Uma cacique disposta a ir ao STF

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Alegre e agitada, a cacique Tanoné Kariri-Xocó, 50, vende seus artesanatos feitos com penas, sementes e capim-dourado em um stand do Fórum Social Mundial com um sorriso nos lábios. Sem parar um minuto, ela contou a luta que trava para proteger sua aldeia nos arredores de Brasília, onde vive desde 1986 com mais 30 pessoas de três etnias Tuxa, Folio e Cariri. O alvo é governo do Distrito Federal que quer retirá-los da área. É neste momento que ela muda o tom de voz e mostra toda sua braveza e coragem para “matar e morrer” se for necessário para ficar no seu chão.

Qual o motivo da sua vinda ao FSM?

Vim acompanhando um grupo que sabe que minha luta na capital do Brasil. Quero falar com as autoridades para resolver nosso caso.

O que você espera daqui?

Fiquei curiosa porque se é um fórum mundial com certeza vão conhecer nossa história e quero saber onde estão os Direitos Humanos para nos proteger. Se eu sou gente, então sou humana e eu exijo meus direitos.

Quais é o problema da aldeia?

Eu estou protegendo área verde, reflorestando com nossas raízes, com as plantas tradicionais da nossa tribo e ele (O governador do Distrito Federal) está querendo destruir para construir uma cidade digital, dizendo que vão manter uma área verde. Tudo isso é mentira.

O que te deixa triste?
É saber que um órgão tão respeitado como o Ibama deve estar sendo comprado por muito dinheiro, porque por pouco só prostituta. Do meu conhecimento, ele foi criado para proteger a natureza e o cerrado que é rico de remédios.

Como se tornou cacique?pectiva de sustentabilidade, em que a sobrevivência da comunidade seja garantida antes da troca/venda dos produtos. “Está comprovado que é possível empreender e agir de maneira justa. Já são várias as experiências em todos os continentes”, comentou Rosemary Gomes, representante da Ripess no Brasil.

A promoção da economia solidária se dá desde 1997. Para acelerar o movimento, foi criado em 2004 a Rede Intercontinental de Promoção da Economia Social e Solidária (Ripess), que promove a organização de encontros intercontinentais em diversos países. Entre os temas a serem debatidos em Belém, destaque para o comércio justo, finanças solidárias, formas de autogestão de empresas, estruturas cooperativas, economia popular, moedas sociais, indicadores de riquezas, redes sócio-produtivas locais, processos e cadeias produtivas, modelo de desenvolvimento sustentável e estratégias frente à crise financeira internacional.

A Feira conta com 400 estandes e 1.000 expositores e o objetivo é alcançar o volume de R$ 2 milhões em negócios realizados. O território da economia solidária contará com palestras, oficinas e seminários, além de uma ampla área de alimentação que pretende vender cerca de 5 mil refeições a cada dia no campus da UFPA.
Porque no meio de tantos homens que havia lá nenhum tinha coragem de jogar o problema na Justiça. Brigavam um com os outros, mas nada de fazer um documento e levar para ser julgado, como a Raposa Serra do Sol. E eu estou disposta a ir até o Supremo Federal, pois não aceito José Arruda e Paulo Otavio me chamar de invasora de terra pública. Eu sou criadora dos meus filhos e cuido dos meus netos.

E os processos?
Temos seis impugnações na Justiça pra que o Ibama não soltasse a licença para ser vendido o território. Nós não vamos sair de lá, nem que o sangue dê no meio da canela. Se tiver que matar ou morrer, eu estou disposta a matar a morrer, mas não saio de lá.

Do que vive sua aldeia?
Vivemos da roça, das frutas. Fazemos nossos artesanatos com as sementes que plantamos e saímos pelas feiras pelo mundo. Este é o nosso emprego e o nosso salário está nossa mão. Onde vou carrego comigo.

Crédito da imagem: Rachel Añón

Envolverde/IPS/TerraViva
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