A revolução se dará em posts

Procurado pelo jornal Folha de S. Paulo, o jornalista “Ninja” Fred Maia responde ao veículo em seu Facebook

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Procurado pelo jornal Folha de S. Paulo, o jornalista “Ninja” Fred Maia responde ao veículo em seu Facebook Redação No dia 17 de abril, a Folha de S. Paulo divulgou fotos de algumas pessoas que participaram dos protestos de junho de 2013. O jornal queria encontrar os manifestantes das fotos por conta da produção de um documentário da TV Folha. Entre elas, estava Fred Maia. A partir da matéria, a rede de amigos de Fred começou uma campanha sobre onde estaria Fred Maia, procurado pela Folha. A busca ainda gerou um debate sobre a exposição das pessoas na mídia. Leia abaixo o texto de Fred Maia sobre o procedimento do jornal, que o causou estranheza.

A revolução se dará em posts

Por Fred Maia [caption id="attachment_45722" align="alignright" width="346"]Depois da foto divulgada pela Folha, Meme na rede, depois da foto divulgada pela Folha (Foto: Reprodução)[/caption] Amigos/as, me manifesto só hoje - depois de me ausentar das redes para uns dias de descanso e estudos - por ocasião dos feriados santos e da Páscoa -, para dizer, primeiro, que não estou desaparecido e que estou muito bem. Segundo, para afirmar a minha estranheza quanto ao procedimento do jornal Folha de São Paulo, que em vez de encontrar vias menos invasivas, resolveu expor o rosto de pessoas anônimas na mídia - entre as quais este que vos fala -, como “procuradas”, ainda que para a liberação de imagens e participação em um documentário que a empresa pretende produzir sobre as manifestações de junho. Ora, publicam as imagens para depois pedir autorização. Não seria o contrário? E, por fim, achei muito engraçado que os amigos/as tivessem transformado essa “procura” numa alegre brincadeira, na qual, afinal, acabei encontrando muitas pessoas queridas que se manifestaram de forma muito afetuosa comigo e, de forma crítica, até, mas sem desrespeito com relação ao expediente da Folha. Compreendo, que essas manifestações acabam por demonstrar o quanto as redes sociais, os cidadãos e cidadãs midialivristas compreendem o sentido do jornalismo e seus fins, e como são capazes de operar em rede para construir significados e informar, muitas vezes, com mais leveza, exatidão e compromisso público, do que a maioria dos ditos meios de comunicação tradicionais. Uma das prerrogativas básicas do jornalismo é a apuração, qual seja, pesquisar, investigar, perguntar, ir a campo. Não sei como a Folha chegaria às pessoas que procura, mas, no meu caso, bastava uma busca nos próprios arquivos do jornal e encontraria uma matéria de página inteira, publicada na capa da Ilustrada, por ocasião do lançamento do livro que publiquei com a parceria dos jornalistas Javier Contreras e Vinicius Pinheiro. O livro investiga a obra em crônica do dramaturgo Plínio Marcos, também colaborador da Folha de São Paulo no maravilhoso Folhetim, à época editado pelo genial jornalista Paulo de Tarso. Outro meio fácil, usual, teria sido uma busca nas redes sociais (facebook e twitter). A Folha deve sim colocar o contraditório no seu documentário sobre as manifestações, porque é dessa forma que se faz o bom jornalismo e o documentarismo. Não tenha dúvida de que a Folha pretende os meus direitos de imagem, na qual apareço prestando socorro, dando amparo e solidariedade à jornalista Giuliana Vallone, que foi alvejada por uma bala de borracha disparada contra mim pela truculenta polícia de São Paulo, quando enfrentava os facínoras que espancavam jovens na rua Augusta, local onde eu mesmo já enfrentara a temível polícia da ditadura nos anos 70. Naquele dia 13 de junho, subi a Serra de Santos para São Paulo para me encontrar com os companheiros do Fora do Eixo e da Midia Ninja depois de um período acompanhando a recuperação de minha filha, que sofrera um grave acidente de trânsito, do qual escapara milagrosamente, depois de ficar estirada e sem socorro no asfalto de uma rodovia explorada escandalosamente, por meio de pedágios extorsivos praticados pelo governo do estado de São Paulo. Se a Folha concorda com os textos que publiquei na minha página no