Uma hora antes da reunião da Alca...

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-Pepito, meu velho, está tudo pronto para os convidados?
— Sim, senhor.
— Eles chegarão dentro de 1 hora e estou um tanto preocupado, você sabe? Nós somos os patrocinadores dessa celebração do livre comércio e é fundamental que nossos parceiros sintam-se em casa. Que mesa é aquela?
— É uma mesa feita com araucárias da floresta paraguaia, senhor.
— Linda mesa, Pepito, linda mesmo! Por outro lado tenho lá no meu escritório uma outra feita pelos carpinteiros do Maine. Acho que ela é mais ampla e acomodaria melhor os nossos convidados, hum?
— Será trocada, senhor.
— Ótimo! E que tem você a me dizer sobre essa toalha?
— Que foi feita a mão por rendeiras guatemaltecas, senhor.
— Mas que belo trabalho! Fico em dúvida, no entanto, se não devemos pôr essa aqui, produzida pela Associação da Terceira Idade de Delaware. Você sabe, isso seria realmente importante para nossas velhinhas.
— Será providenciado, senhor.
— Bem, bem, falemos de comida, que é o mais importante.
— Imaginei uma entrada de pescados caribenhos.
— Que são deliciosos, mas, considerando o custo do frete e as taxas aduaneiras, talvez o melhor seja dar uma força para aqueles estados atrasados do Mississipi. Não considero isso protecionismo, entende? Acho que é apenas um exercício de responsabilidade fiscal e sensibilidade social.
— Teremos churrasco argentino, senhor?
— Não creio, Pepito. Ando meio desconfiado das carnes de lá. Sabe- se lá como são as normas de higiene daquela gente. Fiquemos com o gado texano.
— Como sobremesa, teremos um pudim de laranjas do Brasil.
— Seria maravilhoso se o pessoal da Flórida não estivesse passando por um momento tão delicado. Aqueles tornados, você sabe... Acho que uns muffins de blueberry darão conta do recado.
— Pensei em vinhos chilenos como acompanhamento, senhor.
— Bom Deus, Pepito, são excelentes, muito boa escolha! Mas veja, o pessoal da Califórnia não teve o desempenho que esperava nesse ano, então talvez fosse uma oportunidade para fazermos uma promoçãozinha, não acha?
— Café da Colômbia para o arremate?
— Não, não, Pepito, está muito quente. Acho melhor bebermos a nossa boa e velha Coca-Cola.
— Entendido, senhor.
— Estou excitadíssimo para esse encontro, Pepito. Se a Europa conseguiu uma união econômica tão próspera e eficiente não vejo por que não poderíamos conseguir alguma coisa por aqui também, se é que você me entende.
— Certamente.
— Então vá se preparar, Pepito, uma noite ocupada nos espera.
— Não sei se ela me espera, senhor. Tenho aquela reunião com o pessoal da Imigração.
— Minha nossa, é verdade! Seria uma desgraça se você fosse deportado após tantos anos de bom trabalho aqui conosco. Enfim, se você não puder continuar na América, espero que seja muito feliz na volta ao Panamá. “Que vaya com Dios”, acertei?
— Acertou. Mas eu sou de Honduras, senhor.
— Sim, sim, Honduras, pela graça de Deus. É que vocês lá de baixo são tão parecidos. E como é mesmo aquela música que vocês gostam? Ah, lembrei! É assim: “La cucaracha, la cucaracha, ya no puede caminar, porque no tiene, porque no tiene, sus patitas para andar.” Ah, vocês são demais, Pepito!