Wall Street Journal, Haddad e o óbvio ululante

Fernando Haddad no dia mundial sem carro. Foto. Secom Prefeitura
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Elogio de periódico dos EUA evidencia que o petismo não é nem tão de esquerda, nem tão inovador. A direita brasileira, sim, é que talvez seja muito primitiva Por Wagner Iglecias Em sua edição desta quarta-feira o The Wall Street Journal, um dos mais importantes jornais do mundo, publicou matéria em que chama o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, de visionário. A reportagem refere-se à política da prefeitura de São Paulo de criação de ciclofaixas em várias partes da cidade. É o reconhecimento do sucesso do programa e também da guerra que Haddad comprou com a direita paulistana ao começar a modificar o modal de transportes da maior metrópole do Hemisfério Sul, composto por uma frota de mais de 6 milhões de automóveis a sufocar a mobilidade de 12 milhões de pessoas. A matéria é também, obviamente, um trunfo para o marketing eleitoral do prefeito na eleição de 2016, quando ele será candidato à reeleição contra um punhado de candidatos desta mesma direita. O fato da reportagem ter sido publicada no prestigioso jornal norte-americano é mais um daqueles episódios divertidos na luta entre o petismo e os seus adversários. Pela simples razão de que fatos assim desnorteiam a direita, que sempre teve nos EUA o seu referencial de país, de cultura e de sociedade. Ao ler essa matéria do WSJ lembrei-me da ocasião em que Barack Obama declarou que Lula era “o cara” e presenciei diversos tucanos conhecidos meus tentando desqualificar a fala do presidente norte-americano. Uns disseram que Obama fora mal interpretado, outros que a frase fora traduzida de forma errada. Com essa matéria do WSJ não deverá ser muito diferente. Aliás, será hilário também ver veículos e articulistas da imprensa local, que batem nas ciclofaixas de Haddad dia sim outro também, tentando desmerecer a reportagem do jornal norte-americano. Mas voltando a Haddad, é bom dizer que ele não está inventando a roda. Não é preciso ir a Amsterdã, Estocolmo ou Nova York para se dar conta de que ciclofaixas existem em todas estas cidades há muitos anos. Um passeio aqui pela vizinhança mesmo, por Bogotá, Quito ou Santiago, nos mostra que ciclofaixas e a disponibilização de bicicletas públicas para a população não são exatamente uma novidade. Ainda que a matéria do The Wall Street Journal afirme que se fosse prefeito de San Francisco, Berlim ou alguma outra metrópole progressista Haddad seria considerado um visionário urbano, o que no fundo a reportagem ressalta, dados os baixíssimos índices de popularidade do prefeito, é o caráter conservador de grande parte da população de São Paulo (e de boa parte de sua mídia também). Afinal, as ciclofaixas paulistanas, bem como várias políticas implementadas pelo PT a nível nacional, ainda que de socialistas não tenham nada, são rechaçadas com todo o ódio pela direita. A conclusão, cada vez mais evidente, é de que o petismo não é nem tão de esquerda, nem é a assim tão inovador. A direita brasileira, sim, é que talvez seja muito primitiva. Wagner Iglecias é doutor em Sociologia e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP. Foto de capa: Fernando Pereira/Secom