Professores da USP divulgam manifesto contra a PEC 241

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"Compreendemos o momento econômico difícil que o país tem atravessado, mas repudiamos o mecanismo que este governo pretende aprovar", diz trecho do documento assinado por dezenas de docentes do curso de Gestão de Políticas Públicas. Confira a íntegra Por Redação Professores e professoras do curso de Gestão de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo (USP) divulgaram, no final da tarde da última segunda-feira (17), um manifesto contra a PEC 241, já aprovada em 1ª votação na Câmara dos Deputados. A proposta vai estabelecer um teto para os investimentos em saúde, educação e reajuste do salário mínimo pelos próximos 20 anos. "Compreendemos o momento econômico difícil que o país tem atravessado, mas repudiamos o mecanismo que este governo pretende aprovar", diz trecho do documento assinado pelos docentes. Confira a íntegra. MANIFESTO CONTRA A PEC 241 Nós, professoras e professores do Curso de Gestão de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo abaixo-assinados, diante da aprovação, em 1ª votação na Câmara dos Deputados, da Proposta de Emenda Constitucional 241/2016, manifestamos nossa apreensão com o eventual congelamento das despesas públicas primárias federais pelos próximos vinte anos. Segundo propõe a referida PEC, os investimentos no período deverão passar a variar conforme os índices oficiais de inflação, e não mais de acordo com o aumento das receitas, conforme prevê a legislação em vigor. Compreendemos o momento econômico difícil que o país tem atravessado, mas repudiamos o mecanismo que este governo pretende aprovar. Em primeiro lugar porque trata-se de medida de grande complexidade e forte impacto sobre a vida de milhões de brasileiros que não foi levada à apreciação do eleitorado, no último pleito presidencial, em 2014. Ou seja, trata-se de proposta que não passou pelo crivo das urnas. Em segundo lugar porque a mesma está tramitando sem que seja feita uma discussão a sério com a sociedade brasileira, que em sua ampla maioria depende dos serviços públicos de educação e saúde e é a maior interessada em sua ampliação e na melhoria de sua qualidade. Em terceiro lugar porque a aprovação da PEC, ao desvincular receitas e despesas, implicará, nos próximos anos, numa proporção menor dos investimentos em políticas sociais em relação ao PIB do que aquilo que se pratica hoje. Isso é uma temeridade dadas as tendências de envelhecimento da população, o que implicará em crescentes pressões sobre o Sistema Único de Saúde para o tratamento de doenças financeiramente dispendiosas, e dada a necessidade de crescente melhoria da formação educacional das novas gerações tendo em vista a importância de melhor preparo para o mercado de trabalho e o necessário aumento de produtividade da mão-de-obra brasileira. E em quarto lugar porque não há qualquer sinal de unanimidade, na sociedade em geral e entre os especialistas em particular, em relação ao discurso apresentado pelo governo de que o corte de despesas seja a única saída para resolver a crise fiscal. Como se sabe, economistas de diferentes correntes teóricas têm criticado a proposta, a qual ignora as evidências históricas de que medidas contracíclicas são importantes em momentos de crise, especificamente o papel das políticas sociais na retormada do crescimento econômico. Neste sentido o Brasil estaria, neste momento, na contramão da História no que diz respeito ao tema. Não ignoramos a necessidade de que a gestão fiscal do Estado brasileiro seja sólida e responsável. No entanto entendemos que num país que ainda conta com milhões de indivíduos pobres e que ostenta um dos piores níveis de desigualdade social em todo o mundo, não é justo fazer recair sobre os mais necessitados o ajuste das contas públicas. Outras medidas que ajudariam no reequilíbrio das finanças governamentais, adotadas há tempos em diversas nações do mundo desenvolvido, podem e devem ser levadas em conta neste momento da História brasileira. Entre elas destacam-se o efetivo combate à evasão fiscal; a implementação de uma reforma tributária de corte fortemente progressivo, taxando mais as faixas mais altas de renda, bem como as grandes propriedades e heranças; o combate ao rentismo, que acarreta graves distorções à economia brasileira, direcionando recursos públicos e privados para atividades concentradoras da riqueza e limitadoras do desenvolvimento nacional; e a melhor gestão das políticas públicas, com vistas ao aprimoramento da qualidade do gasto público. Preocupa-nos a perspectiva de empobrecimento de parcelas crescentes da população e de aumento da exclusão social, bem como as consequências que podem daí advir, como a violência e a anomia. Chamamos a atenção para a permanente necessidade de efetivação dos preceitos previstos na Carta Magna promulgada em 1988. São Paulo, 17 de outubro de 2016. Prof. Dr. Agnaldo Valentim Prof. Dr. Alessandro Soares da Silva Prof. Dr. Alexandre Ribeiro Leischenring Prof. Dr. André Mountian Profa. Dra. Cristiane Kerches da Silva Leite Prof. Dr. Danilo Tavares Prof. Dr. Eduardo de Lima Caldas Profa. Dra. Gislene Aparecida dos Santos Prof. Dr. Jaime Crozatti Prof. Dr. Jorge Alberto Machado Prof. Dr. José Carlos Vaz Prof. Dr. José Renato de Campos Araújo Prof. Dr. Luis Gustavo Bambini de Assis Profa. Dra. Marta Assumpção Rodrigues Prof. Dr. Martin Jayo Prof. Dr. Pablo Ortellado Profa. Dra. Patricia Emerenciano Mendonça Profa. Dra. Renata Mirandola Bichir Profa. Dra. Ursula Dias Peres Profa. Dra. Vivian Urquidi Prof. Dr. Wagner Pralon Mancuso Prof. Dr. Wagner Tadeu Iglecias