"Querida Matafele Peinam": o poema que levou líderes mundias às lágrimas na ONU

Como uma jovem de 26 anos, que usa de sua poesia para conscientizar o mundo sobre a crise humanitária em seu pequeno país, fez diversos chefes de Estado chorarem na Cúpula do Clima da ONU.

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Como uma jovem de 26 anos, que usa de sua poesia para conscientizar o mundo sobre a crise humanitária em seu pequeno país, fez diversos chefes de Estado chorarem na Cúpula do Clima da ONU

Por Vinicius Gomes

[caption id="attachment_52580" align="alignleft" width="300"]Kathy, com seu companheiro e  a filha Matafele, após o discurso na ONU (Reprodução) Kathy, com seu companheiro e a filha Matafele, após o discurso na ONU (Reprodução)[/caption] Em uma reunião que juntou pessoas como Leonardo DiCaprio e o ex-vice-presidente dos EUA Al Gore, uma das presenças mais notáveis foi uma jovem mãe de 26 anos que conseguiu levar alguns dos 120 estadistas presentes às lágrimas. Kathy Jetnil-Kijiner foi uma das quatro pessoas escolhidas entre 544 candidatos da sociedade civil a abrir a Cúpula do Clima da ONU na semana passada, em Nova York, e ali ela declamou um poema escrito para sua filha de 7 meses, onde prometia protegê-la das ameaças da mudança climática que espreitam seu país, sendo aplaudida de pé por 2 minutos. Jetnil-Kijiner, que também é professora, jornalista e ativista, é natural das Ilhas Marshall, um pequeno país insular no Oceano Pacífico formado por atóis de coral de “baixa altura”, como são designados os diversos países-arquipélagos ameaçados de extinção, por conta das consequências catastróficas do aumento do nível do mar. Em seu discurso apaixonado, Jetnil-Kijiner usou de metáforas como a “lagoa que irá devorá-la” e acusou os líderes mundiais presentes, “aqueles escondidos detrás de placas que fingem que não existimos”, de ignorarem a tragédia que está por abater os habitantes de diversas ilhas no Pacífico, pois em seus países, na América do Norte e na Europa, “não tem ninguém se afogando, nem ninguém perdendo suas pátrias”. Mesmo assim, ela afirmou à pequena filha: “Nós não iremos desapontá-la. Você vai ver”. Veja o vídeo abaixo e a íntegra do poema intitulado: “Querida Matafele Peinam”:   querida matafele peinam você é um nascer do sol de sete meses com sorrisos ainda sem dentes você é careca como um ovo e careca como buda você é coxas de trovão e gemidos de relâmpago tão animada por bananas, abraços e nossas caminhadas matinais na lagoa   querida matafele peinam eu quero te falar sobre essa lagoa essa lúcida e sonolenta lagoa relaxante de frente ao nascer do sol   homens dizem que um dia essa lagoa irá te devorar   eles dizem que irá morder a beira do mar mastigar sob as raízes de árvore de fruta-pão engolir fileiras de quebra-mares e moer os ossos esmigalhados da ilha   eles dizem que você,sua filha e sua neta, também irão vagar sem raízes com apenas um passaporte para chamarem de lar   querida matafele peinam não chore   mamãe promete a você   ninguém virá te devorar   nenhuma gananciosa baleeira agindo como tubarão através de mares políticos   nenhuma empresa intimidadora e retrógrada de morais quebradas nenhuma burocracia cega irá empurrar esse oceano-mãe além do limite   ninguém está se afogando, meu bebê ninguém está se mudando ninguém está perdendo sua pátria ninguém se tornará um refugiado climático   ou eu deveria dizer ninguém mais   pelos ilhéus carroceiros de papua nova-guiné e pelos ilhéus plantadores de taro em fiji eu aproveito esse momento para me desculpar a você nós estamos traçando uma linha aqui   porque meu bebê nós iremos lutar sua mamãe papai bubu jimma seu país e presidente também nós todos iremos lutar   e apesar de existirem aqueles escondidos atrás de placas de platina que gostam de fingir que nós não existimos que as ilhas marshall tuvalu kiribati maldivas e o tufão hayan nas filipinas e as enchentes no paquistão, na argélia e na colômbia e todos os furacões, terremotos e tsunamis nunca existiram   ainda assim existem aqueles que nos enxergam   com as mãos tentando alcançar punhos para cima cartazes se desdobrando megafones gritando e nós somos canoas bloqueando navios carvoeiros nós somos a irradiação de vilas solares, nós somos os solos ricos e limpos dos fazendeiros do passado nós somos petições florescendo da ponta dos dedos de adolescentes nós somos famílias andando de bicicleta, reciclando e reutilizando engenheiros sonhando, desenhando, construindo artistas pintando, dançando e escrevendo nós estamos espalhando a notícia   e existem milhares nas ruas marchando com placas, mãos dadas, cantando por mudança AGORA   eles estão marchando por você, meu bebê eles estão marchando por nós   porque nós merecemos fazer mais do que apenas sobreviver nós merecemos prosperar   querida matafele peinam   seus olhos estão pesados com sono então apenas feche esses olhos, meu bebê e durma em paz   pois nós não iremos desapontá-la   você vai ver   Foto de Capa: Reprodução