Sobre meninos e (principalmente) lobos

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Durante a uma hora e meia que conversou com a reportagem de Fórum, o delegado afastado da Polícia Federal Protógenes Queiroz se manteve bastante sereno. Em alguns momentos, parecia medir bem as palavras; em outros, era bastante assertivo em suas colocações e não deixava espaços para dúvidas.
Embora o tempo tenha sido limitado em função de seus compromissos em São Paulo, Protógenes falou sobre os efeitos da Operação Satiagraha, que resultou na prisão do banqueiro Daniel Dantas, e disparou, às vezes de forma sutil, em outras nem tanto, contra figuras públicas como o presidente do STF Gilmar Mendes e o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso.
Sobre FHC, o delegado respondeu à “avaliação” de que ele era “amalucado”. “O que ele externa hoje consolida todo o seu passado duvidoso e comprometido com outros valores que não os meus, que não os da sociedade brasileira, que não os do povo brasileiro, que não o que representa a importância do Brasil hoje no cenário internacional.” Ele também avaliou as privatizações feitas no período do mandatário tucano como o grande evento que consolida a força de Dantas no país.

Foto: José Cruz/ABrFoto: José Cruz/ABr
Confira abaixo os principais trechos da entrevista.

Fórum – Você pode fazer uma reflexão desde o início da Operação Satiagraha até agora? Como você avalia no que se transformou sua vida?
Protógenes Queiroz –
Desde o início da Operação Satiagraha, quando nós montamos todo o planejamento operacional e coletamos os dados, dava para perceber o tamanho do problema, e o que aquilo representava para a sociedade e para o país. Isso tudo estava dentro do nosso planejamento. Evidentemente que alguns comportamentos que foram externados pelas próprias instituições causaram surpresa e indignação a nós brasileiros, a nós cidadãos e até mesmo a nós enquanto integrantes de poderes instituídos na República. O Brasil rachou no meio, mas rachou de uma forma benéfica, a grande maioria da população compactuou com o que é certo, se indignou com aquilo que é errado, que não pode acontecer num país como o Brasil, com aquilo que a sociedade hoje não aceita mais. Esse trabalho representou um marco histórico por Brasil e, ao longo desse processo, houve muitas revelações de pessoas. Isso é bom na medida em que hoje essas pessoas estão sendo cobradas pela população e por determinados setores do próprio Estado.

Fórum – Mas o que mudou na sua vida pessoal e profissional depois do relatório?
Protógenes –
Houve esse primeiro aspecto do comportamento do consciente coletivo, uma mudança do comportamento de pessoas do aparato estatal. Agora, em relação a mim como profissional, como cidadão, e na instituição à qual pertenço, houve o distanciamento de algumas pessoas, notadamente por medo de se exporem, de se comprometerem.

