Sobre explicações devidas pelo PT-BH e por alguns organizadores do blogprog-MG

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Nartagman Wasley Aparecido Borges, Secretário de Organização do PT de Belo Horizonte, foi preso no dia 01 de setembro de 2011, segundo mandado de prisão expedido no dia 19 de maio de 2011, por estupro cometido em 2004 contra sua enteada, que na época tinha nove anos de idade. É importante reforçar, para os que são mais leigos que eu em Direito, que se tratava de sentença transitada em julgado, ou seja, sem possibilidade de recurso. A Secretaria de Organização do PT-BH esteve entregue, entre 19/05 e 30/08, a um estuprador de vulnerável: você pode dizer isso sem receio, porque a Justiça já decidiu. A presunção de inocência não se aplica aqui. A sentença contra Nartagman foi prolatada em 28/04/2010, foi modificada parcialmente pelo acórdão do TJ-MG em 17/03/2011 e transitou em julgado em 19/05/2011. O mandado de prisão foi expedido entre 20 e 29 de maio de 2011 (não preciso, pois a assinatura da escrivã bloqueia o último dígito). A polícia só efetuou a prisão no dia 01 de setembro. Entre a confirmação de que Nartagman é estuprador de crianças e sua prisão decorreram, portanto, mais de 100 dias. Na polêmica que o fato gerou nos últimos dias, três questões se misturam, as quais vou tentar tratar separadamente. Em ordem crescente de importância: a) a forma como a notícia foi divulgada nas redes sociais. b) o papel de Nartagman no encontro de blogueiros progressistas de Minas Gerais c) o papel de Nartagman como Secretário de Organização do PT-BH ************************************* a) Divulgação da notícia: Apesar de já tuitado por Niara de Oliveira e Conrado, entre o dia 1º de setembro, data da prisão, e o 19 de setembro, o pedido de que alguém do PT se pronunciasse sobre o fato só ganhou notoriedade com um post do Conrado, publicado no Raphael Tsavkko no dia 19. O post tinha o mérito de chamar a atenção para o fato que importa aqui: um estuprador de vulnerável já condenado permaneceu como dirigente do PT por mais de 100 dias; em 20 dias depois da divulgação da prisão pela imprensa e sucessivas cobranças no Twitter, ninguém do PT se manifestou; quase um mês depois da expedição do mandado de prisão, ele co-organizara um encontro de blogueiros progressistas, inclusive com alguns privilégios, como veremos. Ao post do Conrado, seguiu-se um post magistral de minha amiga Cynthia Semíramis, em que ela relatava o papel de Nartagman no encontro, cobrava explicações do PT e apontava generalizações injustas no texto do Conrado. Cynthia estava certa em tudo e Conrado se desculpou. Como veremos, os dois permanecem no mesmo lado, ou seja, o lado de quem cobra e merece explicações. Ao intitular seu post “PT e blogprog chafurdam na blindagem”, Conrado sobregeneralizou e ofereceu a possibilidade de que ele fosse lido como afirmação de que 1) os blogprog tivessem “blindado” Nartagman no encontro de junho, um mês depois do mandado, mas muito antes de que a imprensa divulgasse o caso, o que só ocorreu com a prisão em 01/09; 2) o PT como um todo estivesse blindando Nartagman e “as mulheres petistas” (expressão infelizmente usada no texto) estivessem escondendo um estuprador. Várias mulheres que votam no PT, mas não têm ligação orgânica com o partido, como Maria Frô e Vange Leonel, protestaram com razão. A generalização dava lugar a ilações injustas e Conrado já se desculpou, razão pela qual passo ao que interessa – porque essa injustiça não tira o mérito de seu texto. Depois do estouro do furdunço na internet, uma série de funcionários e apparatchiks do PT – utilizando-se das generalizações realmente cometidas pelo Conrado – passou a desqualificar e atacar as pessoas que estávamos veiculando a notícia e cobrando explicações. A lista é hilária e eu pouparei o leitor dos printscreens. As acusações sobre quem veiculava a notícia eram: 1) Conrado tem ligações com o PSOL, acusação correta; 2) Idelber Avelar tem ego grande, acusação correta; 3) Raphael Tsavkko é chato pra caralho e cobra de quem não tem nada a ver, acusação correta; 4) Niara de Oliveira “pentelha muito”, acusação correta; 5) Renata Lins é do PSOL, acusação correta; 6) Idelber Avelar “nem é do PT e nem mora conosco”, acusação correta; 7) Cynthia Semíramis “está sendo tão maldosa como o canalhinha que quer acusar o PT”, acusação besta porque nem Cynthia foi maldosa nem Conrado é canalha;  8 - “Raphael Tsavkko não come ninguém além do Conrado”, acusação