Um palco rubro-negro

Em artigo, o jornalista Willian Novaes compara a manifestação do MTST aos protestos recentes da elite brasileira: "Essa é a diferença crucial para os outros eventos dominantes de vários tons de amarelo, tanto nos trajes, como nos cabelos. Já o ato de ontem, poderíamos dizer que foi rubro-negro. Vermelho de vestimentas e bandeiras e predominantemente preto de pele".

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Em artigo, o jornalista Willian Novaes compara a manifestação do MTST aos protestos recentes da elite brasileira: "Essa é a diferença crucial para os outros eventos dominantes de vários tons de amarelo, tanto nos trajes, como nos cabelos. Já o ato de ontem, poderíamos dizer que foi rubro-negro. Vermelho de vestimentas e bandeiras e predominantemente preto de pele" Por Willian Novaes* A Avenida Paulista é o principal palco político do país. Ontem foi a vez do povo passar frio e exigir as suas demandas. Pedidos objetivos: uma moradia e a manutenção do emprego. Essa é a diferença crucial para os outros eventos dominantes de vários tons de amarelo, tanto nos trajes, como nos cabelos. Esse, por sua vez, pede a abstrata causa do fim da corrupção, a limpeza do mar de lama e o Fora Lula (ele já saiu). Para bombar a festa, contam com apoio de promoters quase onipresentes, seja na TV, rádio e redes sociais. Já o ato de ontem, poderíamos dizer que foi rubro-negro. Vermelho de vestimentas e bandeiras e predominantemente preto de pele. O convite foi quase no boca a boca. A maioria dos presentes eram mulheres e todas com disposição para gritar e reivindicar o seu direito de prover uma condição melhor para a sua família. Muitas delas levaram os nenéns de colo, algumas amamentavam sob o vão livre do Masp. Por outro lado, em algumas semanas atrás, histéricas garotas, com rímel nos olhos e maquiagem impecável, utilizam o mesmo espaço histórico para dar um tapa no cabelo ou fazer uma selfie com a turma feliz. Obviamente numa tarde de domingo. Todos têm o direito de exigir um país melhor. Mas ao ver os rostos tensos - na noite de ontem - de milhares de pessoas que vivem em ocupações, favelas e cortiços dá para perceber quem está do lado certo e querendo um verdadeiro país melhor. O Brasil é racista, ao contrário que um diretor de TV escreveu, então precisamos ir para as ruas, mas nos dias certos, mesmo que faça frio, seja no meio da semana e ainda com garoa para contemplar o cenário dos excluídos. As vias podem ser um palco de atos de verdade, não de matinês com a presença de seres desprezíveis, como miniaturas de ninjas e de coxinhas que passam cheques sem fundos. * Willian Novaes é jornalista Foto de capa: MTST