Fórum – Sobre o resultado do relatório, a impressão que dá é que a corrupção e todos os crimes ligados a ela fazem parte do sistema. Deixaram de ser algo exógeno para fazer parte do próprio funcionamento do sistema. Isso é uma mudança do tipo de organização criminosa que atuava no Brasil e em outros países há 20 anos?
Protógenes –
Hoje isso é classificado como organização criminosa em razão de nosso arcabouço de lei que nos permite enquadrar esse tipo de pessoa que se organiza para saquear o erário, os cofres públicos, o dinheiro da população, a riqueza de um país para interesses próprios, individuais. Mas são pessoas que estão no aparato estatal desde datas longevas. Se notarmos o comportamento dessas pessoas desde a época imperial, da colonização, vamos notar que são idênticos, não houve mudança. A mudança que acrescento, que digo que piorou, que gerou um prejuízo muito grande, um mau exemplo para as futuras gerações, à nossa sociedade e ao nosso povo que presencia o estado calamitoso a que chegaram as instituições no Brasil e determinadas autoridades e políticos, é que não existe punição.
Na época do Império, tinha punição. No período das administrações ultramarinas, eram governadores, magistrados e pessoas comuns que iam cuidar do recolhimento dos impostos destinados à Coroa portuguesa. Eles permaneciam por três anos nesses cargos, e eram punidos se se desviassem da conduta, algo que podia acontecer, já que tinham pequenos salários e eram ofertadas a eles muitas benesses, muitas mordomias. Inclusive se dizia: “olha, pode tudo, mas sejam discretos e não metam a mão no dinheiro da Coroa portuguesa”. Para os dias atuais, a tradução seria algo como “vocês, hoje, não podem explorar as riquezas do nosso país e exportá-las de forma oculta, obscura, criminosa para outros países”. Se isso acontecesse, teria uma punição severa. Qual punição?
Naquela época, eu sempre trago o exemplo de três situações, a de um governador chamado Sebastião Freire, que foi um dos primeiros governadores das colônias, lá em Recife. Esse governador passou sua gestão e arrecadou muitos recursos para a Coroa portuguesa, mas, aliado a isso, também não honrou aquele compromisso de não meter a mão no dinheiro da Coroa portuguesa. Ele meteu a mão e ainda exportou as riquezas, negociou no mercado negro, e quanto voltou a Portugal, rico, foi preso e teve os bens confiscados. Passou seus dias na cadeia. Hoje o que acontece com quem desvia recurso público, com quem desvia as riquezas do nosso país? Tem alguém preso com os bens confiscados? Tem alguém preso com os bens que foram bloqueados a favor do erário? A maioria que cumpre pena é de pobres, negros, desempregados... É o Estado se fazendo presente e justificando para a grande massa que existe lei e existe punição, mas para pobres. Para aqueles saqueadores da República, os salteadores das riquezas do país, não se tem punição hoje, ao contrário, muitas vezes se rendem até homenagens.

Fórum – Você diz que essa situação piorou. Por quê? Essas organizações se sedimentaram mais no aparato estatal?
Protógenes –
Elas praticamente possuem representantes ou integrantes no próprio aparelho do Estado. Tem hoje pessoas ligadas a grandes organizações que se candidatam a cargos públicos eletivos. Já não tivemos exemplos, como o Hildebrando Paschoal, que era um narcotraficante, da narco-guerrilha colombiana que se tornou deputado federal e teria se tornado senador na época. Essa é uma constatação hoje inegável, inequívoco. Existem hoje pessoas que se destinam a servir a essas organizações dentro do aparato estatal.

Fórum – Quando você dá exemplos de pessoas no aparelho estatal, geralmente são pessoas ligadas ou ao Parlamento ou ao Executivo. Dentro do Judiciário, hoje também é muito forte isso? Dentro da Polícia Federal existem pessoas ligadas a grupos mafiosos?
Protógenes –
Não posso individualizar aqueles que estão comprometidos ou não. O que nós observamos é que essas mudanças de comportamento inusitadas em determinadas situações nos levam a crer que há um comprometimento dessas pessoas com o que é errado. Os fatos por si só falam. Não preciso indicar. Quando uma corte superior se manifesta no sentido de que “olha, deixa de ser crime hediondo o tráfico de entorpecente”, pergunto: essa decisão é benéfica para a sociedade ou está se beneficiando o narcotraficante internacional ou o doméstico? Não está beneficiando a sociedade. As pessoas hoje não acreditam mais nas instituições. Hoje as pessoas temem as instituições, elas não têm respeito.

Fórum – Tendo como gancho essa questão de “sair às ruas”, o que você achou da declaração do ministro Joaquim Barbosa em relação a Gilmar Mendes?
Protógenes –
O ministro Joaquim Barbosa pode sair às ruas. Entendo até que ele foi modesto na sua fala, na sua manifestação. Não foi uma manifestação só como cidadão, mas como ministro do Supremo, que merece respeito da população. Um ministro que honra a toga da Suprema Corte, a exemplo de outros também.

