Um parque ou um shopping center?

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[caption id="attachment_37" align="alignleft" width="300"] Festa do Boi, realizada no Morro do Querosene, poderia ganhar novo espaço: o parque[/caption] Os moradores do Morro do Querosene, zona oeste de São Paulo, enfrentam uma luta pela preservação de um espaço cada vez mais raro na cidade. No bairro há uma área de cerca de 40 mil metros quadrados, com resquícios de mata atlântica e com uma fonte. Mas desde 2008, foi construído um muro, impedindo o acesso ao espaço, onde os moradores costumavam pegar água. Eles defendem não só a retirada do muro, como a criação de um parque. No dia 10 de abril, domingo, eles organizaram um evento com atividades culturais e musicais para chamar atenção pela causa que contou com os artistas que moram ou são ligados ao Morro, reduto da cultura popular brasileira. Estiveram presentes Peixelétrico, Planta&Raiz, Nasi, Dinho Nascimento, Tião Carvalho, Orquestra de Berimbaus do Morro do Querosene, Treme Terra (MC Gaspar Z´África Brasil), Ambulantes, Isca de Polícia, Poesia Maloqueirista, Henrique Menezes (Banda Bom que Dói), Grupo Cupuaçu,entre outros.  No Morro acontecem anualmente as festas do Boi, que chegam a reunir 3 mil pessoas. “Nossa luta não é só preservar por preservar, é para preservar o uso, o acesso, a participação da comunidade, a relação com a natureza”, afirma a diretora da Associação Cultural da Comunidade do Morro do Querosene, Cecília Pellegrini. Ela conta que a área está degradada e que os proprietários nunca habitaram o local, cuja finalidade de mantê-lo seria a especulação imobiliária. “É uma área que não serve a ninguém, precisa ter impostos mais altos.” Os proprietários, por sua vez, afirmaram em matéria no jornal Folha de S. Paulo que pretendem construir um shopping center no local. O que para os moradores seria catastrófico. “Primeiro que o bairro não comporta”, explica Dinho Nascimento, morador há 35 anos. “Sou radicalmente a favor da manutenção do que sobrou”, diz ele, alertando que a área tem uma função importante de captar as águas das chuvas, com a permeabilidade do solo. Além disso, Dinho e os moradores defendem que o parque poderia ser um espaço para abrigar as manifestações culturais. “O Morro já mostrou que é um pólo cultural de São Paulo. Nossa luta é por uma cidade mais humana.” A Associação defende o tombamento da área e a compra do imóvel pela prefeitura para a instalação de um parque ambiental e cultural. Há um processo solicitando o tombamento, ingressado pela Associação, que, segundo Cecília, deverá ser concluído em setembro deste ano. No dia 8 de junho, haverá uma audiência pública para discutir a questão na Câmara dos Deputados, às 10h, no Plenário Prestes Maia (1º andar). Além do movimento cultural e o esforço dos moradores em manter as tradições, vale lembrar que a fonte é uma das nascentes do Rio Pirajuçara, afluente do Rio Pinheiros. A pedido da Associação, a Sabesp (Cia de Saneamento de SP) analisou a qualidade da água. “Ficou comprovado que a água da fonte é puríssima, mineral e potável”, afirma Cecília. Do ponto de vista da história da cidade, na área se constituía um dos caminhos da trilha indígena do Peabiru, que foi utilizada inclusive pelos bandeirantes, jesuítas e tropeiros. A Asscociação Cultural do Morro defende que no local se façam estudos para que as pessoas conheçam a história da cidade.