facebook, naquele período, que reproduzo abaixo, estará autorizada a usá-las, sabendo que sou jornalista Ninja. E por que autorizo, embora discorde do jornalismo praticado pela Folha e pela “grande” imprensa no Brasil? Não por vaidade pessoal, mas por solidariedade e respeito à conduta da corajosa e digna jovem jornalista Giuliana Vallone, que sofreu no exercício da sua profissão, um atentado brutal do braço armado do governo do PSDB de Geraldo Alckmin. Para, que essas imagens sirvam de exemplo - ainda que brutal - à sociedade, especialmente à juventude, e não mais se repitam as situações de violência contra os homens e mulheres do País, por se manifestarem pelos seus direitos inalienáveis e soberanos. No mais, agradeço ao carinho dos muitos amigos/as que se manifestaram nas redes, por meio da alegre e sincera brincadeira: “Procurado pela Folha - por onde andará Fred Maia?” Seguem posts, em ordem quase cronológica, publicados na minha página no facebook logo nos primeiros dias das manifestações em São Paulo, como também, durante as Marchas em Belo Horizonte e Brasília. Quem tiver paciência, encontrará vários outros pequenos textos tratando do assunto, e de outros. Aula de cidadania Caminhei por mais de seis horas, hoje, na Marcha que tomou as ruas São Paulo. Durante o percurso, lembrei inconformado das brutais agressões da polícia do governador Geraldo Alckmin (PSDB), contra ativistas e a população da cidade, na última quinta-feira. Naquela noite de terror eu tive a infelicidade de presenciar, entre outras barbaridades, o disparo que tingiu o olho da jovem repórter Giuliana Vallone, a quem tentamos socorrer de forma precária, mas solidária, em um estacionamento na Rua Augusta. Hoje, tudo que eu queria era poder encontrá-la, entre aqueles milhares de jovens brasileiros, que pacificamente voltavam às ruas para reivindicar o direito de ser feliz e de participar da vida cidadã do País. Giuliana, dediquei a minha caminhada de hoje para você e, espero, que estejas recuperada da brutal violência da qual foste vítima. A equipe da TV Record filmou o disparo que foi efetuado para nos atingir. De posse desse material documental, você poderá identificar os policiais e pedir reparações do Estado, pela agressão e danos que te causaram. Se precisar de testemunhas, conte comigo. (São Paulo). Hoje, foi um dia como muitos ou como poucos, foi exato de tão desmedido, foi lindo! Neste dia incomum, a revolução pulsou em quem teve coragem de sonhar e acreditar em um outro mundo possível. Seguimos... (São Paulo CPI contra a violência policial de Alckmin Na última sexta-feira, em SP, como milhares de pessoas que se manifestavam pelos seus direitos - e não importa os 20 centavos de real cobrados -, estive na linha de tiro das armas "não letais" da ensandecida policia militar do governo (sic) de São Paulo, sob as ordens de um governador abobalhado. Alckmin enxovalha a Constituição Federal (direitos de organização, expressão e de manifestação, entre outro tantos), ao comandar ataques brutais da polícia contra ativistas e população, como só visto em tempo de ditadura. À luz da lei e em defesa da democracia, a Assembleia Legislativa de SP deve ser provocada pelos ativistas e movimentos a instaurar a CPI da Violência, para investigar as ações praticadas por essa mesma polícia e pelo mesmo comando, em várias situações. Cito por exemplo, as agressões contra os professores, contra a marcha da maconha e, agora, contra o passe livre. Esse governador deve ser "impedido" já, por contrariar os direitos civis e humanos. Além disso, o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo deve impedi-lo de exercer a medicina, visto que desrespeita, a um só tempo, juramento e ética profissional. Ou não seria crime contra a pessoa humana os projéteis e bombas atiradas indiscriminadamente contra a população que se manifestava nas ruas? Basta mostrar as imagens e exigir que os agressores sejam punidos na forma da lei. (São Paulo) Escola versus Neymar A juventude brasileira quer parceiros para a construção de um outro mundo possível, mais justo, ético e democrático. Este é o desejo que anima corações, mentes e narrativas da moçada que vai às ruas. As vozes das ruas, coladas à essa juventude, sugerem