Fórum – E quanto ao Gilmar Mendes? Pode sair às ruas?
Protógenes –
Quando ao excelentíssimo senhor presidente Gilmar Mendes, prefiro me abster de qualquer consideração. Tenho o maior respeito pelo presidente do Supremo, pelas suas decisões, embora possa até não concordar, mas respeito e cumpro as que forem determinadas. Por duas vezes cumpri imediatamente as suas decisões em relação à libertação do banqueiro Daniel Dantas.

Fórum – Você acha que essas decisões do ministro Gilmar Mendes foram republicanas?
Protógenes –
Entendo que hoje algumas decisões no país atendem a interesses de uma minoria. Hoje, pegaram o país e estão fazendo dele um grande jogo de compadre e comadre. Não concordo que exista uma grande maioria de pessoas desonestas, existe uma minoria que domina o país de uma forma nefasta, como se fosse um clube de amigos. Uma alta autoridade que vai exercer um cargo importante se pronuncia: “olha, não vou tomar nenhuma providência, porque aqui tem muita amizade, existe um histórico”. Que história é essa? Que relação de amizade é essa que pode nos permitir fazer qualquer coisa, cometer qualquer ato ilegal, ultrapassar os limites da lei, da Constituição em nome da proteção desses amigos?

Fórum – O senhor está falando especificamente do quê?
Protógenes –
Estou falando de vários fatos que exprimem esse tipo de comportamento. Estão tolhendo a representatividade e a autoridade de determinadas pessoas dentro da República, onde deveria se criminalizar com penalidades mais severas o crime de corrupção, os crimes hediondos, e não estão fazendo isso. Estão querendo criminalizar e penalizar quem combate esse tipo de crime. Que pacto é esse? A que ponto nós chegamos? Quando esse tipo de comportamento é externado, a população avalia com muita negatividade.
É preciso ter cuidado. Não vivemos em um regime representativo de democracia plena, o comportamento de determinados atos que são praticados em determinadas situações de significados históricos de mudança de comportamento e instituição e desenvolvimento representam uma aristocracia. “Quem manda sou eu, isso vai servir a fulano.” Existem determinadas decisões e projetos casuísticos para atender a determinados grupos, segmentos que não são o coletivo. Não preciso aqui falar quem está fazendo isso. Quando pego e examino dentro o Departamento Nacional de Pesquisas Minerais, que tem lá uma pessoa, banqueiro, notadamente com seus tentáculos no aparato estatal há 20 anos, que possui mais de 1.400 concessões de exploração do subsolo brasileiro, alguma coisa está errada.

Fórum – O senhor está falando do Daniel Dantas...
Protógenes –
Sim. Então, isso é muito sério. Só se permite uma situação nesse nível quando alguém se privilegiou. E ele está servindo, ele é senhor de um pequeno grupo que assim conduz seus negócios de forma orgânica, de forma organizada.

Fórum – Dantas é a cabeça do polvo, ou ele é um tentáculo?
Protógenes –
Na minha avaliação, é um grande “gerentão”. Ele a todo momento ameaça as pessoas que têm ligações com ele, faz questão de externar, ameaçou inclusive a dizer mentiras em torno da figura do filho do presidente, do excelentíssimo senhor presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que é uma grande mentira. Não encontrei nenhum dado na investigação que levasse a provar que o filho do senhor presidente estivesse envolvido em seus negócios.
Está querendo ameaçar, impor temor em alguma coisa que ele saiba? É uma pessoa com um relacionamento extremamente comprometido dentro da República brasileira com determinados setores e segmentos. Ele construiu isso ao longo dos mais de 20 anos, ele não começou agora. Começo a identificar a figura do banqueiro Daniel Dantas já junto com o senador Antonio Carlos Magalhães. Ele surge ali como uma espécie de consultor, oráculo do segmento da economia brasileira, onde é tido como um gênio, mas um gênio financista do mal. Utiliza suas ideias pra praticar e desviar e fazer coisas não permitidas na lei que lhe proporcionassem esse crescimento, essa riqueza que ele acumulou e gerencia.
E mais: a extensão da figura dele vai para fora do país. A criação de todo o esquema não nasceu no Brasil. Dantas começa a ter influência em determinados quadros da política brasileira para formatar e integrar um esquema que foi criado fora do Brasil, onde se inicia com um formato de criação estatutária com o atual ministro Mangabeira Unger, que participa do chamado acordo guarda-chuva, um acordo criminoso. Instituíram-se várias empresas no Brasil criminosamente destinadas a desviar recursos, a manipular a opinião pública, a desviar as atenções da população para saquear o país. Isso é muito grave, é questão de segurança nacional. Quando vejo um esquema desses, perigoso, envolvendo altas autoridades do cenário internacional financeiro, com comprometimento criminoso para o meu país, isso tem que ser imediatamente identificado, criminalizado e que essas pessoas sofram penas, as consequências por terem praticado esses atos.

