Segurança Alimentar: como garantir uma rede segura de suprimentos?

Escrito en GLOBAL el
Nosso mundo depende de um intricado sistema de transporte, comunicações e comércio para trazer alimentos dos campos para nossas mesas, mas qualquer sistema está sujeito a falhas Por Bryn Smith, em New Internationalist | Tradução: Vinicius Gomes Um trilho de trem quebrado na Jordânia interrompe a entrega de grãos vinda dos portos. Tufões nas Filipinas destroem plantações de arroz que pertencem a milhares de pequenos agricultores. Uma guerra civil na Costa do Marfim evita o transporte de leite e açúcar para os países vizinhos Mali e Burkina Fasso. Por conta dessas e de outras falhas na segurança alimentar, 842 milhões de pessoas ainda vivem com fome ao redor mundo e mais de um bilhão sofrem com a deficiência em zinco, ferro e vitamina A. O Banco Mundial confirmou que a segurança alimentar é um assunto cada vez mais urgente e que envolve tópicos como água, energia, políticas sociais e relações internacionais. Sua mais recente meta em cortar a extrema miséria para 3% até 2030 deve considerar a segurança alimentar, pois as duas andam lado a lado. Para tornar esse problema ainda pior, estão as duas crises no preço dos alimentos na última década, uma entre 2007-08 e outra em 2010-11. Esses picos nos preços vieram como tsunamis e, apesar de eles geralmente falharem em afetar as nações mais ricas – que possuem um cadeia  de suprimento e produção segura para seus alimentos –, esse não é o caso das nações em desenvolvimento, onde esses picos causam devastadores danos e criam perigosas inflações em cima dos itens alimentícios mais básicos e necessários para a sobrevivência. Se os países em desenvolvimento não construírem uma cadeia segura para alimentos, a má nutrição resultante disso causará enormes perdas em capital humano. Um relatório do Banco Mundial confirmou que crianças mal nutridas terão uma redução de expectativa de vida de no mínimo 10%. Essas situações refletirão no crescimento do país, em sua economia e seu desenvolvimento. É necessária uma análise rigorosa em como se produz, se envia e se come os alimentos. Enquanto não há problema em deixar as terras sem serem cultivadas nas zonas temperadas, nas zonas de clima tropical, um campo vazio simplesmente se torna desértico. Um australiano chamado Peter Andrews, que recebeu a medalha de Ordem da Austrália por seu trabalho em promover métodos sustentáveis e naturais na agricultura, provou isso em seu país ao mostrar como campos sem qualquer tipo de vegetação têm sua água e nutrientes vitais sugados do solo pelo sol.  Ele encoraja agricultores a aumentarem sua “superfície verde”, permitindo que tudo, até mesmo ervas daninhas, cresça ali e, assim, criar um terreno fértil e sustentável onde a produção possa crescer. Atualmente, as produções dependem muito de fertilizantes, que são ineficientes e desnecessários. A Organização da Agricultura e Alimento (FAO, sigla em inglês) descobriu que bastam de 30% a 40% de fertilizantes serem “sugados” pelo solo, é o suficiente para contaminar a terra e os lençóis freáticos. Isso significa que mais da metade de todos os fertilizantes produzidos não é apenas desperdiçado, como ainda atrapalha a capacidade de produzir alimentos. Os agricultores precisam começar a utilizar métodos de microfertilização ao invés de saturar seus campos com eles – isto é, até que novas tecnologias tornem o uso do fertilizante redundante, tal como o projeto de cultivo-zero na Índia, sendo co-desenvolvido com a Austrália e o Brasil. Os biocombustíveis estão tirando vantagem dos generosos subsídios governamentais e usando áreas que deveriam ser destinadas ao cultivo de colheitas. Isso reduz drasticamente o suprimento de alimentos. Um relatório sobre segurança alimentar afirmou que a produção de biocombustíveis aumentou de 20 para 100 bilhões de litros por ano. Isso é muita colheita que deixou de alimentar muitas pessoas. A infraestrutura precisa ser melhor planejada. Um estudo de caso comparando os países árabes de Bahrein e Jordânia descobriu que uma simples utilização de silos e moinhos de grãos reduziram os custos nos transportes para apenas 0,14% de seus PIBs. Futuros projetos de reconstrução precisam acontecer levando isso em consideração quando forem construir novas estradas, trilhos ou qualquer modal de transporte. E, finalmente, a água. A água é vital para os alimentos e a agricultura, com 85% da água no mundo sendo alocada para cultivar alimentos – mais do que a indústria e o uso doméstico combinado. A irrigação já não é mais uma boa ideia, principalmente em climas quentes e secos e onde há escassez de água – onde a água simplesmente iria evaporar e aumentando a salinização do solo. Atualmente, 500 milhões de pessoas vivem em países que sofrem com a escassez da água e esse número tende a aumentar para 3 bilhões até 2050. O futuro uso da água deve ser eficiente e prático, tornando cada gota dela bem utilizada. O lema do Banco Mundial, esculpido em uma parede de mármore em sua sede em Washington, diz que sua missão é criar um mundo livre da pobreza. Os alimentos e a segurança de seu suprimento são uma parte inegável dessa missão. O Banco Mundial pode também continuar a nutrir boas relações com a maioria de seus doadores. Cultivar esses relacionamentos aumenta os benefícios na criação de novas tecnologias e ciência agrícola. O alimento e seu suprimento – do arroz ao trigo, do bife ao bacon – será um assunto crítico ao passo que caminhamos para uma população de 9 bilhões de pessoas em 2050.  É essencial trabalhar para garantir que um mundo de fome acabe antes disso. (Crédito da foto de Capa: Vera and Jean-Christophe-Creative Commons)