Quando um jornalista apanha, chegamos ao limite da ruptura democrática, por Kerrison Lopes

"São trabalhadores e trabalhadoras que cumprem a função social de manter a nossa democracia respirando por aparelhos"

Bolsonaristas agridem jornalistas em ato contra a democracia, em Brasília (Foto: Reprodução)
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Três de maio. Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. A informação é um dos direitos fundamentais em qualquer sociedade. Quando se definiu quais profissões estariam na lista de funções essenciais que continuariam a trabalhar durante a pandemia, lá estava o jornalismo. Neste dia importante para a nossa profissão, saíram de casa colegas do Brasil inteiro. Alguns voltaram agredidos e insultados.

Na capital federal, os defensores de Jair Bolsonaro, que se aglomeravam numa manifestação, socaram, empurraram derrubaram profissionais da imprensa e chegaram a dar socos e chutar o fotógrafo Dida Sampaio, do Estado de São Paulo, que registrava imagens do presidente em frente à rampa do Palácio do Planalto, numa área restrita para a imprensa.

Marcos Pereira, que apoiava a equipe de reportagem também foi agredido fisicamente. O repórter da Folha de S.Paulo, Fabio Pupo, foi empurrado ao tentar defender o fotógrafo. Os repórteres Júlia Lindner e André Borges, foram insultados e xingados.

São trabalhadores e trabalhadoras que cumprem a função social de manter a nossa democracia respirando por aparelhos, acreditando no jornalismo e se submetendo, agora também, ao risco de serem espancados pela corja covarde do bolsonarismo.

Infelizmente, não foi somente em Brasília que houve ataque e intimidação a jornalistas na rua. Leandro Couri, um excelente repórter fotográfico do jornal Estado de Minas, foi ameaçado por estar fazendo o seu trabalho e informando sobre a grande aglomeração de pessoas em alguns pontos da cidade. Tempos de ódio, tempos em que o a serpente choca do fascismo já aprende a se mover para além do ninho. Não há mais dúvidas sobre o que está acontecendo e sobre o que precisamos evitar.

Muitos não sabem a realidade do jornalista brasileiro e infelizmente, até mesmo no campo das esquerdas, há quem cometa o erro grave de confundir o repórter de rua com o seu patrão, com os donos gananciosos das empresas da chamada grande mídia. Os repórteres brasileiros, na sua grande maioria, têm uma realidade precarizada, com salários de miséria, jornadas extensas com tensão, cobrança, censura dos patrões, plantões nos fins de semana, intimidação de todos os lados. Em Minas Gerais, acompanhamos pelo sindicato greves e paralisações em diversos veículos nos últimos anos.

Quando o jornalista apanha, quando repórteres são intimidados por estarem promovendo o interesse público, como hoje em Belo Horizonte e Brasília, chegamos ao limite mais perigoso para a ruptura violenta do Estado de exceção. Sem jornalismo, sem liberdade de imprensa, o que já está terrível no Brasil vai ficar muito pior em pouquíssimo tempo. Toda solidariedade aos profissionais dos veículos que foram agredidos hoje. #resistiremos.

* Este artigo não representa, necessariamente, a opinião da Fórum