Racismo: Após dois anos de investigação, caso em SC é deslegitimado pela polícia, diz influencer

Ed Rocha Júnior sofreu ataques e ameaças de morte. "Jogo virou para mim como se eu estivesse manipulando a Justiça", afirma o ativista

Arquivo pessoal
Escrito en BRASIL el

Dois anos se passaram desde que o influenciador digital Ed Rocha Júnior começou a sofrer os primeiros ataques racistas e ameaças de morte através de sua conta no Instagram. Após muita persistência, no dia 3 de agosto de 2021, o Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC) apresentou denúncia contra dois homens por injúria racial. Um deles seria Misael Rangel Silva de Souza, conhecido como "MC Misa".

No entanto, o que deveria ser motivo de comemoração, virou frustração. Em entrevista à Revista Fórum, o influencer afirma que não tem notícias do caso há meses. Além disso, foi acusado de ter relações com a Promotora de Justiça Greicia Malheiros da Rosa, titular da 3ª Promotoria de Justiça de Camboriú.

Ed conta que foi chamado para ir à delegacia há cerca de 2 meses. Chegando lá, foi questionado se falava com Misael e se conhecia a promotora responsável pelo seu caso. Ao negar, recebeu como explicação que "MC Misa" teria entrado em contato com a polícia, alegando que a promotora conhecia a família de Ed. O funkeiro teria, inclusive, mostrado prints de uma suposta conversa com o influencer, onde ele admitia ter relações com a magistrada.

"[Misael] monta várias mensagens como se fosse eu escrevendo. Quando isso aconteceu, me caiu a ficha que a justiça é branca e não é justa nas denúncias que envolvem a gente. Parece que menosprezam nossas denúncias. O jogo virou para mim como se eu estivesse manipulando um caso de Justiça. Por causa de um print, foi desmerecida uma denúncia de dois anos. Um print falando que a promotora almoça na casa da vítima", desabafa Ed.

À reportagem, o MP-SC disse apenas que o "processo está correndo e seguindo os trâmites normais da Justiça".

Impunidade e falta de investigação

No último dia 28, o Supremo Tribunal Federal (STF) deu um passo adiante na pauta antirracista: quase que por unanimidade, os ministros da Corte aprovaram entendimento de que a injúria racial é um delito equiparável ao crime de racismo e, por isso, é imprescritível.

Porém, a impunidade, falta de investigação e abandono de casos que envolvem preconceito racial rondam as vítimas negras. Até mesmo casos emblemáticos, como a morte de João Alberto Silveira Freitas, espancado por seguranças do Carrefour, acabam em acordos financeiros.

Apesar de Ed ter sofrido ameaças de morte - que se estenderam para a família dele e incluíram a foto de um revólver - nenhum dos denunciados foi punido até hoje. Segundo o influencer, a polícia afirma que nunca encontrou Misael, apesar dele ter dado entrevistas à imprensa.

Além disso, o caso, que corre o risco de ser esquecido, já havia sido abandonado em 2020. De acordo com Ed, em 2021, com a divulgação da imprensa, foi reaberto.

"Tínhamos dúvidas de por que nunca tinha andado para frente e descobrimos que o caso, literalmente, foi esquecido. Ninguém tomou providências e só após virar uma repercussão real o MP foi lá e abriu o caso", conta o influencer. "Dois anos de investigação e até hoje as pessoas não foram punidas", lamenta.

Perfil dá visibilidade a outros casos de racismo

Com mais de 13 mil seguidores no Instagram, Ed aproveita a visibilidade para denunciar outros casos de racismo ocorridos na região. Recentemente, seu amigo, o empresário Allan Nascimento, recebeu xingamentos racistas como "macaco", "escravo" e "preto safado", além de ameaças de morte, vindos de um homem que estaria se relacionando com sua ex-namorada.

“Algumas pessoas acham que por fazer ataques racista na internet sairão impunes! As mensagens são de chocar qualquer um! Nossa existência é menosprezada, nossa humanidade é invalidada, nos comparam com animais, desprezam nossas origens e subestimam a justiça! Nossa LUTA está longe de acabar! Seguimos fazendo trabalho de preto! TRABALHO BEM FEITO!", escreveu Ed em publicação no Instagram.

Ambos os casos aconteceram em Balneário Camboriú, cidade litorânea de Santa Catarina. De acordo com o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado em 2010, a cidade tem apenas 12,4% da população negra (autodeclarados pretos ou pardos). Brancos correspondem a quase 86%.

"Não existe nenhuma política pública de combate ao racismo em Balneário Camboriú. Estamos no mês da Consciência Negra e não existe calendário. A cidade é extremamente elitizada, encobre esse tipo de situação para não dar visibilidade. Se eu não tivesse a visibilidade que tive com o tempo... Fico mal com as pessoas que não tem os mesmos privilégios", desabafa Ed.