morrendo cerca de 800 pessoas por dia no Brasil

Reprodução/TV Brasil
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Nesta quarta-feira (16), o presidente Jair Bolsonaro usou a cerimônia de pose do general Eduardo Pazuello como ministro da Saúde para exaltar a si mesmo e tentar passar a imagem de que esteve certo desde o início da pandemia quanto à medidas de enfrentamento que deveriam ter sido adotadas. O país é o segundo do mundo em mortes totais e um dos maiores no índice de mortes por milhão de habitantes.

"Eu aprendi, no meio militar, que pior que uma decisão mal tomada é uma indecisão", disse o presidente em trecho do discurso em que disparou crítica ao ex-ministro Henrique Mandetta e defendeu o uso da hidroxicloroquina contra o Sars-Cov-2. O ex-capitão tentou posar de profeta, afirmando que já sabia tudo que iria acontecer e que acertou em todas as decisões, tomadas com base na "observação". "Eu aceito, mesmo não sendo médico, qualquer crítica à hidroxicloroquina, mas por parte das pessoas que possam apresentar uma alternativa a ela", afirmou.

Sem mencionar as 133 mil mortes que foram confirmadas pelo Ministério da Saúde durante a pandemia, Bolsonaro exaltou Pazuello, como se a grave crise sanitária já tivesse acabado. "Pazuello, você é um vencedor. Confesso que quando te convidei, eu só acreditei no meu convite dado a sua vida pregressa. Tudo que você podia fazer, você fez por esse Ministério da Saúde", declarou o ex-capitão.

O presidente ainda criticou governadores e a imprensa por defenderem o isolamento social - recomendado pela Organização Mundial da Saúde. "Entendo que alguns governadores foram movidos pelo pânico proporcionado por essa mídia catastrófica que nós temos no Brasil. Não é uma crítica à imprensa. É uma constatação", disse, sob aplausos. "Somos o país com o maior número de dias em lock-down nas escolas. Isso é um absurdo", criticou ainda.

O ex-capitão ainda fez elogios ao deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), negacionista convicto que errou todas as previsões feitas sobre a pandemia. "Quero cumprimentar o meu querido Osmar Terra. Um aliado desde o princípio, com números, dados convicção. Também foi massacrado, mas nós sabemos resistir", declarou Bolsonaro.

Discurso de Pazuello

Pazuello decidiu adotar um tom mais sério em seu discurso, tratando a pandemia como um problema ainda vigente, apesar de falar que "já podemos visualizar o retorno à normalidade muito em breve". "Os desafios que temos enfrentado são reais. São enormes e são muitos. A nação brasileira é mais forte que tudo isso", disse.

O ministro, que ficou como interino por três meses, agradeceu o apoio dos ministérios da Defesa e da Casa Civil - comandado por dois generais - e disse que "literalmente, tivemos que trocar a roda do carro andando". "A responsabilidade era enorme", afirmou.

Ele defendeu a "readequação de protocolos" feita durante a usa gestão e disse que atuou "de forma transparente e profissional" com o Congresso, estados e municípios. O ministério sofreu fortes críticas em junho por supostamente trabalhar para maquiar dados e atrasar a divulgação dos números diários - que fez surgir um consórcio de vecículos de imprensa.

Pazuello não comentou sobre o problemas de testagem no país, que foi um dos desafios que ele apresentou quando assumiu interinamente. A subnotificação no Brasil ainda é muito alta.

Críticas

Apesar do tom premonitório, o presidente é alvo de mais de 40 pedidos de impeachment – muitos deles apresentados em razão da postura adotada por ele diante da pandemia -, e possui em suas costas duas denúncias no Tribunal Penal Internacional por genocídio e crime contra a humanidade. Relembre aqui como foi a atuação de Bolsonaro no período.

A pandemia também não pode ser tratada como um assunto superado. Levantamento feito pelo consórcio da imprensa com dados das secretarias estaduais de Saúde aponta que a média diária de mortes é de 813.