Sob pressão dos EUA, direita boliviana negocia candidatura única contra a esquerda

Economista Luis Arce, candidato do MAS, partido de Evo Morales, lidera as pesquisas com percentual que poderia lhe dar a vitória no primeiro turno, mas a ditadura também tenta a vitória por outro meio: cassar sua candidatura

Carlos Mesa e Jeanine Áñez (foto: reprodução)
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A disputa eleitoral na Bolívia depois do golpe de Estado de novembro de 2019 ganhou um novo episódio nesta sexta-feira (3), quando assessores de Jeanine Áñez, presidenta imposta pelas Forças Armadas após a derrubada de Evo Morales (2006-2019), se reuniram em La Paz com a equipe de campanha de Carlos Mesa, candidato da direita melhor posicionado nas pesquisas.

Segundo meios locais bolivianos, esse diálogo seria fruto de uma pressão dos Estados Unidos para que a direita do país tenha uma candidatura única contra o economista Luis Arce, favorito para vencer nas urnas, segundo as pesquisas.

Arce é um economista ligado ao MAS (Movimento Ao Socialismo), partido de Evo Morales, e foi ministro da Fazendo durante quase todo o seu período na presidência da Bolívia.

Atualmente, ele apresenta entre 35% e 37% das intenções de voto, dependendo do instituto medidor. Com esse número, poderia sonhar com uma vitória já no primeiro turno, pois a lei boliviana permite que um candidato seja eleito já nessa instância se supera os 40% dos votos e impõe uma vantagem de mais de 10 pontos sobre o segundo colocado.

É justamente isso que acontece em todas as pesquisas. Arce apresenta sempre mais de 10 pontos de diferença para Carlos Mesa, candidato de centro-direita, que aparece em segundo em todas as pesquisas, variando entre 23% e 26%.

Por sua parte, Jeanine Áñez, que assumiu a presidência do país prometendo que não se candidataria às eleições (depois mudou de ideia), tem entre 19% e 20%, dependendo da pesquisa. O quarto colocado, Luis Fernando Camacho (principal aliado de Jair Bolsonaro no país), tem entre 6% e 8%.

Além da tentativa de unir a direita para reverter a que, por enquanto parece ser uma vitória provável de Arce, outra estratégia é a de cassar sua candidatura. Essa ideia já conta com duas iniciativas: uma através de processo impulsionado pela ditadura de Áñez, na qual se tenta cassar somente a candidatura de Arce por suposto ato de corrupção quando era ministro do governo de Evo Morales.

A outra é uma ação do TSE (Tribunal Supremo Eleitoral), que visa colocar todo o partido MAS na ilegalidade, como responsável pela suposta fraude eleitoral de outubro de 2019 – apesar de que tal acusação se baseia em informe da OEA (Organização dos Estados Americanos) que já foi desmentido por ao menos três grupos de especialistas.