que este blogue não tem como comprovar se é correta; 9) “Não vou me calar para esses machos”, como se Cynthia, Renata, Niara, Clarice Scotti e as várias outras mulheres que se manifestaram contra o estranho silêncio petista sobre o caso fossem “machos”. Pelo que pôde apurar, este blogue não detectou nenhum dirigente do PT acusando Cynthia de usar vírgula entre sujeito e predicado em sua cobrança. (a propósito, um parêntesis: deixo um pedido a alguém da direção do PT que por ventura esteja me lendo. Por favor, instruam melhor seus funcionários nas redes sociais. Façam um teste com qualquer amostra apartidária: a imagem do PT é cada vez pior nessas redes, porque os funcionários e apparatchiks [desculpem, militante pra mim é outra coisa] se comportam como uma horda de fanáticos pronta a atacar pessoalmente qualquer um que traga uma crítica política. Expliquem a eles o que é um ad hominem e o que é ater-se ao tema em discussão. Expliquem que o diálogo real com outras forças políticas nas redes sociais só pode engrandecer o PT. Se é pra gastar dinheiro pagando gente pra atacar quem critica o PT, é melhor desistir, porque o efeito é o oposto. Vocês estão queimando o PT com as pessoas apartidárias) Passemos à segunda parte. *********************** b) Nartagman no blogprog Este ponto nem deveria ser tratado aqui porque, afinal de contas, o mandado de prisão contra Nartagman foi expedido em maio de 2011, mas a sua prisão e a consequente divulgação pela imprensa só aconteceram em 01 de setembro. O encontro blogprog de Minas Gerais ocorreu em 10/11 de junho de 2011. Evidentemente, nenhum dos participantes do encontro tinha obrigação de saber de nada. Mas o caso torna-se curioso a partir da bizarríssima nota de "esclarecimento" publicada pela “comissão” de organização do encontro. Uso “comissão” entre aspas porque os membros que decidiram publicá-la não assinaram seus nomes e, para grande parte das redes sociais, a organização do Bloguemus MG foi associada à figura de Cynthia Semíramis, que trabalhou intensamente na preparação e divulgação do encontro e é bem mais conhecida na internet brasileira que todos os outros organizadores juntos. Apesar disso, ela não foi consultada e não assinou essa nota de “esclarecimento”. É importante ressaltar, portanto, que Cynthia Semíramis não assina isto. Na nota de “esclarecimento”, afloram uma série de conflitos com a verdade. Em primeiro lugar, a nota diz que “um lamentável fato ocorreu com um dos participantes do Encontros (sic) dos Blogueiros Progressistas”. Ora, não “ocorreu um fato” com Nartagman. Ele estuprou uma criança. Depois, a nota diz que “O ativista de redes sociais, de nome Nartagman, participou, como indivíduo, dos debates do encontro estadual mineiro de blogueiros progressistas. Evento que teve mais de 200 inscritos”. Isso é falso. Nartagman não era um dos 200 inscritos no encontro. Ele participou das reuniões de organização do evento (opondo-se, inclusive, à proposta de que houvesse pelo menos uma mulher em cada mesa), buscou convidados no aeroporto, presidiu uma mesa e foi um dos únicos com acesso à internet por lá. Também intermediou apoio do PT ao encontro (apoio que, evidentemente, não tem nada de ilegal). Isso é bem diferente de “foi um dos 200 inscritos”, afirmação que também é desmentida por Tio Google, que mostra Nartagman com status de moderador da lista de discussão do evento:

Em seguida, a nota diz que “O recurso à luta partidária, que inclusive transformou um militante mediano em 'alto dirigente partidário', só expõe a vítima”, frase que proponho como candidata ao prêmio de cara-de-pau do ano. Nem a investigação da blindagem de Nartagman no PT e em setores da organização do blogprog-MG “expõe a vítima”, nem Nartagman era um “militante mediano”. Ele era Secretário de Organização do maior partido de esquerda do Ocidente na terceira maior área metropolitana do país. Para os que por ventura não conheçam o jargão, “Secretário” aqui não quer dizer “a pessoa que atende o telefone”, mas membro da Executiva imediatamente abaixo do Presidente do partido e pessoa encarregada de, por exemplo, processar filiações. É um cargo cobiçadíssimo. Portanto, se você se filiou ao PT-BH entre 19/05 e 31/08, são grandes as chances de que sua ficha de filiação tenha sido assinada por um estuprador de vulnerável já condenado pela Justiça e com mandado de prisão expedido, embora no PT-BH as fichas também possam ser assinadas por qualquer membro da Executiva ou do Diretório. Os