Solidariedade zero a Rachel Sheherazade

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Sheherazade defende o direito liberal de ser fascista e de utilizar um poderoso meio de comunicação para atacar tudo que cheire a povo. A aprendiz de sinhá adora reforçar a – desculpem - ideologia dominante e exarar golpismo a cada vírgula Por Gilberto Maringoni* Eu não me somo nem de longe à solidariedade que muitos externam a Rachel Sheherazade. A moça levou um pito público de Silvio Santos em um programa de TV e ficou desconcertada. "Eu te chamei para você continuar com a sua beleza, com a sua voz, foi para ler as notícias, e não dar a sua opinião. Se quiser falar sobre política, compre uma estação de TV e faça por sua própria conta", disparou o empresário. Solidariedade nenhuma à jornalista. Nem mesmo diante das acusações de machismo ao patrão. Sheherazade defende o direito liberal de ser fascista e de utilizar um poderoso meio de comunicação para atacar tudo que cheire a povo. A aprendiz de sinhá adora reforçar a – desculpem - ideologia dominante e exarar golpismo a cada vírgula. Sabe, além disso, que a aparência física é fundamental em um canal que vive de propagar preconceitos e sinais exteriores de posição social. Está na chuva para se queimar, diria Vicente Matheus. Não sei se Sheherazade leu “A política como vocação”, de Max Weber. Não vai aqui nenhum pedantismo de minha parte. O texto é quase um manual indicado em qualquer curso de jornalismo. A leitura é instrutiva e interessante. PALAVRAS DO ALEMÃO A laudas tantas, Weber afirma o seguinte: “São exatamente os jornalistas de grande notoriedade que se veem compelidos a enfrentar exigências particularmente cruéis. É de mencionar, por exemplo, a circunstância de frequentar os salões dos poderosos da Terra, aparentemente em pé de igualdade, vendo-se, em geral e mesmo com frequência, adulado, porque temido, tendo, ao mesmo tempo, consciência perfeita de que, abandonada a sala, o anfitrião sentir-se-á, talvez, obrigado a se justificar diante dos demais convidados por haver feito comparecer esses 'lixeiros da imprensa'. De mencionar também é o fato de se ver obrigado a manifestar prontamente e, a par disso, com convicção, pontos de vista sobre todos os assuntos que o 'mercado' reclama e sobre todos os problemas possíveis, e tudo isso sem cair na vulgaridade e sem perder a própria dignidade desnudando-se, o que teria as mais impiedosas consequências. Em circunstâncias tais, não é de qualquer modo surpreendente que numerosos jornalistas se hajam degradado, decaindo sob o ponto de vista humano, mas surpreendente é que, a despeito de todas as dificuldades, a corporação inclua tão grande número de homens de autêntico valor e mesmo uma proporção de jornalistas honestos mais elevada do que o supõem os profanos”. VALE LER CHATÔ TAMBÉM Tudo bem. Sheherazade pode não ter lido Weber. Mas poderia ter passado os olhos no magistral Chatô, de Fernando Morais, e aprendido uma lição básica, a partir de um diálogo entre Assis Chateaubriand e seu repórter David Nasser. No final dos anos 1950, o chefe ficou injuriado com um artigo do funcionário: “Que merda é essa, David, de falar mal do Juscelino na sua coluna?” David respondeu: “Mas, doutor Assis, é minha coluna, tem meu nome lá em cima, é minha opinião”. Chateaubriand respondeu: “Se quiser ter opinião, monta um jornal só para você; na minha revista você defende a minha opinião”. Por essas e outras, zero de solidariedade à musa do fascio nacional. Ela que aprenda a ser menos baba-ovo em relação às ideias do dono da voz. Silvio Santos construiu seu Império na base do mandonismo e o machismo sempre imperou em sua rede de televisão, vide os programas humorísticos de gosto duvidoso com aberto preconceito às mulheres, aos negros e à comunidade LGBT. É um patrão e assim agiu ao vivo, para que ninguém tenha dúvida de seu lugar de fala. * Gilberto Maringoni é professor do Bacharelado em Relações Internacionais (BRI) e membro do corpo docente da Pós-Graduação em Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal do ABC (UFABC)