Suicídios na Espanha: um problema de saúde pública que não para de aumentar

Desde 2007, suicídios são a principal causa externa de morte no país, superando as decorrentes de acidente de trânsito. Taxa da Europa é ainda maior

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Desde 2007, suicídios são a principal causa externa de morte no país, superando as decorrentes de acidente de trânsito. Taxa da Europa é ainda maior Tradução livre a partir de 20minutos Um profundo desespero e um sofrimento extremo que parecem não ter fim. Isso é o que existe sempre por trás de um suicídio. Em 90% dos casos, além disso, se configura um quadro de transtorno mental como depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia, trastorno de personalidade borderline ou alcoolismo. É o que diz uma das maiores autoridades da Espanha sobre a matéria, o médico Santiago Durán-Sindreu, responsável pela unidade de prevenção de suicídios do Hospital Sant Pau de Barcelona. “É um grande problema de saúde pública”, afirma. Um problema, aliás, que não parou de aumentar nos últimos anos. Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE), de 2013, falam de 3.870 pessoas mortas naquele ano (2.911 homens e 959 mulheres), uma taxa de 8,3 falecimentos por suicídio para cada 100.000 pessoas, a taxa mais alta desde 2005. A cifra coloca o suicídio, por mais um ano, como a principal causa externa de morte (o que ocorre desde 2007) e representa um aumento de 2,7% em relação a 2012. E isso levando-se em conta que ao elevação em 2012 foi altíssima, com 11,3% a mais de 2011. O INE explica, no entanto, que os números não são estritamente comparáveis, já que em 2013 foi introduzida uma melhora metodológica na elaboração da estatística. Durán-Sindreu é consciente desse aumento, que qualifica como "alarmante". Não obstante, assinala que nos anos 1980 a Espanha já tinha uma taxa entre 6 e 8 suicídios para cada 100.000 pessoas, ou seja, é preciso cautela ao olhar tais números, sendo necessário analisar com uma perspectiva dentro de uma série de cinco ou dez anos para avaliar com precisão as elevações. Quando se tenta encontrar uma explicação para o aumento das cifras, muitos tentam ver por trás do cenário o fantasma da crise econômica, mas o médico adverte: “É muito precipitado fazer essa análise. Na minha opinião, relacionar o suicídio com uma única causa é muito simplista”. Prevenção e sensibilização são as chaves O que se tem evidente é uma coisa: ao verificar a existência de um transtorno mental em 90% dos casos, sabe-se que os suicídios são evitáveis, na medida em que os ditos transtornos são passíveis de tratamento. Nesse sentido, é fundamental a prevenção, algo que nesta quarta-feira (10), chamaram a atenção inúmeros especialistas em saúde mental por conta do Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. “É essencial facilitar o acesso aos profissionais de saúde mental do sistema de saúde”, sublinha Durán-Sindreu. “Em ocasiões nas quais existem muitos entraves burocráticos e administrativos, precisamos eliminá-los.” Ao mesmo tempo, ele destaca a importância de uma boa campanha de detecção e prevenção por parte dos médicos de atenção primária. “São os primeiros que veem os pacientes. Se eles não detectam, nunca chegam até nós”, afirma. A outra perna fundamental na luta contra esse doloroso flagelo é a sensibilização. “É importantíssimo conscientizar a opinião pública de que se trata de um problema de saúde. Da mesma forma que são feitas campanhas contra o tráfico ou a violência de gênero, precisamos fazer campanhas para isto. Desde 2007 há mais mortos por suicídio do que por acidentes automobilísticos”, afirma Sindreu. “O trabalho dos meios de comunicação é crucial. É preciso romper tabus e entender que falar de suicídio não induz ao suicídio. Pensar o contrário é ignorância. Quanto mais se conhece o problema, melhor se poderá combatê-lo.” Na opinião do psiquiatra, é preciso deixar a culpa e a vergonha para trás. “A família não é culpada. Temos que mudar como sociedade e começar a tratar o assunto como mais uma enfermidade.” Anualmente, 800 mil pessoas morrem por suicídio ao ano no mundo, segundo a OMS, ainda que os especialistas considerem que tais cifras sejam conservadoras. A estatística real “é mais alta, mas não a conhecemos devido ao estigma associado ao suicídio ou à falta de procedimento confiável no registro dos mortos”, diz a presidenta do Teléfono de la Esperanza, Magdalena Pérez. Ainda há que se somar as milhões de tentativas e o impacto nas vidas de todos que rodeam. Na Europa, conforme dados de 2012, a Espanha é um dos países com taxas mais baixas de suicídios, muito abaixo da média da UE, situada em 11,72. Melhores que a Espanha apenas o Chipre (3.82 ), Grécia (4.41), Itália (6.68), Malta (6.4) e Reino Unido (7,22). Foto de capa: Milena, protagonista do documentário "Sobreviventes. As cicatrizes do suicídio"