organizadores do blogprog-MG que participaram de praticamente todas, ou todas, as reuniões de preparação do evento foram o próprio Nartagman, Michael Rosa, Beto Mafra, Pedro Ferraz e Cynthia Semíramis. Com a exceção de Cynthia, todos de vida orgânica no PT. Não foram dadas a Cynthia as senhas do blogue do evento, do Twitter, ou da moderação do grupo de discussão. Quanto ao blogprog-MG, os fatos são esses. Reitero que nada disso deporia contra os organizadores de interlocução constante com Nartagman (ou seja, todos menos Cynthia). Não deporia, claro, se não houvesse todas essas ocultações na nota de “esclarecimento”. Resta saber aqui o que se quer “esclarecer” e o que se quer ocultar. Talvez a próxima parte, sobre o PT-BH, ajude a lançar luz sobre isso. ************************ c) Nartagman no PT-BH O silêncio do PT-BH entre a expedição do mandado de prisão, no final de maio, e sua efetiva prisão, em 01 de setembro, não desabonaria, por si só, nenhum dirigente do PT na cidade, embora, conhecendo a vida partidária e conhecendo Minas Gerais, eu ache que é bem improvável que ninguém da direção do PT soubesse, até 01 de setembro, que um mandado de prisão por estupro de vulnerável havia sido emitido em maio contra um dirigente do partido. Doemos à direção do PT-BH o benefício da dúvida. OK, não sabiam. Ver-se-á mais abaixo que esse benefício da dúvida terá que ser retirado. Mas o estuprador foi preso no dia 01 de setembro. Aí a coisa fica difícil. Nem uma nota do PT-BH à militância, nem uma satisfação, nem um pronunciamento, nada durante 20 dias? Nada até hoje? Nartagman não era um militante qualquer. Era alto dirigente do partido na cidade. Eu não teria nenhum problema se o crime dele tivesse sido, por exemplo, injúria e difamação contra Sarney ou Kátia Abreu (ah, quem me dera!). Não o teria se o crime fosse, por exemplo, invasão feita junto com o MST de uma propriedade grilada pela Cutrale. Mas estupro de vulnerável? E até hoje o PT-BH não disse nada? A partir das cobranças, membros do PT-BH passaram a responder, com uma série de afirmativas contraditórias entre si, primeiro que havia um processo disciplinar em curso, depois dizendo que Nartagman havia sido afastado logo após sua condenação: Parece que faltaram com a verdade aqui também, pois a condenação ocorreu em 19 de maio. Em 26 de junho, lê no Twitter de Nartagman: Em 13 de junho, lê-se: Na verdade, até 30 de agosto ele tuitava como dirigente do partido. E finalmente, o cache de Tio Google desmonta a hipótese de afastamento, mostrando Nartagman como membro do Diretório Municipal do PT até 31 de agosto. Santo Tio Google. Talvez a mera confissão de um equívoco e uma distração tivessem bastado ao PT-BH até 01 de setembro. Algo assim como: “Sim, Nartagman era alto dirigente, sim ele havia sido condenado no dia 19 de maio, mas nós não sabíamos, e com a prisão agora noticiada pela imprensa nós o expulsamos e vamos nos pronunciar”. Mas simplesmente não o expulsaram até hoje. Ainda não sabem? A insistência com que as pessoas que têm pedido explicações foram atacadas ad hominem, e a profusão de respostas contraditórias entre si, combinadas com a ausência de qualquer pronunciamento até hoje, reforçam a percepção de blindagem e ocultação de algo, que a estas alturas, para mim, por todo o exposto acima, já não é uma hipótese, e sim uma certeza. Certeza esta confirmada pela vereadora Neusinha Santos: A instância partidária que se comportou dignamente foi a Secretaria de Mulheres do PT nacional que, logo depois de estourado o furdunço, lançou nota exemplar, exigindo a expulsão de Nartagman, abstendo-se de qualquer minimização de seu papel no partido e abstendo-se também de qualquer ataque aos mensageiros, por maiores que tenham sido os equívocos ou generalizações cometidos por eles. Os méritos aí, além das componentes da secretaria, são de Fernanda Estima, Suely Oliveira e Alessandra Terribili, além, claro, de Cynthia, que mais uma vez me mostrou por que tenho orgulho de ser seu amigo. Com a palavra, o PT-BH e os autores da nota de “esclarecimento” do blogprog-MG. Atualização em 25/09, 04:28:  Está definitivamente demolida a tese de que a direção do PT-BH (ou pelo menos partes dela) não sabia da condenação de Nartagman em 19/05 bem antes de sua prisão em 01/09. Eis aqui três tuítes diferentes de 07 de julho do administrador regional de Venda Nova. Agora fica a pergunta: quem mais, além do autor destes tuítes, acobertou?

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