Povos Yanomami protestam contra projeto de Bolsonaro que prevê garimpo em terra indígena

Em carta, lideranças denunciam ao Congresso Nacional impactos socioambientais do garimpo. "Nossos avós e tios morreram por causa dos garimpeiros. Nós não queremos repetir essa história de massacre", diz o texto

Victor Moriyama/ISA
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Povos Yanomami e Ye’kwana denunciaram nesta terça-feira (26), por meio de carta endereçada ao Congresso Nacional e ao governo de Jair Bolsonaro, os diversos impactos da exploração garimpeira em suas terras indígenas. Reunião para debater conteúdo da carta ocorreu no último final de semana, na Terra Indígena Yanomami, em Roraima. Participaram do encontro cerca de 116 lideranças de 26 regiões, representando 53 comunidades de todo o território. Para protestar, cerca de 120 indígenas formaram com seus corpos a expressão "Fora Garimpo" no sábado (23). A carta foi lida pela coordenadora da frente parlamentar indígena, a deputada Joênia Wapichana (Rede-RR), e denuncia que "garimpeiros estão envenenando as pessoas e contaminando rios, peixes, e espantando a caça". De acordo com a Fiocruz, em uma comunidade do Rio Uraricoera, na TI Yanomami, mais de 90% das pessoas que participaram da pesquisa apresentaram alto índice de contaminação por mercúrio. "O governo tem o dever de acabar com isso e trabalhar para cuidar da saúde dos povos Yanomami e Ye’kwana e proteger a terra-floresta", diz o texto. Bolsonaro e o garimpo O presidente Jair Bolsonaro já disse diversas vezes que pretende abrir mineração em terras indígenas e chegou a levar um Yanomami ao Palácio do Planalto para dizer que tinha aval dos indígenas. Na carta, lideranças rejeitaram a representatividade do indígena levado por Bolsonaro. "Nós já fizemos muitas denúncias e estamos revoltados porque ainda existe garimpo dentro das nossas comunidades. Queremos ação. Nossos avós e tios morreram por causa dos garimpeiros. Nós não queremos repetir essa história de massacre", afirma o manifesto das lideranças. De acordo com o Instituto Socioambiental, doenças trazidas pelos garimpeiros foram responsáveis pela morte de pelo menos 20% da população Yanomami na década de 1980. Ainda, no final dos anos 2000, o investimento em fiscalização diminuiu ainda mais e as Bases de Proteção da Funai na Terra Indígena Yanomami foram desativadas, o que trouxe o garimpo de volta na região.