Qual é a agenda do campo democrático?

Em artigo, Leandro Seawright diz: “Estejamos certos de que chegou o tempo de pensar uma agenda arejada, arrojada e de repensar o papel dos partidos políticos e da atuação política no presidencialismo de coalização”

Foto: Wikimedia Commons
Escrito en OPINIÃO el

“O conceito de progresso deve ser fundamentado na ideia de catástrofe. Que ‘as coisas continuem assim’, eis a catástrofe.” Walter Benjamin

A derrota nas últimas eleições presidenciais faz pensar sobre o futuro dos democratas. E o futuro dos democratas necessita de uma agenda clara que responda sem muita divagação à questão: por onde se começa uma reconstrução política? Quando apenas se reage às notícias diversas, aos eventos mais doloridos e aos procedimentos antidemocráticos mais do que se apresenta propostas, torna-se necessário refazer os horizontes. Não restam dúvidas de que as informações disseminadas com velocidade insuperável, as desinformações e os conteúdos raivosos das redes sociais são indicativos de que a pós-política está ocupando os espaços. Idas, vindas, avanços, recuos, fakes, memes, entre outras coisas, além do culto ao absurdo, são movimentos calculados – quase que como estratégia de guerra comunicacional. Já é consenso de que os tanques nas ruas, as investidas bélicas e as ostensividades não os únicos meios para a destruição de um Estado Democrático. A destruição é mais sutil: está no plano da linguagem quase que em uma histeria coletiva – com todos odiando a todos por todos os lados. A minha proposta é a de que deixemos de fazer a reflexão relacionada apenas ao elemento tosco da política contemporânea. Proponho que avancemos para a esfera econômica, entre outras – realizando um debate honesto sobre as nossas desventuras brasileiras, desvinculando-nos do debate sobre os costumes por exemplo. Assim como sabemos que em um processo eleitoral, quem fixa a pauta tem vantagem sobre quem não o faz, agora é preciso fixar a agenda do campo democrático. Qual é a agenda dos democratas? Da outra agenda já estamos fartos de discutir e de reagir: trata-se, entre outras coisas, da ruptura truculenta do pacto democrático criado no ambiente pós-Constituição de 1988 e do rearranjo das elites financeiras em torno do neoliberalismo tardio. Que fazer? Faz-se necessário definir prioridades. Entre muitas outras:
  1. Educação sem grandes ilusões – no chão da escola, das universidades;
  2. Combate ao aumento da miséria e do vertiginoso desemprego que assola brasileiras e brasileiros;
  3. Soluções de segurança pública se achar que este tema pertence a um único campo político;
  4. Repensar o papel das instituições e o fortalecimento das instituições;
  5. Aprender a fazer um uso ético e eficiente da tecnologia, reparando atrasos;
  6. Refletir sobre a economia com solidariedade e com estímulos aos investimentos;
  7. Buscar o arejamento dos atores da arena política: porque o perfil está mudando;
  8. Renovar quadros, buscando por perfis inovadores.
Estejamos certos de que chegou o tempo de pensar uma agenda arejada, arrojada e de repensar o papel dos partidos políticos e da atuação política no presidencialismo de coalização. Sobretudo, evitando as armadilhas da discórdia e da falta do diálogo.