As crises de soluço de Bolsonaro: o que de fato está acontecendo?

A Fórum foi ouvir médicos, levantou o histórico clínico do presidente e traz informações sobre os possíveis quadros que podem estar relacionados à evolução dos problemas de saúde do chefe do Executivo brasileiro

Foto: Agência Brasil
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O presidente Jair Bolsonaro vem apresentando nítidos problemas de saúde nos últimos tempos. A percepção é de que, por conta dos escândalos de corrupção enfrentados por ele e por seu governo desde o início da CPI do Genocídio, a coisa está piorando.

Na manhã desta quarta-feira (14) o chefe do Executivo foi levado a um hospital de Brasília, com dores, para tratar uma obstrução intestinal, segundo informações da Record TV. Uma nota oficial dá conta de que o presidente ficará internado no local em observação, por 48 horas.

De alguns dias para cá, uma crise de soluços incontrolável acometeu o líder extremista, que passou a ter nítida dificuldade para falar. Possivelmente medicado, o presidente apresenta uma fala “mole” desde o início desta semana e notável cansaço físico.

Acredita-se que o agravamento de seu quadro clínico está intimamente ligado aos escândalos que vem enfrentando por conta das tentativas de compra superfatura das vacinas Covaxin e Sputnik-V, assim como pelos áudios apresentados por uma ex-cunhada que revelam ser ele o chefe do esquema de rachadinha nos gabinetes parlamentares da família.

O que dizem os médicos

A Fórum foi ouvir profissionais da medicina para compreender o assunto e tentar buscar respostas para o aparente agravamento do quadro de saúde de Jair Bolsonaro.

Pedro Tourinho, médico e professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas, explicou o que é a obstrução intestinal, diagnóstico atribuído pelos meios de comunicação ao presidente e que seria o motivo de sua internação na manhã desta quarta-feira (14).

“Em geral, a oclusão intestinal, como é chamada a obstrução do intestino, ou suboclusão, é um quadro que pode se apresentar de maneira menos grave, exigindo internação e observação médica apenas, para acompanhamento da evolução clínica, mas que também pode apresentar-se como um quadro grave, situação inclusive em que será necessária uma intervenção cirúrgica no paciente”, esclareceu.

Tourinho afirma não ser possível associar, por ora, o quadro de oclusão intestinal às sucessivas crises de soluço apresentadas pelo mandatário brasileiro, já que soluços podem ocorrer por diversas razões.

“Relacionar diretamente a crise de soluço do presidente a esse quadro de oclusão seria algo meramente especulativo. Crises de soluço podem ter várias origens e serem provocadas por inúmeras condições. Tumores, condições relacionadas ao estômago e uma infinidade de coisas podem provocar soluços, assim como o quadro obstrutivo, mas relacionar isso agora seria mera especulação”, argumentou.

O médico explica ainda que, em muitos casos, a obstrução intestinal pode ser grave, embora não seja uma regra. Há inúmeras variáveis que devem ser observadas nesses casos.

“A oclusão intestinal pode ser grave, sobretudo num paciente que tem um histórico de várias cirurgias no abdômen, como é o caso do presidente Bolsonaro, por conta do episódio da facada. Nesses casos, é necessário um acompanhamento maior já que podem ocorrer aderências, rupturas, enfim. É um perfil de paciente susceptível a complicações e agravamentos”, ponderou.

Sobre a gravidade da condição, e perguntado sobre a possiblidade da oclusão intestinal levar à morte do paciente, Tourinho afirma ser possível, mas não na maioria dos casos.

“Sim, a oclusão pode levar à morte, especialmente de quem não tem uma assistência médica mais ostensiva, o que não é o caso do presidente da República, mas essa é apenas uma das possibilidades, e não é a mais comum”, concluiu.

Quem também falou com a reportagem da Fórum foi o deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP), que é médico e atua na saúde pública há mais de 25 anos. Para ele, as informações que vieram à tona até agora não pressupõem um caso grave.

“Ao que parece, me guiando pelos dados passados até agora pela imprensa, o quadro não seria grave, uma vez que o presidente está em observação e as informações dão conta de que ele não passou por exames mais invasivos ou procedimentos cirúrgicos”, disse.

O deputado crê que o momento político enfrentado por Bolsonaro, alvo de inúmeras acusações de corrupção, e sua alimentação pouco regrada podem ser as causas dos sintomas apresentados pelo presidente da República.

“Particularmente, creio que o problema pode estar relacionado ao stress, ou à alimentação do presidente. Essas são causas para esse tipo de crise, no caso dos soluços. Bolsonaro recentemente teve um desconforto num jantar no Rio Grande do Sul e precisou abandonar o local... E há também o fato dele estar sob uma pressão inédita desde o início de seu governo, por conta dos escândalos que vem enfrentando”, opinou.

Uma notícia veiculada pela imprensa nos últimos dias, sobre materiais médicos comprados em licitações públicas pela Presidência da República, em contrapartida, levou Padilha a acreditar que, talvez, as autoridades federais estejam escondendo informações sobre o real quadro de saúde de Bolsonaro.

“Causou estranhamento a notícia veiculada recentemente que informou sobre a compra de fraldas descartáveis adultas pelo Palácio do Planalto. As compras realizadas pela Presidência da República só podem ser direcionadas à família presidencial, composta por Bolsonaro, sua esposa e a filha mais nova. Não se sabe se o Planalto está escondendo alguma informação sobre a saúde do presidente”, ventilou como hipótese.

A facada e os sucessivos problemas intestinais

Jair Bolsonaro levou uma facada em Juiz de Fora (MG), durante a campanha eleitoral da qual saiu vencedor, em 2018, e desde então apresenta problemas gastrointestinais recorrentes. O atentado resultou na perfuração do intestino grosso do então candidato e no rompimento da artéria mesentérica, provocando uma intensa hemorragia que quase o levou à morte.

Após as duas cirurgias iniciais (de emergência e para reconstrução do trato intestinal) para salvá-lo do ataque, uma bolsa de colostomia foi colocada e conectada ao seu cólon, por meio de uma abertura no abdômen, retirada cinco meses após a implantação. O procedimento e as complicações decorrentes das intervenções cirúrgicas às quais foi submetido renderam hérnias ao presidente.

Bolsonaro já enfrentou seis cirurgias em consequência do golpe com arma branca dado por Adélio Bispo de Oliveira na véspera do Dia da Independência de 2018. Já foram colocadas telas para conter duas hérnias no abdômen do chefe de Estado, mas ainda assim o problema parece persistir.

O que é obstrução intestinal?

A chamada obstrução intestinal é um bloqueio total do cólon (intestino grosso), que impede a passagem do material fecal circulante daquela região, assim como de gases gerados pelo processo digestivo. Ela pode ser provocada por tumores ou pelo surgimento de qualquer massa que interrompa o trânsito intestinal.

Normalmente, pessoas com obstrução intestinal apresentam desconforto, dor, cólicas, soluços, obstipação e vômitos. A condição precisa ser monitorada por médicos, uma vez que pode resultar no rompimento do tubo digestivo, o que pode ser fatal.