Fórum – Em alguns momentos, o senhor já disse que o Dantas é só um dos braços. Quem são os outros?
Protógenes –
Eu gostaria de não indicar nomes. Entendo que quando encontro no projeto do acordo guarda-chuva a transposição do rio São Francisco, a quem está interessando isso? Quem está participando desse processo hoje? A quem interessou a privatização da Vale do Rio Doce? Quem participou dessa privatização? Quem são os atores? A quem interessou a unificação das teles? Por que essa unificação encontra indícios de fraude? E o resultado, mesmo assim, se prosseguiu com esse projeto. Quem patrocinou? Quem são as pessoas envolvidas? É de fácil identificação. Basta fazer uma busca numa linha histórica do processo de privatização no país de quem participou.
Nós vamos encontrar que quem iniciou o processo de privatização foi o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Participou ativamente, foi praticamente quem aprofundou o processo de privatização, entregando as grandes riquezas do país a grandes grupos que não têm comprometimento com o Brasil. Isso é muito ruim. A quem interessa uma privatização da Petrobras? Será que hoje a nossa empresa estatal é totalmente de domínio brasileiro? Se for buscar o controle acionário, vamos ver que não. Será que nosso Banco do Brasil tem um controle acionário unicamente brasileiro? Busque no site do Banco do Brasil e veja. A quem interessa isso? Isso foi benéfico para o país? O processo de privatização foi criado para gerar renda, emprego e diminuir as desigualdades sociais? Aumentou! Aumentou desigualdade social. Basta ver o processo de favelização que há nas duas grandes cidades, que representam economicamente um peso forte na economia do Brasil, que são Rio de Janeiro e São Paulo. Não estamos falando nem de Minas Gerais, nem do Nordeste, do próprio Recife, nem da própria região amazônica. Se formos pesar o tanto de regiões hoje do país, vamos ver que cresceu o índice de miséria, a ponto de o governo ter que criar um plano emergencial para diminuir a desigualdade social, que é a distribuição do Bolsa-Família. Muitos criticaram o presidente Lula por ter criado esse projeto. Eu vejo o resultado, lá na ponta. O que isso representou naquele momento político em que ele foi lançado?
Se hoje não tivesse o plano do Bolsa-Família, como seria nossa sociedade? Será que seria um bando de famintos e saqueadores, como já estavam? Pessoas descendo de regiões mais pobres e saqueando supermercados... Será que teríamos um processo mais avançado? Agora tem que se levar em consideração que isso não é um fim em si mesmo. Só isso não diminui a desigualdade social, isso causa um impacto. Tende a represar o que mais tarde está por vir. Nós estamos em um represamento. Hoje nós temos um processo de favelização nos grandes centros muito grande. Será que o nível dessas pessoas de comunidades mais pobres tem um consciente coletivo de politização ou um nível de descer para reivindicar? Não.

Fórum – Ou seja, a privatização foi o prato principal?
Protógenes –
Foi. A consolidação do projeto surge com as privatizações. Mesmo hoje o grande plano de como vamos controlar o Brasil, de como vamos ser donos do Brasil...

