Rachadinha: Depoimentos de funcionários de Carlos Bolsonaro foram combinados, diz MP

O filho do presidente é investigado no chamado “esquema de rachadinhas” na Câmara Municipal do Rio; recentemente, os seus sigilos ficais foram derrubados

Foto: Roosevelt Pinheiro/ABr
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O Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), que investiga a prática de rachadinha na Câmara Municipal do Rio, aponta indícios de que as declarações prestadas por quatro ex-funcionários do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos) foram "previamente combinadas" no gabinete do parlamentar às vésperas dos depoimentos, que ocorreram no fim de 2019.

Além disso, os promotores identificaram contradições nas informações prestadas pelo militar reformado Edir Barbosa Góes, sua esposa e seus dois filhos quando foram chamados para explicar quais atividades desempenharam para o vereador no período de quase duas décadas.

De acordo com reportagem d'O Globo, publicada em agosto de 2019, Rafael Carvalho Góes, irmão de Rodrigo Góes e filho de Edir e Neula Carvalho Góes, negava ter trabalhado para o gabinete de Carlos Bolsonaro, apesar de constar como funcionário entre janeiro de 2001 e junho de 2008.

Durante depoimento ao MP, Rafael Góes afirmou que cursava faculdade de Nutrição quando foi nomeado e que, embora não comparecesse ao gabinete, realizava "trabalho externo" na Zona Oeste do Rio, reduto eleitoral da família Bolsonaro.

Rafael declarou ao MP que distribuía folhetos informativos contendo "todas as propostas legislativas do vereador e os serviços já prestados, além da história do próprio vereador".

Mas, em ofício encaminhado ao MP-RJ, o gabinete do vereador Carlos Bolsonaro afirmou que não produz "informativos acerca das propostas e atividades do parlamentar", fazendo apenas "distribuição para as equipes do material desenvolvido pelo então deputado federal Jair Bolsonaro".

Procurada, a defesa de Carlos Bolsonaro afirmou que "o procedimento está sob sigilo decretado pelo Juízo" e que "não iria comentar ou passar qualquer informação". Também informou que apresentou requerimento em que "pede a investigação pelo vazamento de informações sigilosas, que ainda não foi analisada pelo Magistrado".

Combinando depoimentos

O depoimento da família Góes, de acordo com o Ministério Público, aconteceu no dia 5 de novembro de 2019, uma semana depois da data originalmente prevista, 31 de outubro.

No dia 30 de outubro a defesa da família Góes solicitou adiamento da oitiva, alegando que precisava de mais tempo par analisar os autos de investigação.

Porém, no mesmo dia 30 de outubro, a família Góes se reuniu no gabinete de Carlos Bolsonaro na Câmara Municipal do Rio, onde permaneceram por cerca de três horas.

No entanto, a família alega que apenas o pai teria entrado no gabinete para mostrar a notificação do MP. O chefe do gabinete de Carlos, Jorge Fernandes, teria orientado Edir e sua família a comparecer ao MP, o que não aconteceu na data prevista.

Todavia, o MP afirma que a narrativa "carece de verossimilhança, na medida em que não haveria necessidade de comparecimento pessoal de quatro integrantes da família Góes à Câmara Municipal, nem de sua permanência no local por mais de três horas, apenas para receber a orientação de comparecimento ao MPRJ".

Para os investigadores, o comparecimento de toda a família no gabinete de Carlos Bolsonaro e o tempo que por lá permaneceram "sugere que o teor de seu depoimento tenha sido coordenado no gabinete".

Quebra de sigilo de Carlos Bolsonaro mira até “babá”

Carlos Bolsonaro, o filho 02 do presidente Jair Bolsonaro, está na mira do Ministério Público (MP) do Rio de Janeiro por suspeita de corrupção no caso das “rachadinhas”. O MP solicitou a quebra de sigilo fiscal e bancário do político de Andrea Cristina da Cruz, babá contratada por Carluxo, e da mãe dela, Diva da Cruz Martins.

Enquanto Andréa ficou em sua equipe por 14 anos, saindo em fevereiro de 2019. No entanto, no ano de 2013, quando se casou, declarou que era babá.

Já sua mãe, Diva, foi incluída na folha de pagamento do gabinete, onde ficou por três anos. Mas, segundo informações do jornal O Globo colhidas há dois anos, ela afirmou que nunca havia trabalhado na Câmara dos Vereadores.

A solicitação do MP para quebra de sigilos para apurar as rachadinhas, foi aceita pelo TJ do Rio em 24 de maio.

A rachadinha virou um termo de destaque na política brasileira depois de várias suspeitas de corrupção em torno do Clã Bolsonaro que, segundo as denúncias, abusam da prática há muitos anos.


Com informações d'O Globo.