Queda nas bolsas internacionais deve levar dólar próximo à barreira dos R$ 5 no Brasil

Entenda como a nova crise do petróleo está derrubando as bolsas de valores em todo o mundo e deve aprofundar a desvalorização do real ante ao dólar

Paulo Guedes, ministro da Economia (Jefferson Rudy/Agência Senado)
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A tensão gerada pela nova crise do petróleo, que derrubou em mais de 30% o preço do barril do petróleo - no maior tombo desde a Guerra do Golfo (1990 e 1991) - e está provocando um efeito dominó derrubando bolsas de valores em todo o mundo, deve influenciar diretamente na desvalorização do real, que pode chegar ainda mais próximo à barreira dos R$ 5 nesta segunda-feira (9) na abertura do pregão brasileiro.

Nesta segunda-feira (9), a queda de braço entre a Rússia e a Arábia Saudita, apoiada pelos Estados Unidos, na Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), somou-se à projeção de retação econômica em razão da epidemia de coronavírus e gerou pânico no mercado internacional.

As bolsas de valores europeias abriram com perdas de quase 12%. No início das operações, o índice London FTSE-100 perdeu 8,52%, o Frankfurt Dax 7,4%, o CAC-40 em Paris 5,71%, o Ibex-35 em Madri 6,7% e Oslo OBX 12%.

O índice de petróleo e gás da Europa caiu 7,3%, com os preços do petróleo em queda livre. Diante do quadro, o clima é tenso antes da abertura do pregão da Bolsa de Valores de São Paulo, que a partir desta segunda-feira passa a operar com uma hora a menos, às 17h, devido ao horário de verão nos EUA, que começou neste domingo (8).

Entenda a nova crise no petróleo
Na sexta-feira, em Viena, Áustria, a OPEP e a Rússia não chegaram a acordo quanto a mais cortes na produção de petróleo, para responder à queda no consumo global do combustível.

A Rússia, um dos principais aliados da OPEP, opôs-se a um corte de produção destinado a conter a queda nos preços do petróleo, afetados pela epidemia do novo coronavírus. A Arábia Saudita, que é apoiada pelos EUA, decidiu em retaliação cortar seu preço oficial de venda e estabelecer planos para um aumento dramático na produção de petróleo no próximo mês.

Com o anúncio, o preço do petróleo do tipo Brent chegou a recuar 31%, no maior tombo desde a Guerra do Golfo (1990 e 1991), na abertura dos negócios no mercado asiático.

Dólar
A tensão no mercado internacional deve aprofundar a fuga de capitais do Brasil, que nos dois primeiros meses de 2020 chegou a R$ 44,8 bilhões, superando o valor retirado em todo o ano de 2019, de R$ 44,5 bilhões, sem contar ofertas de ações (IPOs? e follow.-ons).

O valor também superou a saída de dólares de todo o ano da crise de 2008, maior da série histórica da B3, quando foram sacados R$ 44,6 bilhões.

Desde o início do ano, o Real foi a moeda que mais se desvalorizou diante do dólar no mundo com a junção dos fatores externos, provocados principalmente pela epidemia do Coronavírus, e internos, gerados pelas declarações atabalhoadas de Paulo Guedes e Jair Bolsonaro, que flertam com a instauração de um novo AI-5 no país.

Em 2020, enquanto o real já caiu mais de 15% em relação ao dólar, outros países acumulam perdas menores na mesma comparação. A perda em relação a moeda dos EUA foi de 4,98% na moeda do México (peso mexicano), 9,40% da África do Sul (rand), e 12,75% da Turquia (lira turca), por exemplo.

Na última semana, durante encontro com empresários bolsonaristas na Fiesp que farão parte de um conselho para a reforma administrativa, o ministro da Economia, Paulo Guedes, admitiu que a instabilidade política está influenciando a alta do dólar, que leva o real a ser uma das moedas mais desvalorizadas do mundo em meio à turbulência gerada pela epidemia de Coronavírus.

“Vocês mesmos [em referência à imprensa] estavam noticiando aí, que está caos, o presidente não se entende com o Congresso, não vai ter as reformas. Toda hora vai ter uma bomba soltada, o sujeito tomado em dólar está nervoso, começa a procurar hedge [proteção], isso é absolutamente normal”, afirmou em conversa com jornalistas.

Indagado se o dólar poderia chegar aos R$ 5, Guedes respondeu que se ele fizer “besteira”, isso pode acontecer.

“Ué, se o presidente [da República] pedir para sair, se o presidente do Congresso pedir para sair, se todo o mundo pedir para sair…”, afirmou. “Eu estou dizendo que é um câmbio que flutua, se eu fizer muita besteira, ele pode ir para esse nível [R$ 5]. Se eu fizer muita coisa certa, ele pode descer”, acrescentou.