Um ano da tragédia: na porta da Kiss, "o cheiro era de morte", conta repórter

Repórter-fotográfico que cobriu o incêndio na Boate Kiss relembra como foi a experiência

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Repórter-fotográfico que cobriu o incêndio na Boate Kiss  relembra como foi a experiência Por Wilsom Dias (foto), na Agência Brasil [caption id="attachment_40524" align="alignleft" width="277"] "Essa foi uma cobertura que marcou a minha vida, da qual não gosto de lembrar", conta Wilsom Dias (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)[/caption] Na manhã do domingo, estava no hotel, em Porto Alegre, onde a equipe da EBC faria a cobertura do Fórum Social Temático. Estava no quarto, com a televisão ligada, quando foi noticiado o incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria (RS). Naquele momento, a informação era de que aproximadamente 30 pessoas tinham morrido. No restaurante do hotel, o noticiário da televisão, a cada transmissão, anunciava um número maior de mortos. Lembro que avisei a equipe: “olha, o telefone vai tocar e vamos para lá”. Dito e feito, a redação, em Brasília, entrou em contato e em menos de 30 minutos estávamos na estrada. Pelo rádio, ouvíamos a atualização do noticiário. Já em Santa Maria, fomos direto para o Centro Desportivo Municipal, onde os corpos eram levados para reconhecimento e entrega às famílias. Alguns parentes sequer moravam na cidade. Lembro que tinha gente de tudo que é lugar porque Santa Maria é uma cidade universitária. Várias vítimas eram de Porto Alegre. O clima estava pesadíssimo, choro em todos os lugares, todo mundo perplexo com o tamanho da tragédia. A história que mais me marcou foi o anúncio das vítimas já reconhecidas. A solidariedade dos voluntários também era muito forte. Eles "ralaram" muito para atender as pessoas, inclusive jornalistas. Desde a nossa chegada, trabalhamos sem parar. É impossível deixar de se envolver em uma situação como a que encontramos, mesmo com anos de bagagem profissional. Em 52 anos de vida, não fui a tanto enterros como os que presenciei em Santa Maria. É muito difícil ter que fazer o seu trabalho vendo o sofrimento dos familiares. Na porta da Kiss, onde estive para fotografar o que restou da boate, a sensação, o cheiro era de morte. Um ambiente muito pesado. Essa foi uma cobertura que marcou a minha vida, da qual não gosto de lembrar. [caption id="attachment_40523" align="aligncenter" width="600"] (Arte: Antonio Trindade e Pedro Ivo de Oliveira - Agência Brasil)[/caption]