Rio 2007: Observatório de Favelas prefere legado de novas posturas do Estado

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Em entrevista a Fórum, Jorge Barbosa, coordenador do Observatório de Favelas, avalia os jogos Pan-Americanos de 2007 e os impactos nas comunidades populares.

Para Jorge Luiz Barbosa, coordenador do Observatório de Favelas e professor universitário, o prometido legado social dos jogos Pan-americanos ainda está por vir. Barbosa fala sobre a intensificação dos conflitos nos morros carioca e a situação de Vila Cruzeiro, no complexo de favelas do Alemão, onde a policia militar do Rio de Janeiro ocupa desde o dia 2 de maio. O conflito que já fez 23 vítimas e 63 feridos faz parte, da crescente militarização da sociedade. Inaugurado em 2005, o observatório de favelas trabalha com jovens com projetos de comunicação alternativa e cultura a partir do ponto de vista das comunidades populares. FÓRUM- No Pan 2007, foram R$ 2 milhões investidos, cifra superior à prevista. O montante é apontado pelos governos federal e estadual como importantes pelo legado social que o PAN deixará. Como o senhor vê esse legado? JORGE BARBOSA- Existe o que pode ser o legado imediato, equivalente aos equipamentos de esportes adquiridos para o Pan, que poderão ser usados de um modo mais amplo na sociedade carioca. Mas acredito que o legado mesmo ainda está por vir. Na medida em que possa proporcionar encontros entre diferentes comunidades e que promova uma nova sociabilidade e uma outra governabilidade. Esperamos que o legado do Pan, a curto e a médio prazos, promova novas posturas oficiais, novas relações entre Estado e sociedade civil e que os jogos possam, mais do que uma competição, gerar possibilidade de encontros das pessoas, dos cidadãos. FÓRUM- Existem denúncias que desde o inicio das obras do Pan, de famílias removidas para áreas consideradas afastadas da realização dos jogos. Há procedência nestas denúncias? BARBOSA- Algumas atitudes questionáveis foram tomadas em nome dos jogos. Esse tipo de medida para nós é um equivoco. Precisamos reconhecer a desigualdade que existe na cidade do Rio de Janeiro e incorporar as pessoas dos extratos mais baixos da sociedade em novos padrões de sociabilidade e não remanejá-las. Tirar famílias e colocar em outros lugares é uma solução muito fácil, mas que não resolve. FÓRUM- Existe um mapa da distribuição destas famílias? BARBOSA- No observatório de favelas estamos fazendo esse mapa. Entrando em contato com as lideranças comunitárias e representantes públicos para tentar resolver a situação da melhor forma possível. FÓRUM- Existe uma intensificação das ações policias nos morros cariocas. Ela tem relação com a proximidade do Pan? BABORSA- Isso tem a ver com a intensa militarização que a sociedade está vivendo. Toda vez que passamos a investir na militarização como solução dos conflitos, a violência aumenta. Quando se quer superar e constituir uma ordem social isso se faz com inteligência, firmeza, mas nada que infrinja a lei. A forma de ocupação, que esta acontecendo, dos espaços populares como o exemplo mais grave e dramático na Vila Cruzeiro, isso não é uma solução legal, é militar. A opção acaba trazendo imensos conflitos, dramas sociais e pessoais. Recentemente na Vila Cruzeiro, no Complexo do Alemão, uma ação militar resultou em 23 pessoas mortas, as 23 pessoas não estavam envolvidas nos conflitos, ainda há 63 pessoas feridas. É preciso uma outra ação. A militar acaba estabelecendo controle sob o território, mas gera cada vez mais conflito que envolve pessoas que não têm a ver, gente que deveria ser protegida. Segundo os dados do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro, 383 pessoas morreram em confrontos com a policia desde abril de 2007. Estamos em uma situação extremamente grave, onde há constrangimentos, restrições de direitos e liberdades, crianças sendo revistada, adultos abordadas de forma agressiva. Atitudes inaceitáveis para um país democrático FÓRUM- Como o Observatório de Favelas trabalha a questão da violência policial? BARBOSA- Nossa campanha prioritária é contra a violência policial, pela pacificação das comunidades, por meio de uma ordem republicana. Para nós o Estado perdeu o controle sobre determinados territórios. Os territórios viraram espaços de disputas entre narcotraficantes, milícias e policiais. O Estado precisa recuperar a soberania. Para se ter uma idéia 90 comunidades no Rio de Janeiro são controladas por milícias. Precisamos garantir os direitos básicos para todos, para que o Estado consiga restabelecer a ordem, a paz e garanta a segurança. E para nós segurança é ausência do medo. As comunidades vivem permanentemente com medo. Medo dos traficantes, da policia e das milícias.