Setor gastronômico lança manifesto contra o golpe

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O documento é assinado por 80 pessoas do setor gastronômico e une bartenders, críticos gastronômicos, pesquisadores, chefs e até empresários do ramo Por Redação Representantes de um setor, que segundo o manifesto, gera 6 milhões de empregos assinaram um manifesto no dia 10 de junho contra o impeachment e em apoio a presidenta eleita Dilma Rousseff. O documento é assinado por 80 pessoas do setor e une desde bartenders, críticos gastronômicos, pesquisadores até chefs e empresários do ramo. No texto eles criticam a maneira como está sendo conduzido o processo de afastamento de Dilma e aos rumos que o Brasil está tomando nas mãos do vice-presidente Michel Temer. "Contrários ao ódio de classe, à intolerância e à histeria coletiva que tomou conta do país, temos amor ao Brasil e a convicção de que democracia só se cura com mais democracia", diz o texto. Confira o manifesto na íntegra: GASTRONOMIA CONTRA O GOLPE Tem panela, coxinha, mortadela e, agora, até racionamento de comida à presidenta eleita. Não faltam ingredientes gastronômicos indigestos na desastrosa receita política do Brasil de hoje. Nós, representantes da gastronomia brasileira, não podíamos assistir a esse cenário de ruptura da ordem constitucional democrática sem manifestar nossa profunda tristeza e indignação. Representantes de um setor que gera 6 milhões de empregos diretos em todo o país e que é a porta de entrada no mercado de trabalho para muitos brasileiros, sejam como estagiários, cumins ou garçons, até pesquisadores, jornalistas da cultura gastronômica, chefs, empresários do setor de alimentos e bebidas, restaurateurs, apaixonados pela gastronomia, que vivem dela ou por ela, vimos manifestar o nosso repúdio a essa ruptura por que passa hoje o Brasil. O governo é provisório, mas os traumas, permanentes. Nossa jovem democracia sofre um de seus mais duros golpes e exige de todos coerência e compromisso históricos. Uma presidente legitimamente eleita por 54,5 milhões de votos está afastada sob um pretexto ininteligível para a maioria dos mortais, as pedaladas fiscais. Empréstimos contábeis que seus antecessores e dezenas de governadores cometeram e cometem, mas que só são crimes porque, para a presidente, a lei parece ter outro peso. Justiça com pesos diferentes não é Justiça, é vingança, é golpe. A maioria dos congressistas não faz ideia do que seja “pedalada fiscal” e recorre ao “conjunto da obra” para justificar o impeachment, como se fizesse parte de um júri de menu-degustação. Um pastelão que nos envergonha mundo afora. Ao arrepio da lei, sob o argumento falso-moralista de “crime de responsabilidade”, a presidente foi substituída por um vice ficha-suja e inelegível, cuja postura é completamente incompatível com a que se espera de um companheiro de chapa, e por um ministério (em sua totalidade, formado por homens e brancos, um retrocesso que não se via desde o governo Geisel), cuja idoneidade não resiste a uma simples pesquisa no Google. Assistimos, atônitos, ao BBB do governo interino, com uma queda por semana. O ato de cortar a comida de uma chefe de Estado, sua família e equipe nos sensibilizou não só por ser mesquinho, mas por ser medíocre. Um dos inegáveis méritos da gestão Lula-Dilma foi o de promover a ascensão social. Segundo a própria ONU, Lula e Dilma tiraram o Brasil do mapa da fome, dando dignidade mínima a 36 milhões de brasileiros. E foi justamente a essa chefe de Estado, gestora do Fome Zero, que o presidente interino negou comida, num gesto totalitário, anticonstitucional e incompatível com o de um vice de um projeto vitorioso nas urnas. Trata-se bem mais do que cortar a comida e direitos legítimos de uma presidente eleita, trata-se de simbolicamente relegar à indigência a democracia e a inteligência no Brasil. A indignação inspirou esse movimento de “alimentar a democracia”. A gastronomia, que nutre, agrega, reúne famílias, amigos e até inimigos em torno de uma mesa, que é capaz de promover a paz, também se une em defesa da democracia. Este é um manifesto apartidário, assinado por fãs de coxinha e de mortadela, de Cuba e de mojitos, de café, fé e wi-fi, do boteco-pé-sujo ao restaurante 3 estrelas, do vermelho (símbolo da Revolução Francesa e de tudo o que ela inspira até hoje) e do verde-e-amarelo, petistas e não petistas, eleitores de Dilma Rousseff ou não, eleitores com graves críticas ao governo da presidente, mas que sabem que impeachment não é solução, é consequência. Em comum: somos contrários ao ódio de classe, à intolerância e à histeria coletiva que tomou conta do país, temos amor ao Brasil e a convicção