Há um mês sem agenda, Pazuello segue em cargo de R$ 9 mil no Palácio do Planalto

General que protagonizou uma desastrosa gestão no Ministério da Saúde recebe salários como militar e civil e desde sua queda “despacha” bem debaixo do nariz de Bolsonaro, em silêncio e com tempo de sobra

Eduardo Pazuello - Foto: Jefferson Rudy/Agência SenadoCréditos: Jefferson Rudy/Agência Senado
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O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, que ocupa um cargo dentro do Palácio do Planalto desde outubro do ano passado, após sua saída da pasta no auge de uma desastrosa gestão, completou um mês sem agenda oficial. Sua função, segundo o Diário Oficial, é de secretário de Estudos Estratégicos da Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, para qual foi nomeado em junho e assumiu quatro meses depois, com remuneração de R$ 9 mil, além dos R$ 21 mil que recebe por ser general do Exército Brasileiro.

Trabalho que é bom, realmente parece não estar desempenhando, já que o último registro público de sua agenda foi em 16 de dezembro, com uma anotação genérica de “despacho interno”. De lá pra cá, mais de um mês depois, segue sem atividades oficiais. Ele sofreu um acidente de moto na véspera de Natal, mas os registros do Palácio não anotam qualquer tipo de licença médica.

A Secretaria de Estudos Estratégicos (SAE) foi procurada pelo diário conservador paulista Folha de S.Paulo para explicar a agenda em branco de Pazuello e justificou dizendo que anotações como “despacho interno” e “sem compromisso oficial” são comuns a vários servidores quando estão em período de atividades internas administrativas, realizando tarefas rotineiras.

O general que sabe demais

Eduardo Pazuello, general do Exército Brasileiro que se autointitula especialista em logística, chegou ao Ministério da Saúde em maio de 2020, após a saída do médico Nelson Teich do cargo. Ficou um ano e cinco meses na chefia da pasta e entrou para a história como uma das gestões públicas federais mais desastrosas de todos tempos.

Sob seu comando, a Saúde viu o país adotar medidas esdrúxulas de combate à pandemia, assistiu a centenas de milhares de mortes pela Covid-19 e viveu os horrores da crise do oxigênio em Manaus, em janeiro de 2021, quando pacientes morriam asfixiados porque os hospitais não receberam suprimentos de oxigênio por parte do Ministério encabeçado por Pazuello, que já tinha sido informado sobre o iminente caos que se avizinhavam na capital amazonense.

O militar esteve a todo tempo submisso em relação às insanidades negacionistas de Jair Bolsonaro, indicando em insistindo no uso indiscriminado de cloroquina e ivermectina, negando a gravidade da situação imposta pelo coronavírus, espalhando informações falsas e omitindo informações fundamentais para o combate ao Sars-COV-2.

Verdadeiro arquivo vivo, Pazuello viu-se numa condição crítica para permanecer como ministro e então foi removido do cargo pelo presidente, que conduziu o cardiologista Marcelo Queiroga para seu lugar, na tentativa de estancar a avalanche de ataques que recebia de todos os setores da sociedade pela má-condução das políticas públicas durante a pandemia.

Desde então, o general desorientado que colocou o Brasil no olho do furacão durante a hecatombe provocada pela Covid-19 está silenciado numa sala do Palácio do Planalto, onde recebe um bom salário e mantêm-se afastado da imprensa e da vida pública.