Profissionais de Saúde negacionistas recusam vacinas no Amazonas

De acordo com a infectologista Ana Galdina, infelizmente a politização dos imunizantes vem contribuindo para este cenário no Estado. Presidente do Sindicato dos Médicos defende tratamento precoce

Foto: Governo do Estado do Amazonas
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Por Mário Adolfo Filho

Quase dois meses depois de iniciada a vacinação em todo o Estado, o Amazonas ainda não conseguiu atingir a meta para profissionais de Saúde estipulada pela Fundação de Vigilância em Saúde (FVS), que seria de 96.579 pessoas. De acordo com os dados do vacinômetro, 9.679 profissionais da área não foram imunizados, o que corresponde a 10% do total previsto.

Para a infectologista Ana Galdina, infelizmente a politização da vacina vem contribuindo para este cenário no Amazonas. “A gente fica muito surpreso de saber que, no meio dos profissionais de Saúde como um todo, ainda há resistência à vacina. Acho que tem uma pitada de situação ideológica e falta de busca do conhecimento técnico para justificar essa coisa injustificável”, afirmou em entrevista ao Portal Toda Hora.

O que Galdina fala é debatido internamente por profissionais de Saúde. Eles não gostam de se identificar, mas há grupos de médicos, enfermeiros e outros trabalhadores da área que já deveriam estar vacinados, mas que simplesmente não procuram os postos de imunização por opção.

"Eu já tomei as duas doses, mas muitos colegas optaram por não tomar a vacina. Trabalho em um hospital que enfermeiras da linha de frente não querem, mesmo já tendo perdido colegas. Elas têm medo de alguma reação alérgica ou algo do tipo", disse uma técnica de enfermagem que pediu anonimato.

Em carta aberta à população do Amazonas, 16 entidades médicas, entre associações, federações e sociedades do Estado, manifestaram apoio à vacinação em massa o mais brevemente possível. O documento, no entanto, não é assinado por duas importantes entidades: o Conselho Regional de Medicina (CRM-AM) e o Sindicato dos Médicos do Amazonas (Simeam), cujo presidente, Mário Vianna, chegou a propor, inclusive, um protocolo de tratamento precoce contra a  Covid-19. 

Fiocruz

O epidemiologista da Fiocruz Amazônia Jesem Orellana afirma que apesar do número impressionar – mais de 9 mil trabalhadores – o que faz diferença para a imunização coletiva é a vacinação em massa na população como um todo e não em subconjuntos.

"O que importa para se alcançar a imunidade coletiva é quantos por cento dos maiores de 17 anos foram vacinados. O impacto dos profissionais de Saúde que não se vacinarem vai beirar o zero em termos de imunização coletiva, que estamos muito longe, aliás", explicou.

Jesem acredita que dentre os mais de 9 mil ainda não imunizados, nem todos são negacionistas. "Claro que há um número considerável de trabalhadores de Saúde que opta por não tomar vacina, mas a maior parte pode ser por outras razões, como viagem, óbito, adoecimento e outras razões", finalizou.