que o modelo desenvolvimentista, capitalista, predador não as representa no presente, menos ainda no futuro. A juventude brasileira carece de parceiros para a construção de um país culturalmente sustentável que não desperdice mais natureza e biodiversidade, que garanta direitos, identidades e diversidade cultural. Prefiro crer quer não devemos sacrificar mais ninguém, mas entendo a braveza da juventude contra a copa do mundo: entre as estrepolias do menino Neymar com a bola nos pés e a escola pública de qualidade e gratuita para todos (10% do PIB), prefere a escola. Deve ser o espírito do mestre Paulo Freire dialogando com a juventude. A moçada quer ser protagonista do seu presente e futuro. O Brasil deve oportunidades iguais à uma geração inteira, pois que seja a esta que aí está, cheia de atitude, coragem, generosidade e ousadia. Uma geração de meninas e meninos vencedores, como o menino Neymar. (Brasília) R$ 0,20 centavos que mudaram o Brasil. Hoje, em Belo Horizonte, a Marcha foi para a rua, e forma pacífica, com claro objetivo de continuar as lutas por uma significativa agenda social, que envolva: reforma politica, lei de mídia, reforma agrária (o MST esteve o tempo todo na vanguarda e retaguarda da caminhada, fazendo a segurança), entre outras. Ficou claro, também, que uma grande parcela daquelas pessoas saiu de casa para confrontar a violência da polícia militar do estado de Minas Gerais, que, no último sábado, agrediu manifestantes de forma brutal no mesmo cenário, da Avenida Antonio Carlos. A imprensa logo tratou o assunto como “baderna” etc e tal, mas essa leitura nem de longe reflete o que de fato aconteceu no entorno do Mineirão e da Praça Sete. De fato havia uma galera com sangue no olho e disposta e enfrentar a tal ordem policial, que espalha terror tanto nas periferias como nos eventos culturais e políticos da cidade, seja no carnaval ou em audiências públicas na Câmara. Trata-se de uma querela antiga, entre os belo horizontinos e a polícia militar comandada pelo governo de Aécio e Anastasia, do PSDB, com a colaboração sempre autoritária do prefeito Márcio Lacerda, do PSB. Concordo que houve excesso da galera, mas estamos em Minas Gerais e não podemos estranhar a postura de luta de um povo que tem como lema: Libertas Quae Sera Tamen. Foto e narrativa da #MidiaNinja! (Belo Horizonte) Notas: 1. Nesta manifestação morreu o jovem Douglas Henrique de Oliveira, ao cair de um viaduto, nas imediações do Mineirão. Dias depois, manifestantes trocaram a placa do viaduto dando-lhe o nome do jovem morto no confronto com policiais. 2. Vale lembrar: O Movimento Passe Livre de São Paulo inspirou o movimento Tarifa Zero em Belo Horizonte, que levou os cidadãos a exigir abertura das planilhas das empresas de transporte público, que sequer existiam. No mês de julho de 2013, um grupo de jovens ocupou a Câmara dos Vereadores em um movimento absolutamente horizontal, que levou à uma politização da juventude de forma irreversível. A reforma política e de mídia que não aconteceu, ainda… Luis Nassif acerta, como sempre, quando observa a leitura equivocada da grande imprensa sobre a tese da Constituinte, chamada pela presidente Dilma: "enfatizam que Dilma Rousseff abandonou a ideia da Constituinte Exclusiva. É detalhe, e diz respeito apenas à forma e aos métodos. No que importa, Dilma teve sucesso, até agora, no mais ousado lance da sua trajetória como presidente: a proposta de reforma política vingou e ela assumiu a liderança. Mais: será feita com consulta popular, seja em qual forma for”. É o que importa, temos agora, a possibilidade de fazer a reforma política no País, antes impossível, porque a opinião pública está nas ruas e o Congresso terá obrigatoriamente de aprovar uma reforma que defenda a democracia plena, o estado de direito e participação da sociedade, não os seus interesses, como é de costume. Precisamos agora, caminhar célere rumo à Lei de Mídia e, para isso, os movimentos devem pautar a presidente Dilma. Quem sabe, ela se anima a mudar de Ministro (sic) e encarar os golpistas dos editoriais. Caso se anime, presidente Dilma, terás apoio pleno das ruas. Fique atenta! (Brasília) Meus melhores cumprimentos, Lisboa, 23 de abril de 2014