Fórum – Isso é o acordo guarda-chuva?
Protógenes –
É. De como vamos ser donos do Brasil. Ele surge através de quê? O primeiro instrumento que eu identifiquei é esse acordo chamado umbrella deal, que é o acordo guarda-chuva. Você tem o cetro do guarda-chuva irrigado pelo Citigroup, investidores internacionais de peso e os fundos de pensão. O grande fomentador de investimento de recursos sólidos e disponíveis naquele momento para poder dar conseqüência a esse projeto no Brasil partindo desses recursos brasileiros seriam os fundo de pensão, que tinham a maior disponibilidade naquele momento para participar dos processos de privatização. Tanto é que participam. Mas não em benefício próprio. Dos beneficiários dos fundos de pensão participando dessa grande fatia de privatizações de empresa estatais, não. Isso aí é usado por interesse de uma minoria. Todos os beneficiários e associados dos fundos de pensão não receberam um centavo desse processo de privatização. Não foram beneficiados, pelo contrário. Foram prejudicados, sofreram prejuízos. Se verificar quantos bilhões de dólares foram desviados de recursos dos fundos de pensão destinados a essas privatizações, e que esses bilhões de dólares não chegaram a esse destino final, ou se chegaram não alcançaram o seu destino final, que era retornar esses investimentos para esses fundos, para que o dinheiro desse fundo triplicasse ou quadruplicasse o volume de negócios, isso seria muito bom para o país, mas não foi isso o que ocorreu.

Fórum – Podemos considerar que o grande pai das privatizações é o FHC. Ele deu uma entrevista recentemente para o Kennedy Alencar, no programa É Notícia da Rede TV!, em que ele disse que o Gilmar Mendes é corajoso, que o senhor é amalucado e, sobre Daniel Dantas, ele diz “não conheço bem, mas dizem que é brilhante”...
Protógenes –
Acho que ele já respondeu o que ele representa como pessoa. Acredito que ele já se definiu. Só posso esperar esse tipo de conduta de uma pessoa que é um ex-presidente da República, com considerado nível intelectual e experiência na política brasileira, já no final de vida pública. O que ele externa hoje, consolida todo o seu passado duvidoso e comprometido com outros valores que não os meus, que não os da sociedade brasileira, que não os do povo brasileiro, que não o que representa a importância do Brasil hoje no cenário internacional.

Fórum – Dá pra mensurar a participação do FHC nesse império do Dantas?
Protógenes –
Sim, ele foi uma peça importante, um propulsor importante no desenvolvimento dessas ações. Vou até mais além, não só nas ações de privatizações, mas também o seu comprometimento com o crescimento da dívida externa brasileira e com fraudes na dívida externa brasileira. Os fatos por si só já falam o que representa. O processo de privatização no Brasil diminuiu a desigualdade social como estava previsto? Aumentou o número de empregos como estava previsto? Aumentou o índice de alfabetismo? Não. Diminui o índice de miséria? Reduziu o crescimento das comunidades carentes, da população pobre? Aumentou.

Fórum – O senhor diria que o ex-presidente também saqueou o país? Protógenes – Diria que as políticas públicas implementadas por ele não atenderam os resultados aos quais foram originariamente formatados e destinados, ao desenvolvimento do país e da sociedade. Está lá no projeto da privatização: geração de emprego, renda, diminuição da desigualdade social. Tudo isso piorou. Essas pessoas têm que ser cobradas, e têm que ser cobradas na Justiça mesmo. Não é só enquanto implementação de projeto político de não serem reconduzidos aos cargos públicos que anteriormente ocupavam. Ou seja, com o presidente, governador, deputado ou senador. Isso só não basta, porque o que acontecia nas administrações ultramarinas é que essas pessoas tinham punição. Hoje essas pessoas não têm punição, dão até palestras.

