Um racha inédito no movimento estudantil

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O próximo Congresso da UNE, dia 15 de julho, em Brasília, não pedirá “fora” nada nem ninguém. Muito pelo contrário. Com presença confirmada do presidente Lula e de vários ministros, o evento promete ser uma apoteótica largada para a campanha de Dilma Roussef em 2010. Os dirigentes não se sentem constrangidos em dizer isso. Não há nada de errado, afinal, em não ser “do contra”.
Para dar musculatura ao seu discurso, a septuagenária UNE inovou. Colocou na internet todos os processos eleitorais na base, leia-se nos campi. Cerca de 10 mil estudantes estão inscritos, sendo 5.250 deles delegados eleitos na urna com direito a voto, veto e palavra ao microfone. “No total, cerca de dois milhões de estudantes votaram para escolher seus representantes. Levamos o Congresso da UNE para 100% das PUCs e universidades católicas, e para 100% das públicas”, conta Lucia Stumpf, presidente da UNE.
Não por acaso, a expectativa do governo é que Lula saia de lá aclamado e com uma bandeira para desfraldar em 2010 nessa raia do eleitorado, o ProUni. É que além do tradicional debate sobre mensalidades, cotas e conjuntura internacional, o Congresso acolherá outro “sub-congresso”, o I Encontro Nacional dos ProUnistas. Quem são eles? Os beneficiários do principal programa da era Lula para os universitários. De lá, aliás, deve sair a única “exigência” da UNE para o presidente: a ampliação do programa. Os ativistas querem que 20% das vagas nas universidades privadas fiquem obrigatoriamente com estudantes que ganham até três salários mínimos. De resto, pouco ou quase nada se ouvirá por lá de críticas. Basta ver qual o tema que norteará a passeata de abertura pelas ruas de Brasília: “O Pré-sal é nosso”.
Mas nem tudo serão flores. Pela primeira vez em sua história, a UNE realizará um Congresso sem ser a única entidade brasileira representativa dos estudantes universitários do país. Por iniciativa do PSTU, foi fundada no último dia 15, no Rio, a Assembleia Nacional dos Estudantes Livres (Anel). Já apelidada “Une do B”, a entidade nasceu das invasões de reitoria que contaram com participação ou foram comandadas pelo partido e tem como base três dos principais DCEs do país: os da UFMG, USP e UFRJ. A grosso modo, eles são anti-Lula, anti-UNE, anti-ensino privado, anti-ProUni. Defendem a radicalização da democracia nos campi, com eleições diretas para reitor. E não pensam duas vezes na hora de decidir invadir a sala do reitor. “O governo Lula decepcionou muito a maioria do povo brasileiro. E a UNE hoje é correia de transmissão do governo. O congresso deles, dia 15, será uma festa do governo, financiada pelo próprio governo para alavancar a candidatura da Dilma”, dispara Leandro Soto, estudante da Fatec e um dos dirigentes da recém fundada Anel.
Lado B
A nova entidade, que ainda não tem CNPJ e sede própria, será diferente de tudo que está aí. A começar pela hierarquia. Ao contrário da presidencialista UNE, que formou quadros como José Serra e José Dirceu, a Anel não terá presidente, mas um colegiado aberto. A comissão executiva será escolhida em agosto. O PSTU bem que tentou, mas apenas algumas correntes minoritárias do PSol toparam embarcar na empreitada. Todas as demais forças que disputam o movimento estudantil, inclusive as juventudes do DEM, PSDB e PMDB, optaram por disputar a entidade por dentro.
“A Anel é uma tentativa legítima de tentar organizar os estudantes, mas não condiz com a história de organização do movimento estudantil brasileiro, que sempre teve entidades únicas e democráticas. Essa iniciativa de se organizar por fora é de interesse de um grupo”, argumenta Danilo Moreira, secretário-adjunto da Secretaria Nacional de Juventude da Presidência e ex - presidente do Conselho Nacional da Juventude. Moreira reconhece, porém, que a UNE de hoje é governista, e com muito orgulho. “Do ponto de vista da juventude, o Congresso será a ante-sala do projeto político para 2010, sem ser a extensão pura e simples da candidatura da base do governo”.
A unidade da base do governo para as eleições do ano que vem deve prevalecer sobre a tradicional disputa de foice entre PT e PCdoB pelo comando da União Nacional dos Estudantes. O PT bem que ensaiou um movimento de unidade total para tirar o comando da entidade dos comunistas. Em março, realizou o I Congresso Nacional da Juventude do PT, mas, como diz o ditado, na prática a teoria é outra. A cúpula da União da Juventude Socialista acredita já ter 50% dos delegados. É com esse cacife que está em negociações avançadas com as juventudes do PSB, PDT, PMDB, MR-8 e parte dos “rebeldes” do PT. Oficialmente ninguém confirma, mas até DEM e PSDB devem compor com a UJS na hora de definir os cargos da diretoria para o próximo biênio. “A Juventude do PT passa por um processo de reorganização. Para participação na UNE é importante, já que precisamos ter mais ascendência no movimento estudantil. Apostamos na UNE. Esperamos um processo comum entre todas as forças do partido, inclusive com identidade visual”, diz Severine Macedo, secretária nacional de Juventude do PT. De seu gabinete em Brasília, a ministra Dilma torce por isso. 

Para Todos O Ministério da Educação divulgou no último dia 30 de junho a lista dos candidatos pré-selecionados em segunda chamada para receber uma bolsa do Programa Universidade para Todos, o ProUni. Ao todo, 27 mil estudantes foram convocados na primeira etapa. Para o segundo semestre de 2009, mais de 212 mil candidatos se inscreveram para disputar 91 mil bolsas - 57 mil são integrais e 33 mil parciais, que custeiam 50% da mensalidade.

Estranhos no ninho
A candidatura de José Serra também estará representado no Congresso da UNE, dia 15, em Brasília. De olho em uma vaga na direção da entidade e nas eleições do ano que vem, PSDB, PPS e DEM fundaram O "Bloco Democrático e Reformista", que reúne as juventudes das três siglas. A tendência, pórem, é que o grupo embarque na chapa majoritária da UJS na plenária final, quando se elege a executiva.