STF e o Caso Dreyfus: por que mentiu, Excelência?

O Supremo tem a oportunidade de revelar por completo a influência de Dantas nos governos FHC e Lula, na mídia e no Judiciário, desde que tenha uma atuação acima dos interesses partidários

J'accuse, famoso artigo escrito por Émile Zola.Quando a corte de Paris dobrou-se aos interesses oligárquicos e decidiu reincidentemente contra provas
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O Supremo tem a oportunidade de revelar por completo a influência de Dantas nos governos FHC e Lula, na mídia e no Judiciário, desde que tenha uma atuação acima dos interesses partidários Por Pedro Benedito Maciel Neto, no Vermelho [caption id="" align="alignleft" width="480"]http://armonte.files.wordpress.com/2010/10/dreyfusjaccuse.jpg J'accuse, famoso artigo escrito por Émile Zola, quando a corte de Paris dobrou-se aos interesses oligárquicos[/caption] Estava claro que o verdadeiro espião que todos procuravam era outra pessoa. Mas isso não adiantou muito. Para evitar uma revisão, começaram a surgir novas provas – fraudadas – para incriminá-lo, o que atrasou o processo por mais tempo. Condenado em 1895, Dreyfus seria liberado, por graça presidencial, pois os tribunais jamais declararam sua inocência, em setembro de 1899. Um ano antes, o oficial que havia forjado documentos para proteger os superiores foi desmascarado e cometeu suicídio. Podemos estar às portas de conhecermos um “caso Dreyfus” aqui no Brasil, pois a pedido do réu Henrique Pizzolatto e com base na Súmula Vinculante 14 do STF (a qual autoriza dar-se aos acusados acesso aos autos para que se defendam amplamente) o Ministro Ricardo Lewandowski, no exercício da Presidência do Supremo, mantendo o caráter de “segredo de Justiça”, deu acesso a oito réus ao Inquérito 2474, desdobramento do Inquérito 2245, que se tornou a Ação 470, o mensalão. Isso acontece após quase sete anos de segredo decretado por Joaquim Barbosa, o Supremo Tribunal Federal liberou para consulta o Inquérito 2474 da Polícia Federal. Não é demais lembrar que as apurações deste inquérito foram solenemente ignoradas durante o julgamento do "mensalão" e sequer constaram do relatório de Joaquim Barbosa. Por quê? Qual a relevância do conteúdo e conclusões desse inquérito? Bem, o Inquérito 2474 foi uma investigação complementar, feita a pedido do Ministério Público, para mapear as fontes de financiamento do "valerioduto" na época das denúncias sobre o chamado "mensalão". E qual foi a conclusão? Aqui estão: (a) o esquema envolvia o financiamento ilegal de campanha e lobbies privados; (b) começou em 1999, ainda no governo Fernando Henrique Cardoso; (c) terminou em 2005, na administração Lula, após ser denunciado pelo deputado Roberto Jefferson. Exatamente o oposto daquilo que Juca Barbosa concluiu em seu relatório. Mas essas informações foram sonegadas pelo Ministro Relator da AP 470. Penso que os Ministros do STF e a opinião pública tinham direito às informações do IP 2474 antes do julgamento. Por que Joaquim Barbosa as omitiu? Essa omissão caracteriza crime de responsabilidade do Ministro? [caption id="" align="alignleft" width="480"]140126.Barbosa Joaquim Barbosa impediu por cinco anos a divulgação da pasta 2474
Fonte: Outras Palavras[/caption] No inquérito o delegado indicou que nunca houve 'mensalão' (o pagamento mensal a parlamentares), mas sim uma estratégia criminosa de formação de caixa 2 que começou com FHC e avançou ao governo Lula, mas que não envolveu dinheiro público (mas o alcançaria de forma voraz caso não tivesse sido interrompida pela eclosão do escândalo). E pasmem: o relatório, assinado pelo delegado Luís Flávio Zampronha, foi encaminhado à Justiça em meados de 2007 foi ignorado por Juca Barbosa... Por quê? Que interesses o Ministro defende realmente? O inquérito estava sob segredo de Justiça determinação do hoje presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa. O inquérito aponta ainda a participação do banqueiro Daniel Dantas no esquema. “Pelos elementos de prova reunidos no presente inquérito, contata-se que Marcos Valério atuava como interlocutor do Grupo Opportunity junto a representantes do Partido dos Trabalhadores, sendo possível concluir que os contratos (de publicidade) realmente foram firmados a título de remuneração pela intermediação de interesse junto a instâncias governamentais”. Repita-se: as apurações deste inquérito foram solenemente ignoradas durante o julgamento do "mensalão" pelo seu Relator. Por quê? O Supremo tem a oportunidade de pôr a limpo estes esquemas e de revelar por completo a influência de Dantas nos governos FHC e Lula, na mídia e no Judiciário, desde que tenha uma atuação acima dos interesses partidários, a bem do País. O relatório do Delegado Zampronha é um bom começo para reencontrar-se com a verdade e com a Justiça. Teria o Ministro Joaquim Barbosa sido autor de um caso de fraude jurídica história? A interesse de quem? Estamos diante de um “caso Dreyfus”? O tempo e a História revelam todas as fraudes. Pedro Benedito Maciel Neto é advogado, professor e escritor