Síria: a (nova) guerra ilegal de Barack Obama

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Violando leis internacionais e a própria Constituição dos EUA, a administração Obama iniciou seus ataques contra o Estado Islâmico na Síria, se aliando aos mesmos países que por anos financiaram o grupo extremista Por Vinicius Gomes Não é de hoje que a política norte-americana para com a Síria é uma miríade de contradições: os EUA são contra o governo de Bashar al-Assad, que luta contra o Estado Islâmico que virou o inimigo número dos... EUA. Nessa terça-feira (23), os Estados Unidos iniciaram seus bombardeios contra o Estado Islâmico na Síria e também um diferente grupo armado chamado Khorasan formado por combatentes veteranos e experientes da al-Qaeda e que, segundo o Departamento de Defesa norte-americano, planejavam um ataque “iminente”. Relatórios iniciais já constatam que oito civis, incluindo três crianças, foram mortos no ataque aéreo à cidade de Raqqa. De acordo com a agência estatal de notícias da Síria, SANA, o governo de Bashar al-Assad foi notificado através de uma carta enviada pelo secretário de Estado norte-americano John Kerry sobre os ataques que estavam para acontecer. O presidente al-Assad afirmou que “apoia qualquer ação internacional contra o terrorismo”, mas não fala sobre o bombardeio em seu país, pois, de fato, sabe que não demorará muito para que as armas desses governos direcionadas ao Isis se voltem contra o seu governo, que a administração Obama está tentando derrubar há mais de dois anos. Dias atrás, se dirigindo ao Comitê de Assuntos Estrangeiros do Congresso norte-americano, Kerry afirmou que os combates em terra na Síria “serão conduzidos pela oposição moderada [à al-Assad], que é o melhor contrapeso no país aos extremistas [do Estado Islâmico]". Em artigo publicado esse final de semana no The Independent, o especialista em Oriente Médio Robert Fisk escreveu que a retórica de Kerry sobe o Isis era “um insulto à nossa inteligência”. Segundo Fisk, qualquer um que tenha estudado a Síria – mesmo que de longe – sabe que não existe uma oposição moderada no país, supostamente composto por desertores do exército regular, sendo o chamado Exército Sírio Livre um “mito ridículo”. “O Exército Sírio Livre tem lutado contra o Isis por dois anos”, disse Kerry, enquanto o governo sírio não o faz. “Isso é uma imbecilidade. Grande parte dos 35 mil mortos no exército sírio estava lutando contra a al-Qaeda e o Isis”, rebate Fisk que afirma ainda que qualquer aliança contra o Estado Islâmico terá que envolver o Irã, o governo de Bashar al-Assad e até as “guerrilhas ‘superterroristas’ do Hezbollah”: “E os únicos soldados no local lutando contra eles são o Hezbollah libanês e a Guarda Revolucionária do Irã, junto dos curdos”, afirma. “Mas o que esperar de um homem que achou que costuraria uma paz entre Israel e Palestino em um ano?”, finaliza Fisk. Segundo o acadêmico de Harvard Garikai Chengu, a política dos EUA para o Oriente Médio envolve apenas petróleo e Israel. “A invasão do Iraque [em 2003], saciou parcialmente a sede de Washington por petróleo, mas os ataques na Síria e as sanções econômicas contra o Irã têm a ver com Israel. O objetivo é privar os inimigos vizinhos de Israel (o Hezbollha no Líbano e o Hamas em Gaza), do apoio vital da Síria e do Irã”. Quem criou agora ataca Outra contradição ostensiva dos EUA é o fato de que os países que participam dos ataques na Síria numa suposta “coalizão internacional” são os mesmos que de fato financiaram o Isis e outros grupos radicais para derrubar o governo de Bashar al-Assad, notoriamente Bahrein, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Jordânia. Mas talvez isso fique de fora dos noticiários nos EUA. Apesar de gozar de enorme apoio para sua campanha militar contra o Estado Islâmico, com quase dois terços da população defendendo ataques aéreos em território sírio, o fato é que os bombardeios na Síria violam tanto leis internacionais quanto domésticas, pois são um ato de agressão dos EUA contra uma nação estrangeira sem permissão do governo sírio ou resolução aprovada no Conselho de Segurança da ONU e, internamente, foram conduzidos sem uma declaração de guerra formal ou qualquer tipo de autorização do Congresso norte-americano, o que constitui uma violação da Constituição dos EUA. A administração Obama usa como base legal para os ataques uma lei de 13 anos de idade chamada Autorização para Uso de Força Militar,  criada em 2001 especificamente para combater a al-Qaeda e os responsáveis pelo 11/9  – que, sendo semântica ou não, é ilegal, pois o Isis já não é parte do grupo de Osama bin Laden e nem existia quando a lei foi aprovada. A decisão de Obama em ignorar o Congresso tem precedente: o episódio da Líbia, em 2011, quando o presidente dos EUA afirmou com todas as letras: “Eu nem preciso chegar à questão constitucional”. À época, o congressista Ron Paul disse que aquela foi uma declaração horrível: “[Ele] fez um juramento de obedecer a Constituição, que é bem clara, você não vai à guerra sem uma declaração”. Outro congressista, Walter Jones, afirmou que a não obtenção de aprovação do Congresso constituiu um crime passível de impeachment, de acordo com o artigo II da quarta seção da Constituição norte-americana. Não custa lembrar também que foi a invasão dos EUA no Iraque, em 2003, que fertilizou o solo para que o extremismo do Isis florescesse e que tem sempre alguém lucrando com uma nova guerra – geralmente os mesmos que vão aos canais de televisão falar sobre a mais nova ameaça terrível contra os EUA. Foto de Capa: Veterans Today