“São trabalhadores da usina que não receberam seus direitos”, diz João Paulo, do MST, sobre despejo em MG

João Paulo Rodrigues, dirigente do MST, diz que integrantes das 453 famílias despejadas do Quilombo Campo Grande são, na maioria, ex-funcionários que viviam em condições análogas à escravidão após falência, há mais de 20 anos, da empresa

João Paulo Rodrigues (Foto: MST)
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Em entrevista no Fórum Onze e Meia neste sábado (15), João Paulo Rodrigues, dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), afirmou que os integrantes das 453 famílias que vivem no Quilombo Campo Grande, em Campo do Meio, no sul de Minas Gerais, são, em sua maioria, trabalhadores da própria usina, que decretou falência há mais de 20 anos, sem pagar os direitos dos funcionários, que viviam em situação análoga à escravidão.

“Muito gente fica imaginando de onde surgiram aqueles sem-terras. São os trabalhadores da própria usina que não receberam seus direitos sociais e trabalharam análogos à escravidão ao longo de muitos anos", disse o líder do MST.

João Paulo ainda ressaltou a força da oligarquia mineira - uma tradição anacrônica herdada dos tempos da política do café-com-leite -, e fez uma retomada da história do Quilombo do MST, revelando que a região já era exposta em muitos conflitos há mais de 20 anos.

O dirigente ainda observou que, ao longo dos anos, ali despontaram as melhores experiências de agroecologia do centro-sul do País, dedicando o quilombo a especialização cafeeira, onde o MST produz o café Guaií, um dos mais conceituados por especialistas de todo o mundo.

João Paulo afirmou que a maior negligência sentida pelo quilombo e pelo próprio Movimento Sem Terra não seria os despejos, pois esses são eventos recorrentes na rotina da organização, mas sim o contexto em que os atos ocorrem.

“Não é só discutir a questão da terra, porque despejo acontece na vida inteira do MST, que entra e sai, entra e sai. Não é essa questão, mas é a crueldade em despejar essas famílias em tempos de pandemia. O risco. Imagina, são 2.000 pessoas que moram naquele assentamento e tiveram de se mobilizar para defender aquele espaço.”, disse.

Assista à entrevista de João Paulo ao Fórum Onze e Meia

https://youtu.be/vbwGmECgRbE