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No último ano, com a aproximação do Dia das Mães, foi publicado no Questão de Gênero um texto que questiona a hipocrisia social em torno da maternidade. Embora a figura materna seja vista como pura, bela e amorosa, dando a aparência de que as mães devem ser os seres mais respeitados do mundo, na realidade elas são desrespeitadas de diversas formas, agredidas e violentadas quando não se encaixam nos critérios machistas de maternidade. Muitas também são exploradas à exaustão no cuidado com o lar e os filhos.
Não é difícil perceber que a sociedade trata as mães como animais de trabalho sem direito ao descanso. Elas são responsáveis pelos afazeres domésticos, pela educação das crianças, alimentação e assistência de todos da família, e, se no meio disso tudo, ainda precisam se enquadrar no que o machismo dita: para nossa cultura misógina, tem um tipo certa de mãe, que não pode amamentar em público, não pode ter uma sexualidade livre e declarada e deve possuir certos tipos de comportamentos para que seja considerada uma boa mãe.
No dia a dia, há grande sobrecarga de trabalho imposta às mães, pois a subjugação constante dessas mulheres é naturalizada. Se a mãe descansa, cuida de seu lazer e tem relacionamentos para além da maternidade, certamente será difamada por parentes e conhecidos. Mãe, em nossa cultura, não tem direito a individualidade, sexualidade, prazer e autonomia; ela sempre é a culpada por tudo o que der errado em sua família e com seus filhos.
A forma como a sociedade trata a maternidade evidencia o sistema de dominação e misoginia que explora e violenta as mulheres. Pode-se dizer que a maternidade não é uma opção, mas sim uma imposição cultural. É por isso que o direito de escolha ainda é atacado e impedido de todas as formas, por isso não conseguimos avançar na discussão sobre a legalização do aborto e por isso não conseguimos enxergar que a responsabilidade pelas crianças é de toda a sociedade, não apenas das mães.
Por isso, chega a dar embrulhos no estômago ver a exploração midiática e comercial do Dia das Mães - ao mesmo tempo em que familiares e filhos parabenizam suas mães com vários clichês sexistas, no cotidiano, eles não são sequer capazes de lavar as próprias cuecas.
Para o segundo domingo de Maio, o melhor e maior presente que as mães brasileiras poderiam receber seria o presente da equidade entre os gêneros, da divisão justa de tarefas e da liberdade para amamentar, sair e ser feliz com plena autonomia.
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Foto de capa: Reprodução / Facebook