de que democracia só se cura com mais democracia. Assinam o Manifesto Popular "Gastronomia Contra o Golpe": 1. Adalberto Ribeiro –Sócio da Grill Burger de Bragança (PA) 2. Airton Eré –Bartender da Malabar Drinks Artísticos (Florianópolis, SC) 3. Alexandre Bussab – Sócio do Raiz Forte Bar e Eventos (RJ) 4. Aline Lockmann de Azevedo Gomes – Jornalista (SP) 5. Ana Rojas – Jornalista de gastronomia (Brasil/Reino Unido) 6. Ana Candida Ferraz – Chef de sala (SP) 7. Analice Souza – Socióloga e chefe do Oliver Art Bar (Belo Horizonte, MG) 8. Annete Alves – Barista (Buenos Aires, Argentina) 9. Bel Coelho – Chef de cozinha do Clandestino (SP) 10. Bia Amorim - beer sommeliere (SP) 12. Bianca Barbosa – Chef (RJ) 13. Caio Zakia – Cozinheiro (SP) 14. Carmem Virginia – Chef-proprietário do Altar Cozinha Ancestral (Recife - PE) 15. Carolina Ronconi – Fundadora do blog Meninas no Boteco (SP) 15. Caroline de Azevedo – Cozinheira (RS) 16. Cilmara Bedaque – Jornalista do blog Lupulinas (SP) 17. Danilo Lodi – Barista, torrador de café e juiz internacional (SP) 18. Diogo Sevílio - Bartender (SP) 19.Dora Gil – Gerente de restaurante (SP) 20. Edson Pivoto – Gerente de restaurante (SP) 21. Elia Schramm – Chef (RJ) 22. Eliza D. Teixeira – chef e pesquisadora (Brasil/EUA) 23. Facundo Guerra - empresário do Grupo Vegas (SP) 24. Fel Mendes – Jornalista revista Rabo de Galo e incubador da abeLLha (SP) 25. Felipe Jannuzzi – Idealizador do Mapa da Cachaça (SP) 26. Flávia Pogliani – Barista (SP) 27. Gabriel Cavalcante – Cantor e gourmet (RJ) 28. Gabriel Torres – Barista do Por um Punhado de Dólares (SP) 29. Gabriella Kerber – Chef de cozinha (SP) 30. Giovanni Assante –Proprietário das massas Gerardo di Nolla (Nápoles, Itália) 31. Guga Rocha – Chef e apresentador de TV (Brasil/Canadá) 32. Gisele Coutinho – Barista do Pura Caffeina (SP) 33. Guilherme Schwinn – Chef e sommelier (SC) 34. Hanny Guimarães – Especialista em chás (SP) 35. Izabela Tavares – Padeira (SP) 36. João Felipe Morandi, mixologista (Belo Horizonte -MG) 37. João Grinspum Ferraz – Historiador, cientista político e p8oprietário da Casa do Carbonara (SP) 39. Juliana Gelbaum – Barista do Por um Punhado de Dólares (SP) 40. João Carvalho - Barista (São Lourenço, MG) 41. Julio Bernardo (JB) - Crítico gastronômico (SP) 42. Junior Milério - Jornalista (Brasil/Irlanda 41. Kátia Barbosa – Chef (RJ) 43. Lais Duo – Chef de cozinha (SP) 44. Leticia Balducci - beer sommelier na Casa da Cerveja (SP) 45. Luciana Berry – Chef (Brasil/Reino Unido) 46. Luciana Bianchi – Jornalista de gastronomia e chef (Reino Unido/Brasil) 47. Luciano Salomão – Barista e mestre de torra de café (SP) 48. Maira Marques – Bartender (Fortaleza, CE) 49. Mario Oliveira – Bartender (SP) 50. Marcelo Cury – Médico e jornalista de gastronomia (SP) 51. Marco de la Roche – Mixologista, editor do Mixology News e da revista Rabo de Galo (SP) 52. Marcos Néia - mixologista 53. Marcos Tomsic – Barista do Por um Punhado de Dólares (SP) 54. Marilia Zylbersztajn – Confeiteira (SP) 55. Pedro Marques – Jornalista especializado em gastronomia e bebidas (SP) 56. Priscila Sabará – Criadora do FoodPass (SP) 57. Raissa Palamarczuk - editora da revista Rabo de Galo (SP) 58. Rafael Mariachi – Mixologista (SP) 59. Raphael Criscuolo – Fotógrafo (SP) 60. Ricardo Pieralini – Jornalista (SP) 61. Roberta Malta – Jornalista (SP) 62. Roberto Hundertmark – Chef de cozinha (Belém - PA) 63. Robinho Bernardo – Barista do Por um Punhado de Dólares (SP) 64. Rodolfo Bob – Gastrônomo e mixologista diretor de OBarVirtual (SP) 65. Rodolfo Herrera – Barista, proprietário do Beluga Café (SP) 66. Roger Bastos - Bartender do Meza Bar (SP) 67. Sérgio Crusco – Jornalista gastronômico (SP) 68. Sheila Grecco – Jornalista, historiadora, RP na área gastronômica (SP) 69. Tabata Magarão – Sócia do Raiz Forte Bar e Eventos (RJ) 70. Tainá Hernandes – Confeiteira (SP) 71. Thiago Ceccotti – Bartender e consultor da Ducktails (Belo Horizonte, MG) 72. Thiago dos Santos – Bartender e idealizador da Samba Nego (SP) 73. Thiago Flores – Chef do Circo Voador (RJ) 74. Thiago Rosas – Restaurateur (PA) 75. Thiago Tavares – Empreendedor e cachacier (SP) 76. Thianny Estevam – Bartender do Zazá Bistrot (RJ) 77. Tony Harion – Diretor da Mixing Bar (SP) 78. Túlio Silva – Jornalista gastronômico do PenseComida (SP) 79. Victor Camerlingo – Barista do Por um Punhado de Dólares (SP) 80. Zulu - bartender do Anexo São Bento (SP) Quem quiser se juntar o movimento, pode engrossar esse "caldo democrático", assinando a petição abaixo, que será encaminhada ao Senado, como um instrumento de pressão aos senadores na hora do voto. Obrigada pelo apoio de todos! Foto de Capa: Fotos Públicas