Fórum – Nisso que você denomina “clube de amigos”, qual o papel da mídia comercial? Seu relatório foi muito combatido nesse espaço. No seu blogue você diz, em relação à imprensa, que chegamos a algo parecido com a propaganda nazista...
Protógenes –
Chegamos nesse ponto perigosíssimo e isso é identificado na própria Operação Satiagraha. Senti muita tristeza quando começamos a ver os dados do início da operação, assim como muitos membros da minha equipe. Os dados de uma investigação são coletados de muitas áreas, e muitos deles são publicados na imprensa brasileira. E me impressionou o fato de que muitos deles eram manipulados, trabalhando o consciente coletivo em favor do crime. Não posso revelar, mas vi muitos editoriais manipulados. Isso é muito grave e só pode se ver fatos assim na imprensa nazista. O nível de contaminação chegou a tanto, que não posso dizer que contaminou não numa parcela, mas quase toda a imprensa brasileira. Ficaram fora desse processo poucos, uma ou outra emissora, a revista Carta Capital, a Caros Amigos, a Fórum que vocês representam hoje.
Contudo, hoje temos uma massa crítica muito grande, antes, quando você imaginaria uma perda de assinantes de uma revista como a Veja? Quando você vai pra fora, pra outros países, percebe o horror em relação ao que acontece aqui.

Fórum – Ou seja, essas grandes corporações estão comprometidos com Daniel Dantas?
Protógenes –
Não em nível institucional, mas que alguns profissionais estão ligados a ele, sim. Comprometidos a produzir aquilo que não corresponde à verdade, à realidade. Hoje nosso consciente coletivo é tão forte que já podemos identificar essas pessoas.

Fórum – Para concluir, no seu blogue você fala, em uma carta ao presidente estadunidense Barack Obama: “Infelizmente, não é apenas o judiciário que está no payroll do banqueiro-bandido Daniel Dantas. O próprio presidente da república, o Lula, acaba de colocar los amigos para assumir controle do Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin)...”. Isso é uma acusação ao presidente Lula?
Protógenes –
Na verdade essa carta foi construída pelos administradores do blogue, fiz algumas adaptações e na redação final ficou essa incorreção. Falo das pessoas da área de inteligência que não têm nenhuma experiência para formatar qualquer proposta no setor. Se vou pegar um grupo de pessoas para reformar um dos órgão mais importantes da República, vou colocar pessoas com larga experiência e conhecimento na área. O Brasil tem notáveis profissionais e que se disponibilizam a reformar o sistema de inteligência que precisa ser formatado. Com o caso Satiagraha, se desmantelou o aparato estatal de inteligência brasileira, o Brasil se encontra fragilizado em termos de proteção das informações. E é por isso que reforço: a quem serviu isso o desmantelamento do serviço de inteligência? Quais os prejuízos causados por conta disso?

Fórum – O senhor sairá candidato? Se sim, por qual partido?
Protógenes –
Não sou candidato a nada, só a uma vaga de carcereiro do banqueiro condenado quando houver a primeira penitenciária que a República brasileira inaugurar para pessoas com alto nível de periculosidade. Mas pretensão política não tenho nenhuma para exercer algum cargo público no momento, há uma vontade popular crescente que vejo nas ruas e no meu blogue, mas o meu sentimento é não concorrer. Hoje estou afastado da Polícia Federal, por conta de uma decisão administrativa da qual não concordo, e não estou exercendo minha função de delegado da Polícia Federal. Quero continuar meu trabalho e tentar reaver o dinheiro que foi desviado dos cofres brasileiros, nem que seja fora da Polícia Federal, mas pretendo continuar dentro dela. Quanto a partidos, tenho propostas de A a Z, de PT a PSDB. Isso demonstra que o trabalho teve grande importância para a sociedade brasileira. Notadamente alguns partidos já cerraram fileiras e compromisso com o meu trabalho, como o PDT e o PSol. Isso me deixou com uma satisfação muito grande e é muito dignificante para um servidor público. F