Repressão no Chile já causou mais de 180 casos de lesões oculares, número recorde no mundo

Casos foram citados em discurso pelo ex-presidente Lula. No total, mais 20 pessoas perderam um ou ambos os olhos, além daqueles que tiveram a visão total ou parcialmente comprometida. Números relativos a menos de um mês superam os registrados nos últimos seis anos de ataques de Israel contra a Palestina

Atos no Chile (Foto: Carlos Vera/Colectivo2+)
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Na tarde deste sábado (9), em seu discurso para uma multidão em São Bernardo do Campo, o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio lembrou a convulsão social que acontece no Chile desde meados de outubro e citou um dado que veio à luz recentemente: “eu vi que já tem quase 200 pessoas que tiveram lesões nos olhos, porque a polícia chilena reprime atirando nos olhos das pessoas”. A informação citada pelo líder do PT é correta. O INDH (Instituto Nacional de Direitos Humanos) reconhece ao menos 182 casos oficiais de pessoas com lesões oculares graves, sendo que mais 20 delas tiveram a perda de um, ou ambos os olhos, e muitos outros tiveram a visão total ou parcialmente comprometida. Os números refletem uma política sistemática de atirar contra a cabeça dos manifestantes, usando armamento considerado “não letal” (balas de borracha ou de chumbinho). O caso mais recente desse fenômeno foi registrado no mesmo momento em que Lula fazia seu discurso. Na tarde deste sábado (9), a Clínica Santa Maria anunciou que o estudante Gustavo Gatica Villarroel, de 21 anos, perdeu a visão em ambos os olhos devido a feridas causadas por balas de chumbinho. Um grupo de centenas de estudantes que esperavam notícias sobre sua situação iniciaram um ato minutos depois e foram reprimidos com gás lacrimogêneo e mais balas de chumbinho por uma tropa policial, que atacou em plena entrada da clínica. Diante dessa situação, os observadores de Direitos Humanos da ONU, presentes no Chile desde o dia 2 de novembro, solicitaram ao governo que acabasse com o uso de balas de chumbinho ou de borracha nas manifestações. Porém, o ministro do Interior chileno (e responsável pelas corporações policiais), Gonzalo Blumel, deu a entender que não acatará o pedido, ao afirmar, em um programa de televisão local, que “temos que ser cuidadosos com as mudanças vamos realizar, porque podem gerar mais violência”. Também segundo os observadores da ONU, a cifra chilena de 182 casos de lesões oculares em quatro semanas supera enormemente os 154 casos registrados nos últimos seis anos de ataques de Israel contra os territórios palestinos ocupados.